Milei prepara-se para fechar maior agência noticiosa da América Latina
Os edifícios da Télam, uma empresa com mais de 700 trabalhadores, já foram encerrados e as actividades suspensas durante uma semana. Milei acusa a agência de fazer “propaganda kirchnerista”.
Os trabalhadores da Télam, a agência noticiosa estatal argentina, que tentaram entrar nos dois edifícios de Buenos Aires da empresa viram as suas portas fechadas pela polícia. Dias antes, o Presidente Javier Milei tinha anunciado a intenção de encerrar a agência de notícias e publicidade, acusando-a de difundir “propaganda kirchnerista”.
A Télam é a maior agência noticiosa da América Latina e a segunda mais importante em castelhano, a seguir à espanhola Efe. Conta com 755 trabalhadores e diariamente distribui em média 500 artigos e 200 fotografias por mais de 800 órgãos de comunicação, segundo o jornal Clarín. É também responsável pela gestão e difusão da publicidade governamental, actualmente suspensa por ordem do Presidente argentino.
Os funcionários da agência receberam na segunda-feira de manhã um comunicado em que era anunciada a suspensão de todas as actividades durante uma semana – o site da Télam está desde então sem funcionar, mostrando apenas uma mensagem de “página em reconstrução”. O Governo diz que os detalhes sobre o processo de encerramento da agência “e o destino dos seus trabalhadores” serão conhecidos nos próximos dias.
O iminente encerramento da Télam é mais um episódio do confronto que Milei abriu com várias instituições públicas, vistas pelo Presidente ultra-liberal como fontes de despesa e pouco eficientes. Milei tem enfrentado uma forte oposição por parte dos sindicatos, que estão contra a generalidade das medidas que pretende implementar com o objectivo de refundar a economia argentina.
Entre elas está uma controversa reforma laboral, que limitava o direito à greve, permitia aumentar a jornada laboral e aumentava o período experimental. O diploma acabou por ser travado por uma decisão judicial.
O gabinete de Milei justifica a decisão de encerrar a Télam com o prejuízo de 20 mil milhões de pesos (cerca de 22 milhões de euros à taxa actual) registado no ano passado. Desde Fevereiro que a agência já estava a ser alvo de uma intervenção financeira, tal como os restantes órgãos de comunicação na esfera estatal.
Mas, no seu discurso de abertura das sessões ordinárias do Congresso, Milei apontou a mira à agência noticiosa, acusando-a de ter “sido utilizada nas últimas décadas como uma agência de propaganda kirchnerista”, referindo-se ao movimento político de esquerda peronista refundado pela ex-Presidente Cristina Kirchner.
Milei, que foi eleito no ano passado depois de derrotar o candidato kirchnerista, Sergio Massa, responsabiliza a esquerda pelo estado calamitoso da economia argentina e propõe uma reformulação radical da estrutura económica do país para travar a inflação de 250% e reverter o défice fiscal profundo.
Por agora, os trabalhadores da Télam têm protestado à frente das instalações da agência e denunciam os planos de encerramento da empresa como um ataque à liberdade de imprensa e à democracia. “O Governo nacional está a levar a cabo um dos piores ataques à liberdade de expressão nos últimos 40 anos de democracia”, declarou a assembleia de trabalhadores em comunicado.
A União de Jornalistas de Buenos Aires também criticou a intenção de Milei, descrevendo o provável encerramento da Télam como um “golpe contra a democracia e a liberdade de expressão”.