Vem aí mais uma tourada com anões. Em Espanha foram proibidas, cá são legais

“Não é uma verdadeira tourada, é só uma brincadeira com touros pequenitos. Respeitamos os anões”, diz comissão de festas de freguesia de Barcelos. PAN fala em grave atropelo aos direitos humanos.

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Grupo cómico-taurino espanhol Diversiones en el Ruedo DR
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Apesar da polémica que este tipo de evento tem criado, vem aí mais uma tourada com anões. Desta vez está marcada para uma freguesia de Barcelos, para o próximo dia 16 de Junho, um domingo.

Ao contrário do que sucede em Espanha, que proibiu tanto estes como outros espectáculos que se revelem humilhantes para as pessoas com deficiências, a lei portuguesa continua a permitir a realização dos chamados “espectáculos de humor taurino”, qualificados em 2022 pelo ministro da Cultura, Adão e Silva, como sendo “atentatórios da dignidade humana e contraditórios com tudo o que importa defender no plano das políticas de inclusão”.

Essa é também a opinião da líder do PAN, que depois de saber da marcação de um novo espectáculo, desta vez em Abade de Neiva, Barcelos, diz que vai denunciar o caso e questionar quer a Inspecção-Geral das Actividades Culturais, quer a Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género sobre o que considera constituir “um grave atropelo aos direitos humanos”.

Apesar de o PAN defender a abolição de todas as touradas, o seu programa eleitoral nada diz sobre esta modalidade, na qual, em vez de animais adultos, são bezerros, não existindo recurso a bandarilhas. “Enquanto esta actividade não é toda abolida, deve ser feita uma alteração legal a proibir as touradas com anões”, diz a dirigente do PAN, que não é sensível ao argumento destes profissionais de que têm de ganhar a vida de alguma forma.“O que deve ser feito é promover a inclusão laboral, em vez de se permitir que as pessoas sejam ridicularizadas por causa das suas características físicas”, argumenta Inês Sousa Real.

Foi a plataforma abolicionista Basta que descobriu onde se irá realizar o mais recente evento. Em comunicado, os activistas apelam ao Estado português para que proíba “este tipo de espectáculos degradantes com pessoas com nanismo” e insta a Inspecção-Geral das Actividades Culturais a impedir a sua realização, por “não cumprir com as determinações impostas no regulamento tauromáquico”, nomeadamente quando não limita a idade de quem pode assistir ao evento.

O coordenador da plataforma, Sérgio Caetano, não consegue estimar quantas touradas com anões se realizam por ano. Mas explica que com a sua proibição em Espanha é expectável que os profissionais do sector, maioritariamente espanhóis, passem a investir mais em Portugal, como também estão a fazer em relação a França.

O empresário que está a promover a tourada de Abade de Neiva, José Razão, afirma que espera realizar mais eventos do género este Verão. “Já fazemos touradas com pessoas pequenas desde 2005 e nunca ninguém se insurgiu contra os meus espectáculos”, garante, explicando que eles não implicam qualquer género de violência. “Os touros só têm de correr atrás dos anões”, diz.

Na comissão de festas da Senhora da Abadia, que deverá pagar qualquer coisa como até 12 mil euros pelo espectáculo, também ninguém percebe a polémica. “Se estiver bom tempo, fazemos duas touradas, uma no sábado e outra no domingo. Se chover, não se faz nada”, refere um dos membros da comissão, Albino Abilheira, adiantando que tanto a empresa de têxteis onde trabalha como outras firmas locais deverão financiar o evento comprando bilhetes para os seus trabalhadores.

“A câmara municipal já passou licença para o espectáculo”, adianta. “Não é uma verdadeira tourada, é só uma brincadeira com touros pequenitos, como no Verão passado em Viana do Castelo. Nós respeitamos os anões.”

Essa não tem sido, no entanto, a opinião nem do Observatório da Deficiência e Direitos Humanos, que a propósito de uma destas touradas falava em 2022 em “grave retrocesso civilizacional”, nem da Associação Nacional de Displasias Ósseas, igualmente muito crítica deste tipo de eventos.

Contactado pelo PÚBLICO, o ministro da Cultura decidiu não se pronunciar desta vez sobre o assunto, alegando que o espectáculo só ocorrerá em Junho, já depois de terminar o seu mandato. Segundo a legislação aprovada no ano passado em Espanha, “são proibidos os espectáculos ou actividades recreativas em que as pessoas com deficiência sejam utilizadas para provocar escárnio e a ridicularização, contrariando o respeito pela dignidade humana”.

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