Cadeiras abstractas

Agora não são precisos fascistas para servir uma oligarquia, o capital faz isso sem rosto, e nós deixamos de perceber contra quem lutar.

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— Sim, dantes era assim — dizia a Alexandra. — Fazia-se barulho a mastigar com a boca aberta, quando havia o que comer, está claro, e cuspia-se no chão e limpava-se a boca à manga da camisa, palitavam-se os dentes e limpava-se o ouvido com a unha do mindinho, e, porque a vida era áspera, eram ásperos também os gestos, que, mesmo quando denunciavam ternura, aleijavam: em criança doía ser penteado. Não havia muita noção do contexto, que por isso não era questionado, para muitos não havia violência doméstica, o que havia era o quotidiano, a vida como ela era, normal ou normalíssima, onde as noites se sonorizavam com os gritos de uns vizinhos e o silêncio complacente de outros. A vida melhorou bastante nas últimas décadas, dentro e fora de nós.

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