Gangs tentam tomar aeroporto de Port-au-Prince
Crise de segurança no Haiti está descontrolada e grupos criminosos ameaçam derrubar o Governo de Ariel Henry. Há mais de 15 mil desalojados só nos últimos dias.
Os membros dos gangs armados haitianos que levaram a cabo vários ataques nos últimos dias tentaram tomar o aeroporto internacional de Port-au-Prince esta terça-feira de manhã, tendo sido travados pelos militares.
A situação no Haiti está a preocupar os países mais próximos que vêem as autoridades locais a passar por grandes dificuldades para retomar o controlo. No domingo, o Governo declarou o estado de emergência e decretou o recolher obrigatório na sequência dos ataques contra duas das maiores penitenciárias do país por grupos armados.
A facilidade com que milhares de detidos conseguiram escapar durante os confrontos expôs a incapacidade das forças de segurança para fazer frente aos grupos criminosos que ameaçam tomar conta do país.
Aproveitando a viagem do primeiro-ministro, Ariel Henry, que acumula o cargo de Presidente interino, os líderes dos principais gangs do Haiti uniram esforços com o objectivo de derrubar o actual governante.
Para isso, os grupos criminosos, unidos sob a égide do chamado “G-9”, querem controlar o aeroporto da capital de forma a impedir o regresso de Henry. O chefe do Governo saiu do país na semana passada para participar numa cimeira regional na Guiana, tendo depois viajado para o Quénia, onde tentou negociar o envio de uma força policial para o Haiti.
“Podemos estar a testemunhar um ponto de viragem, uma vez que os gangs parecem estar a coordenar esforços para derrubar o Governo e enviar uma mensagem de intimidação para os políticos que estão fora não regressarem”, disse o analista do International Crisis Group Diego Da Rin, citado pelo Guardian.
Os voos comerciais domésticos e internacionais estão suspensos por causa da onda de violência, de acordo com a imprensa local.
Esta terça-feira, homens armados tentaram invadir as instalações do aeroporto de Port-au-Prince através de um buraco num muro, mas as forças de segurança conseguiram impedi-los, segundo a BBC.
É incerto, porém, que as forças militares e policiais consigam travar os desígnios dos grupos criminosos, que, de acordo com os especialistas, têm à sua disposição mais e melhores armas. “Os gangs estão a mostrar que conseguem vergar o Haiti sempre que o desejarem”, afirmou Da Rin.
A história recente do Haiti pode ser contada como uma sucessão de crises com poucos intervalos de estabilidade. Em 2021, o então Presidente Jovenel Moïse foi assassinado na sua residência por um grupo de mercenários colombianos, deixando um vácuo de poder que aprofundou a já precária situação política do país.
A presidência foi assumida por Henry de forma controversa e a ausência de eleições – as últimas ocorreram há sete anos – leva a maioria dos haitianos a considerá-lo ilegítimo. A par da crise política, o país caribenho tem assistido a um agravamento da situação de segurança com o crescente poder dos grupos armados que já antes dos ataques mais recentes controlavam grande parte da capital do país.
A onda de violência está a agudizar ainda mais a situação humanitária da generalidade da população, que já enfrentava várias carências. Só nos últimos dias cerca de 15 mil pessoas terão sido forçadas a abandonar as suas casas, muitas das quais foram destruídas durante os confrontos, segundo as Nações Unidas. Os desalojados têm ficado concentrados em campos com abrigos improvisados onde não estão reunidas as condições mínimas de salubridade.
Antes dos ataques mais recentes, a ONU já calculava que 4,4 milhões de pessoas, cerca de 40% da população total, enfrentavam uma situação de “elevada insegurança alimentar”.
A instabilidade no Haiti está a deixar inquietos os vizinhos, a começar pela República Dominicana, nação que partilha a mesma ilha. O Governo de Santo Domingo, que no ano passado deportou milhares de haitianos, disse estar a reforçar a vigilância da fronteira e rejeitou a ideia de instalar campos de refugiados no seu território.
Além disso, vários países chamaram de volta os funcionários das suas embaixadas e aconselharam os cidadãos nacionais no Haiti a regressar ou a evitar deslocações não essenciais.