UE anuncia corredor marítimo para Gaza, mas não diz qual o local de desembarque
Pelo menos duas pessoas morreram na Cidade de Gaza, atingidas por pacotes de ajuda lançados de avião americano, cujos pára-quedas não abriram.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, está nesta sexta-feira em Chipre, de onde partirá em breve um navio com destino à Faixa de Gaza, mas nenhuma das entidades envolvidas explicou exactamente onde atracarão os navios com ajuda humanitária, já que Gaza não tem um porto funcional.
Na véspera, o Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou a construção de um porto temporário para suprir a falta de um porto funcional no território palestiniano. A construção da estrutura temporária seria feita a partir do mar e não de terra, e não estava prevista qualquer presença militar americana no território.
Entretanto, a iniciativa foi anunciada por uma série de países – além dos Estados Unidos e Chipre (e da Comissão Europeia), também a Alemanha, Grécia, Itália, Países Baixos, Emirados Árabes Unidos e Reino Unido participam, segundo um comunicado conjunto.
“A entrega de ajuda humanitária directamente a Gaza por mar vai ser complexa, e os nossos países vão continuar a avaliar e a ajustar os nossos esforços para garantir que entregamos ajuda do modo mais eficaz possível”, cita o diário israelita Haaretz. “Vamos continuar a trabalhar com Israel para aumentar as entregas por terra, insistindo para que facilite mais rotas e abra mais passagens para que se consiga que mais ajuda chegue a mais pessoas.”
O plano de entregar ajuda por via marítima tem falhas, dizem organizações não governamentais: “Uma rota marítima vai demorar semanas a ser estabelecida e estamos a falar de uma população a sofrer de fome agora. Já vimos crianças morrer de fome”, sublinhou Ziad Issa, responsável pela política humanitária na ONG ActionAid, citado pelo diário britânico The Guardian.
Ainda que nos EUA tenha sido dito que seriam organizações humanitárias no terreno a levar a cabo a distribuição de ajuda, não é explicado como isto resolverá uma das questões que organizações como o OCHA, o Gabinete de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU, apontam: a falta de autorização de Israel para a deslocação de camiões para o Norte, a zona onde a fome é mais aguda e onde os locais estão a recolher ervas onde conseguem para comer depois de terem moído cereais para alimentar animais para fazer farinha.
Joe Biden disse, no discurso do estado da União, em que revelou o plano americano, que “Israel também tem de fazer a sua parte”, e que “tem de permitir a entrada de mais ajuda em Gaza e assegurar-se de que os trabalhadores humanitários não são apanhados no fogo cruzado”, declarou. Biden referiu-se ainda ao enorme número de mortos palestinianos, mais de 30 mil, dizendo que “a maioria não é do Hamas”.
Além disso, prevendo inspecções israelitas no porto de Larnaca, estas mantêm o potencial de atraso da ajuda ou, como diz o Guardian, “dão a Israel uma ferramenta com que regular o fluxo de ajuda em nome da verificação de segurança”.
O jornal admite que isso seja mais difícil de fazer quando o interlocutor for o Exército americano e não responsáveis de ONG. “As pessoas dizem que é uma situação complexa, mas, na verdade, é muito simples”, disse Issa. “Israel não está a permitir que a ajuda chegue à Faixa de Gaza.”
Os meios alternativos de entrega de ajuda – incluindo por via aérea – estão a ser vistos como um modo de mostrar que algo está a ser feito e ainda de pressionar Israel.
Os EUA começaram entretanto a entregar ajuda por via aérea, um meio normalmente reservado para populações cercadas por inimigos, como pelo Daesh na Síria ou no Iraque.
É um meio normalmente reservado para situações extremas em que mais nada é possível, já que não é muito eficaz (uma parte de uma entrega da Jordânia acabou no mar) e pode mesmo ser perigoso: nesta sexta-feira, há relatos de entre duas e cinco mortes na Cidade de Gaza por pacotes de ajuda que caíram sem os pára-quedas terem aberto.