Dez livros feministas para leres no dia da Mulher (e em todos os outros)

De Rapariga, mulher, outra a Novas Cartas Portuguesas, aqui ficam dez sugestões de livros que reflectem sobre o que é ser mulher.

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Dez sugestões de livros para o dia da Mulher Nuno Ferreira Santos
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É uma luta que dura há séculos, que já deu frutos, que ainda falta cumprir. Esta sexta-feira, dia 8 de Março, assinala-se o Dia Internacional da Mulher e aproveitámos o mote para seleccionar dez livros – dos clássicos às autoras contemporâneas – que nos ajudaram a compreender o que é o feminismo de hoje.

Do direito ao voto e à educação ao consentimento e prazer, há um livro para toda a gente: para quem está só agora a descobrir-se feminista e para os convictos que apenas procuram uma nova leitura.

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Rapariga, mulher, outra de Bernardine Evaristo

Publicado em 2019, Rapariga, mulher, outra conta a história de 12 protagonistas – 12 mulheres negras – e as suas vidas em Inglaterra. Cruzando identidade, género e classe — “As gradações de classe na Grã-Bretanha são muito marcadas”, admite a autora em entrevista ao PÚBLICO – o livro vai beber a algumas experiências de Evaristo para reflectir sobre o seu significado. “O racismo é parte disso, mas muitas outras coisas fazem o romance. Quis que fosse verdadeiro face à vida”, admitiu na mesma entrevista.

No ano de publicação deste romance, a autora, actualmente com 64 anos, tornou-se na primeira mulher negra britânica a ganhar o Booker Prize nos 50 anos de história do prémio. Dividiu-o o com Margaret Atwood, autora de A história de uma serva e outro dos grandes nomes da literatura feminista.

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Todos devemos ser feministas de Chimamanda Ngozi Adichie

Em pouco mais de 100 páginas, Chimamanda Ngozi Adichie resume de forma eficaz os princípios que norteiam as principais lutas feministas actuais. Este livro é a adaptação da TedTalk de 2012, e parte da experiência pessoal da autora de origem nigeriana, 46 anos, para ajudar a reflectir, aconselhar e desafiar todos a serem mais feministas.

O segundo sexo de Simone de Beauvoir

É um dos títulos incontornáveis quando se fala de feminismo. Nele, Simone de Beauvoir (1908-1986), filósofa, autora e activista feminista, analisa de forma exaustiva os motores da opressão e discriminação de que as mulheres foram (e são) alvo.

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Um quarto só seu de Virginia Woolf

Mais um livro curto que teve como ponto de partida uma série de palestras – desta vez da autora Virginia Woolf (1882-1941) para uma turma de mulheres da Universidade de Cambridge. Em Um quarto só seu, Woolf teoriza sobre as condições básicas que permitem que uma mulher crie de forma livre num mundo feito por e para os homens – e que pode ser resumido em apenas uma frase, que se tornou célebre: “Uma mulher deve ter dinheiro e um quarto só seu se quiser dedicar-se à escrita.”

Novas cartas portuguesas de Maria Isabel Barreno, Maria Teresa Horta e Maria Velho da Costa

Foi escrito em 1971 a seis mãos pelas “três Marias”, como ficaram conhecidas as autoras Maria Isabel Barreno (1939-2016)​, Maria Teresa Horta (1937) e Maria Velho da Costa (1938-2020). Partindo das cartas escritas por Mariana Alcoforado, freira em Beja, que, mesmo enclausurada, se apaixonou por um soldado francês, o livro percorre vários séculos e estilos de texto – nem todas as entradas são epistolares, algumas são poemas, ensaios, relatórios – para tecer críticas à ditadura e ao papel subserviente da mulher nos anos 70 do século passado.

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O livro afrontou o regime. Ao falar de temas como o prazer feminino, o amor, ou o aborto, foi considerado pela censura como “insanavelmente pornográfico e atentatório da moral pública” e destruído três dias depois de ter entrado em circulação. As autoras foram alvo de um processo judicial.

Maria Teresa Horta, a única das “três Marias” ainda viva, foi a directora do PÚBLICO no seu 34.º aniversário, que teve como tema "Ser mulher em liberdade". “Ser feminista [em 1930/40] era uma coisa aviltante, tanto que diziam ‘você é feminista’, querendo insultar”, lembra, numa entrevista a propósito do aniversário.

Teoria King Kong de Virginie Despentes

Virginie Despentes, escritora e cineasta francesa de 54 anos, não é uma figura consensual. E Teoria de King Kong é prova disso, um livro simultaneamente feminista e que, em partes, faz uma crítica ao feminismo contemporâneo. Despentes, que se descreve como “mais Kong Kong do que Kate Moss”, parte de experiências pessoais (como o tempo em que foi trabalhadora do sexo) para tecer algumas considerações sobre género e sexo, mitos de beleza e rebelião.

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“Dir-se-ia que [os homens] têm medo de confessar a si próprios aquilo de que realmente têm vontade, que é foder uns com os outros”, escreve. “Os homens adoram os homens. Eles estão-nos sempre a dizer quanto gostam das mulheres, mas todas sabemos que é tudo uma treta.”

O acontecimento de Annie Ernaux

Na semana em que o direito ao aborto entrou na Constituição francesa – o primeiro país a consagrá-lo (e protegê-lo) –, Annie Ernaux leva-nos de volta a um tempo em que isso não era uma realidade: 1963. Em O acontecimento (publicado em 1999 e baseado na sua própria experiência), acompanhamos o relato de uma estudante universitária de 23 anos que decide pôr termo a uma gravidez não desejada numa altura em que o aborto era proibido – o que a leva ao hospital. Quarenta anos depois, ainda recorda o trauma.

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O livro foi considerado “uma obra-prima” pelo júri do prémio Nobel, que lhe atribuiu a distinção em 2022. “A sua voz é a da libertação das mulheres e dos esquecidos do século”, escreveu Emmanuel Macron, a propósito da atribuição do Nobel à escritora de 84 anos.

Feminismo de A a Ser de Lúcia Vicente

Esta é a versão “apontamentos Europa-América” do feminismo contemporâneo: de forma simples e directa, Lúcia Vicente (1979), autora e activista feminista, explica a história, momentos marcantes e “personagens principais” que compõem o retrato do que é o feminismo – e também do que não é.

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Não serei eu mulher? de bell hooks

Se ainda não conheces, podes já ir apontando: bell hooks é um nome com que te vais cruzar várias vezes se quiseres saber mais sobre teoria feminista. Em Não serei eu mulher, publicado em 1981, hooks (1952-2021) introduz-nos a um tema que será transversal em toda a sua obra: a invisibilidade da mulher negra. Neste livro, teoriza sobre o impacto do sexismo sobre as mulheres negras: “Quando se fala de gentes negras, a atenção tende a recair nos homens negros; quando se fala de mulheres, a atenção tende a recair nas mulheres brancas”, escreve.

Não serei eu mulher? escancara o duplo rasuramento da mulher negra: como mulher e como sujeito racializado”, escrevia a socióloga Cristina Roldão, num ensaio para o PÚBLICO a propósito da edição portuguesa do livro de estreia de bell hooks, que descreve como “prestigiada, prolífica e corrosiva intelectual e activista negra”. A obra, continua, é “uma crítica retrospectiva aos movimentos feminista e negro desde o final do século XIX até às décadas de 1970 e uma análise reveladora do processo de construção do feminismo negro norte-americano”.

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Apenas miúdos – Just kids de Patti Smith

Chegámos ao momento sexo e rock and roll da lista. Apenas miúdos (publicado em Portugal em 2021) é um livro de memórias da cantora Patti Smith. Descreve o fim dos anos 1960, com Nova Iorque como pano de fundo, pelo olhar de uma Smith imberbe, antes do estrelato, que conhece o fotógrafo Robert Mapplethorpe. Eram “dois jovens à deriva, num compromisso com a arte, dispostos a dormir na rua, a partilhar jantares de pacotes de biscoitos mais leite e café, que se bastavam a si mesmos”, descreve Gonçalo Frota, numa crítica ao livro publicada no PÚBLICO. "É a vida de uma mulher livre a querer ser artista", resume quem o sugeriu para esta lista.

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