Discurso sobre o Estado da União visto como teste importante à aptidão de Biden
Presidente dos Estados Unidos vai salientar os sucessos do seu mandato e apresentar novas propostas, mas as atenções vão estar centradas mais na forma do que no conteúdo.
Joe Biden desloca-se na próxima madrugada ao Congresso norte-americano para fazer o tradicional discurso sobre o Estado da União, um momento único de atenção mediática que pode ser determinante para desfazer, ou para reforçar, a atitude negativa de uma parte significativa do eleitorado em relação à idade do Presidente dos Estados Unidos.
Este ano, a atenção vai estar virada não só para o conteúdo, mas também para a forma, sendo certo que qualquer deslize será aproveitado pelo Partido Republicano e por Donald Trump para argumentarem perante o país que Biden não tem capacidade para exercer um segundo mandato.
"Não há dúvida de que a questão da vitalidade é central", disse ao site Politico Patrick Gaspard, director do instituto Center for American Progress. "As pessoas esquecem-se das nossas palavras, mas nunca se esquecem de como as fizemos sentir."
Na semana passada, a equipa médica que acompanha o Presidente dos EUA afirmou que Biden é uma pessoa de 81 anos "saudável, activa e robusta" e declarou-o "apto para exercer as funções". No relatório, os médicos dizem que Biden "executa todas as suas responsabilidades sem quaisquer limitações".
Apesar das garantias médicas, uma sondagem da empresa Morning Consult para a Bloomberg, publicada em Fevereiro, indica que 83% dos inquiridos olham para Biden como alguém "demasiadamente velho" para ser Presidente dos EUA. Em relação a Trump — que fará 78 anos dentro de três meses —, apenas 43% dos inquiridos dizem o mesmo.
"Nunca como agora as palavras foram tão pouco importantes num discurso sobre o Estado da União", disse Jim Manley, um estratego do Partido Democrata, à revista Time. "O que importa, neste caso, é mostrar a toda a gente que Biden está preparado para mais quatro anos de mandato."
O Partido Republicano, principalmente a sua ala radical, com Trump à cabeça, tem conseguido imprimir no eleitorado a ideia de que Biden está em acelerado declínio cognitivo, apesar da inexistência de provas nesse sentido. Biden, um político que iniciou a sua carreira há mais de 50 anos, sempre foi conhecido por cometer gafes mais ou menos comprometedoras, e desde criança teve de aprender a disfarçar a sua gaguez.
"Pode ser uma situação debilitante", disse o Presidente dos EUA, em 2020, durante a campanha para a eleição presidencial desse ano. "Ainda hoje dou por mim a gaguejar quando me sinto muito cansado."
Aborto e imigração
No discurso sobre o Estado da União, com início marcado para as 2h da madrugada de sexta-feira (21h desta quinta-feira em Washington D.C.), o Presidente dos EUA vai salientar os sucessos do seu mandato e vai apresentar ao país uma visão para um eventual segundo mandato.
Em destaque, segundo os media norte-americanos, vão estar temas internacionais como as guerras na Ucrânia e em Gaza, mas principalmente questões internas relacionadas com a economia, a imigração e o direito ao aborto.
As questões mais complicadas para Biden, no contexto de uma dura campanha presidencial que, ao que tudo indica, será travada novamente contra Trump, são o apoio a Israel e as políticas de imigração.
No primeiro caso, o Presidente dos EUA precisa de encontrar um difícil equilíbrio entre o apoio da sua Administração ao Governo israelita e o profundo descontentamento dos eleitores mais jovens do Partido Democrata com a situação na Faixa de Gaza. Uma parte deste eleitorado da ala progressista, que foi essencial para a vitória de Biden em 2020, ameaça ficar em casa na eleição de Novembro se Biden não exigir um cessar-fogo a Israel.
A imigração é outro ponto sensível para o eleitorado progressista. Depois de ter prometido pôr fim às políticas anti-imigração de Trump quando chegou à Casa Branca, Biden endureceu o discurso nos últimos meses, e vai tentar, na próxima madrugada, colar o Partido Republicano ao falhanço de um acordo para a reforma das políticas de imigração.
Este novo posicionamento — que levou Biden a admitir encerrar a fronteira em situações especiais, se os republicanos aceitassem o acordo que está parado no Congresso — pode afastar ainda mais os eleitores jovens e progressistas da eleição presidencial.