“As sondagens nesta fase da campanha podem ser enganadoras”
O PÚBLICO falou com Ross Burkhart, professor de Ciência Política na Universidade de Boise, sobre as eleições primárias da campanha presidencial nos EUA.
Como explica a decisão de Nikki Haley de se manter na corrida no Partido Republicano apesar das derrotas que a candidata tem sofrido contra Donald Trump desde o início das primárias?
Nikki Haley conquistou uma parte pequena, mas estável, do eleitorado do Partido Republicano: os "never trumpers", aqueles que não admitem votar em Trump em nenhuma situação. Este eleitorado varia entre os 15% em estados como o Idaho e os 40% no New Hampshire, e é um factor que explica a decisão de Haley e as fragilidades de Trump como candidato presidencial. Apesar de não ter margem para ganhar delegados suficientes nas primárias para ser a nomeada do Partido Republicano, Haley pode construir uma identidade como uma republicana anti-MAGA e posicionar-se para futuras candidaturas à Casa Branca, quando Trump sair de cena.
Além disso, ao manter-se como a única candidata viável contra Trump, Haley pode beneficiar de um abandono de Trump por algum motivo relacionado com os seus processos judiciais. Se isso acontecer, poderá beneficiar de um novo olhar por parte do eleitorado, como uma candidata que se afastou de Trump depois de ter defendido as políticas dele numa primeira fase, quando foi embaixadora dos EUA nas Nações Unidas.
O principal adversário de Joe Biden nas primárias do Partido Democrata parece ser a desconfiança dos eleitores em relação à sua idade. Isso pode ser fatal na eleição presidencial?
A idade de Biden tem sido uma grande preocupação para o eleitorado em todas as sondagens em que essa pergunta foi feita ao longo do último ano. Isto é verdade em ambos os partidos e em quase todos os grupos. Os únicos que se mostram pouco preocupados são os eleitores com mais de 65 anos, que são um eleitorado confiável, num sinal positivo para Biden.
Onde Biden sofre mais é entre os eleitores do Partido Democrata da Geração Z [nascidos a partir da segunda metade da década de 1990], que têm constituído um eleitorado muito motivado na última década. A falta de apoio desta geração a Biden deve-se, sem dúvida, à guerra em Gaza.
Nas sondagens mais recentes, Biden tem registado um ganho de dois a três pontos percentuais em relação a Trump, o que sugere uma melhoria da percepção sobre a economia e um reconhecimento do cepticismo da Administração Biden em relação à estratégia de Israel. Mas Biden tem um longo caminho pela frente para tranquilizar o seu eleitorado.
Essa ligeira vantagem de Trump nas sondagens, a nove meses da eleição presidencial, tem tendência para se manter ou até para aumentar com o decorrer da campanha eleitoral?
A grande maioria do eleitorado americano não está a acompanhar de perto a campanha para a eleição presidencial. Isto deve-se especialmente à falta de umas eleições primárias competitivas, o que não desperta o interesse das pessoas. A afluência às urnas tem sido compreensivelmente mais baixa do que em anteriores eleições primárias, devido à falta de candidatos viáveis. Por este motivo, as sondagens nesta fase da campanha presidencial podem muito bem ser enganadoras, o que poderá mudar nos próximos meses, à medida que cada vez mais eleitores se envolverem no processo eleitoral.
Um factor a favor de Biden é que ele não é Trump, e foi isso que explicou uma parte substancial do seu apoio na eleição presidencial de 2020. Além disso, as sondagens mais recentes indicam que uma parte importante do eleitorado vai deixar de olhar para Trump como um possível futuro Presidente dos EUA se ele vier a ser condenado em algum dos processos-crime em que está envolvido.