O mundo está próximo de mais um branqueamento dos recifes de coral, diz a NOAA

Com as alterações climáticas e o fenómeno El Niño, os recifes do Hemisfério Sul podem sofrer um branqueamento nos próximos meses que pode ser o “pior da história do planeta”.

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O próximo branqueamento de corais pode ser o pior de sempre, avisam cientistas Maria Alejandra Cardona/Reuters
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O mundo pode estar prestes a assistir a um quarto episódio de branqueamento dos corais, o que pode levar à morte de grandes extensões dos recifes, incluindo da Grande Barreira de Coral na Austrália, segundo a Administração para o Oceano e a Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês) norte-americana. Os biólogos marinhos estão em alerta máximo após meses em que foram registadas temperaturas recordes dos oceanos, alimentadas pelas alterações climáticas e pelo fenómeno climático El Niño.

"Parece que todo o Hemisfério Sul vai provavelmente sofrer branqueamento este ano", disse o ecologista Derek Manzello, coordenador do Coral Reef Watch da NOAA, que funciona como autoridade global para a monitorização do risco de branqueamento dos corais.

"Estamos literalmente à beira do pior fenómeno de branqueamento da história do planeta", alertou. Esta informação não tinha sido referida anteriormente.

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Parte da Grande Barreira de Coral, na costa de Queensland, na Austrália, é visível nesta foto. As imagens aéreas mostram a dimensão do branqueamento destes corais Programa Copérnico da União Europeia/Sentinela-2

Desencadeado pelo stress térmico, o branqueamento dos corais ocorre quando os corais expulsam as algas coloridas que vivem nos seus tecidos. Sem estas algas úteis, os corais tornam-se pálidos e ficam mais vulneráveis à fome e a doenças.

O branqueamento dos corais pode tornar-se devastador para o ecossistema oceânico. Além disso, pode ser também prejudicial para a pesca e para as economias baseadas no turismo que dependem de recifes saudáveis e coloridos para atrair mergulhadores e praticantes de snorkeling.

Sinais preocupantes

O último fenómeno global de branqueamento em massa de corais decorreu entre 2014 e 2017, período durante o qual a Grande Barreira de Corais perdeu quase um terço dos seus corais. Os resultados preliminares sugerem que cerca de 15% dos recifes do mundo registaram grandes perdas de corais durante este período.

Este ano parece estar para ser ainda pior: é o que se entende à medida que as observações vão chegando.

Depois do Verão do ano passado no Hemisfério Norte, as Caraíbas registaram o pior branqueamento de corais de que há memória.

Agora, no final do Verão, "o Hemisfério Sul está basicamente a branquear por todo o lado", disse Derek Manzello. "Toda a Grande Barreira de Coral está a ficar descolorada. Acabámos de receber informações de que a Samoa americana está a descolorar."

Outros eventos anteriores de branqueamento global ocorreram em 2010 e 1998. O branqueamento dos corais está muitas vezes ligado ao fenómeno climático El Niño, que ocorre naturalmente (mas que é amplificado pelas alterações climáticas) e que conduz a águas oceânicas mais quentes.

No entanto, o mundo também acaba de registar o seu primeiro período de 12 meses com uma temperatura média superior a 1,5 graus Celsius acima dos níveis pré-industriais. Num período de tempo mais longo, acredita-se que um aumento de 1,5ºC seja o ponto de viragem para a extinção em massa de corais, com os cientistas a estimarem que 90% dos corais do mundo se possam perder.

Inspecções no terreno

Para que um acontecimento destes seja considerado global, o branqueamento generalizado deve ocorrer em três bacias oceânicas — Atlântico, Pacífico e Índico.

Os cientistas avaliam os dados da temperatura à superfície do mar e as imagens de satélite para determinar se os píxeis dos recifes estão a ultrapassar os limiares-chave do branqueamento.

Para ser compreendido como um evento global de branqueamento em massa, é necessário que uma determinada percentagem de píxeis de recifes revele um nível de stress térmico em cada bacia oceânica. Com base apenas nessa definição, "tecnicamente, já estamos lá" em 2024, disse o ecologista Derek Manzello.

No entanto, Derek afirma que a NOAA ainda está à espera da confirmação final dos cientistas que estudam o oceano Índico ou de fotografias dos recifes do oceano Índico para que se considere mesmo que se trata do quarto evento de branqueamento em massa.

Na Grande Barreira de Coral da Austrália — que registou seis eventos de branqueamento localizados desde 1998 —, os cientistas estão a realizar sobrevoos do recife para determinar a extensão do branqueamento.

Até agora, as recolhas de dados aéreos revelaram um extenso branqueamento de corais na região de Keppels e nos grupos Capricorn-Bunker, disse Joanne Manning, porta-voz do Instituto Australiano de Ciências Marinhas.

"Os avistamentos aéreos prosseguem, uma vez que o branqueamento dos corais foi registado em todas as zonas do parque marinho, com diferentes graus de gravidade", explicou, acrescentando que o objectivo é concluir os sobrevoos nas próximas semanas e alargar os levantamentos sobre o estado dos corais na água.