Mulheres representam apenas um quarto dos comentadores políticos das televisões
Mulheres comentadoras são muito menos “conotadas politicamente do que homens”. Em todos os espaços de comentário televisivos apenas 24% são mulheres, menos do que em 2022, mas mais do que em 2016.
Os comentadores políticos nas televisões aumentaram 47% nos últimos oito anos, de 53 para 78, a maioria é de direita e apenas um quarto são mulheres, revela um estudo do MediaLab do ISCTE que foi divulgado na quinta-feira.
Em oito anos, registou-se “um maior predomínio de número de comentadores com posicionamento político à direita” nas televisões, passando de 22 em 2016 para 37 em 2023, concluiu o MediaLab, centro de investigação do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e a Empresa (ISCTE-IUL) focado na comunicação em espaço público.
Em 2016, havia uma ligeira vantagem favorável aos comentadores fixos de esquerda (23 contra 22), mas em 2023 a tendência mudou e o predomínio é da direita (37 contra 25). Havia ainda oito comentadores com orientação política não identificável há oito anos e 16 no ano passado.
O estudo “Comentário Político nos Media 2023” conclui ainda que existe um “desequilíbrio abissal” em termos de género, sendo que três quartos dos comentadores são homens, realçando-se que “as mulheres comentadoras são muito menos conotadas politicamente do que os homens”.
Em todos os espaços de comentário televisivos apenas 24% são mulheres, menos do que em 2022 (28%), mas mais do que em 2016 (17%).
Os autores apontam como negativa a tendência para um aumento da associação entre jornalistas e comentadores o que “contribui para a confusão sobre o que é jornalismo factual e o que é comentário junto das audiências”.
Do estudo sobressai a conclusão de que “o aumento exponencial dos comentadores e dos espaços de comentário nos últimos anos em televisão” teve como consequência a “diminuição do espaço de informação factual no que toca, nomeadamente, aos canais noticiosos”.
Para os investigadores do MediaLab, a análise do comentário político nos meios de comunicação social é relevante porque “o comentário político, em todas as suas formas, é uma força vital na formação da opinião pública”.
A “elevada média de idades, acima dos 50 anos” é igualmente assinalada por promover “visões políticas que se afastam de facto das preocupações e linguagem de outras faixas etárias da população e potenciam um fosso geracional”, conduzindo a um “afastamento dos mais novos da política”.
O coordenador do MediaLab, Gustavo Cardoso, explica que o alinhamento partidário e político dos comentadores, incluindo jornalistas, que resulta da “informação publicamente disponível”, é determinado por factores como se assumiram posições públicas a favor de candidaturas, se são ou foram militantes de partidos e se foram membros do Governo, deputados.
Os investigadores assinalam que o número de comentadores conotados publicamente com partidos nas televisões não é exactamente proporcional ao número de votos em eleições, o que permite “uma maior visibilidade de visões políticas alternativas”.
Contudo – é afirmado – “considera-se negativo que essa distribuição de lugares de comentário por diferentes atores políticos não resulte num maior equilíbrio entre as forças partidárias, produzindo um acentuado desequilíbrio entre direita e esquerda”.
Se no parlamento PS e PSD representam 85% dos deputados, nos comentários significam 64% do total, concluindo o MediaLab que os partidos nas franjas, à direita e à esquerda, têm mais representatividade do que em São Bento.
Os canais em análise foram RTP1, RTP2, SIC, TVI, RTP3, SIC Notícias, CNN Portugal e CMTV. Em 2023, e quanto às televisões, a SIC Notícias foi o canal de notícias mais equilibrado quanto ao número de comentadores de esquerda e direita.
Este estudo, segundo o MediaLab, insere-se numa investigação centrada na informação com vista à compreensão do discurso político e do contributo que os espaços de opinião e comentário para a constituição de uma esfera pública.