Portugal é um país amigável para migrantes venezuelanas, considera activista

Portugal é exemplo entre países com menos tráfico de mulheres e confere boas oportunidades de trabalho a quem foge da crise na Venezuela, acredita a antropóloga e activista Daniela Inojosa.

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"Vemos com muita preocupação a desigualdade das mulheres venezuelanas no estrangeiro", diz Inojosa, directora da ONG feminista Tinta Violeta Luisa Gonzalez/REUTERS
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A antropóloga e activista feminista Daniela Inojosa disse à Lusa que Portugal é um país amigável e com melhores oportunidades de trabalho para as mulheres que abandonam a Venezuela para escapar da crise política, económica e social.

"Portugal é um dos melhores países para emigrar, porque tem políticas internas que igualam os emigrantes aos nacionais [portugueses] e que lhes permitem ter oportunidades laborais decentes, dignas, em condições, mesmo quando não têm [visto de] residência", afirmou.

As declarações de Daniela Inojosa foram realizadas à margem de uma iniciativa da delegação da União Europeia (UE) na Venezuela, que assinalou o Dia Internacional da Mulher com vítimas de violência baseada no género, de sete freguesias de Caracas, num encontro em que foram abordados projectos financiados que garantam vidas dignas.

Um dos projectos será executado em 36 meses e conta com o apoio de quase um milhão de euros da UE, através da ONG Tinta Violeta, da cooperativa Transformação, Mulheres e Comunidade (Tramuco) e de 52 empreendimentos de mulheres.

A mesma responsável, que é também directora da ONG Tinta Violeta, explicou que os portugueses fazem com que "as desigualdades se equilibrem" e afirmou ainda que Portugal é um exemplo dos países com menos tráfico de mulheres.

"Portugal foi um povo de migrantes. Muitos portugueses migraram muito não apenas para a Venezuela, como também para o Brasil, para o México, para outros países do mundo e, sobretudo, para a América Latina. (...) A nossa relação cultural é muito mais próxima. Somos mais parecidos", frisou.

Daniela Inojosa sublinhou que tanto os que migram como os que os acolhem devem entender que os migrantes são importantes para o desenvolvimento da economia dos países, principalmente dos que "não estão a produzir tantos cidadãos nacionais", e que os imigrantes sustentam a Segurança Social local.

"Há países que ainda não fizeram contas, porque a população europeia está a envelhecer cada vez mais. E quando as pessoas envelhecem, precisam de apoio, de um sistema de Segurança Social que suporte esses cuidados. Há cada vez menos nacionais em idade activa e são os migrantes a produzir para manter esse sistema de Segurança Social a funcionar, em movimento", disse.

Sobre a Tinta Violeta, explicou que é uma organização feminista que se dedica a combater a "violência baseada no género, a violência machista", e a fazer do "empoderamento económico das mulheres um caminho para sair da violência" e da dependência "dos seus agressores".

"As mulheres avançaram muito, em muitos países, mas este progresso ainda não é tudo o que é necessário. Igualdade também significa equidade e a verdade é que não nascemos com as mesmas oportunidades nem as mesmas condições, e isso é muito mais grave para as mulheres pobres", disse.

E explicou que as mulheres fazem jornadas de trabalho em condições desiguais, obrigadas a dedicar mais tempo a outras coisas que não a elas próprias ou aos seus projectos, e têm de cuidar dos filhos.

"Vemos com muita preocupação a desigualdade das mulheres venezuelanas no estrangeiro, o medo que têm, a violência a que estão expostas. Muitas, quando não têm documentos legais para conseguir um emprego, são forçadas a recorrer à prostituição, e muitas são violadas no estrangeiro porque são tidas como mais débeis e menos importantes do que as mulheres do país", disse.

Por isso, frisou, é preciso fazer o mundo entender as desigualdades dos migrantes e como isso afecta as pessoas, principalmente o corpo das mulheres.

"Quando nós, mulheres, não temos mais nada para vender, vendemos o nosso corpo. E isto está a acontecer muito com as mulheres migrantes. É uma questão pela qual todos somos responsáveis. E temos de ver como garantir que migrar não significa entrar num ciclo de violência constante", disse.