Biden diz que Netanyahu está “a prejudicar mais do que a ajudar Israel”

Presidente dos EUA avisa Israel contra uma ofensiva em Rafah antes da retirada dos mais de um milhão de refugiados na cidade. Ao mesmo tempo, reafirma que nunca abandonará a defesa de Israel.

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Joe Biden num comício de campanha na Georgia, na noite de sábado Reuters/Evelyn Hockstein
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O Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, "está a prejudicar mais do que a ajudar Israel", ao não tomar as precauções necessárias para evitar um elevado número de mortes de civis na Faixa de Gaza.

Numa entrevista ao canal norte-americano MSNBC, transmitida no sábado, Biden repetiu as críticas que tem feito a Netanyahu nos últimos meses, ao mesmo tempo que reafirmou a política de defesa intransigente de Israel perante as ameaças ao país no Médio Oriente.

Há muito que o Presidente dos EUA vem alertando que o elevado número de mortes de civis em Gaza pode acabar por enfraquecer o apoio internacional a Israel, que lançou uma guerra contra o Hamas na sequência de um ataque do movimento islamista palestiniano em território israelita, a 7 de Outubro de 2023, com pelo menos 1200 mortos e 250 reféns.

A campanha de bombardeamentos de Israel e a incursão do Exército israelita na Faixa de Gaza nos últimos cinco meses já fizeram mais de 30 mil mortos, a maioria mulheres e crianças, segundo os números do Ministério da Saúde de Gaza, liderado pelo Hamas.

O elevado número de mortes e a crise humanitária em Gaza têm levado uma parte importante do eleitorado do Partido Democrata — os jovens progressistas e as comunidades árabo-americana e muçulmana dos EUA, cujos votos foram essenciais para a vitória de Biden na eleição de 2020 — a ameaçar um boicote à próxima eleição presidencial.

Se isso acontecer, o Presidente dos EUA arrisca-se a ser derrotado por Donald Trump em estados como o Michigan, que vai ser crucial para os resultados finais da eleição, e onde reside a maior comunidade árabo-americana e muçulmana do país.

Pela primeira vez desde o início da guerra, Biden declarou, na entrevista de sábado, que há uma linha vermelha que o Governo israelita não deve ultrapassar, apesar de garantir, ao mesmo tempo, que a sua Administração "nunca irá abandonar" Israel.

Para os EUA, a linha vermelha está traçada à volta da cidade de Rafah, no Sul da Faixa de Gaza, onde mais de um milhão de pessoas estão refugiadas, em fuga dos ataques israelitas no Norte.

"Não podemos ter mais 30 mil palestinianos mortos", disse Biden, numa tentativa de pressão para que o primeiro-ministro israelita não ordene um ataque contra Rafah.

No entanto, "a defesa de Israel continuará a ser crítica", mesmo que Netanyahu ultrapasse essa linha vermelha, indicou o Presidente dos EUA. Se isso acontecer, os EUA admitem repensar o envio de armas para Israel, mas nunca privarão o país do equipamento necessário para manter a Cúpula de Ferro — o sistema de defesa israelita que protege o país dos rockets disparados a partir de Gaza.

A entrevista de Biden à MSNBC foi gravada depois de o Presidente dos EUA ter dito que vai ter uma "conversa séria" com Netanyahu. O comentário de Biden, feito em conversa com o senador Michael Bennet, do Colorado, após o discurso sobre o Estado da União, na noite de quinta-feira, foi captado pelos microfones da sala da Câmara dos Representantes, aparentemente sem o seu conhecimento.

"Não repita isto, mas eu disse-lhe 'Bibi, tu e eu vamos ter uma conversa come to Jesus'", disse Biden na quinta-feira, referindo-se a Benjamin "Bibi" Netanyahu e usando uma expressão que, segundo explicou no sábado, significa "ter uma conversa séria".

Quanto à hipótese de uma trégua de seis semanas em Gaza, defendida pelos EUA, Biden disse ser "possível" que aconteça durante o mês do Ramadão, que começa na segunda-feira.

"Eu falei com a maioria dos líderes árabes, desde a Arábia Saudita ao Egipto e à Jordânia, e todos eles estão preparados para reconhecer o Estado de Israel e começar a reconstruir a região", afirmou o Presidente dos EUA.

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