Alemanha diz que fuga de informação é parte da “guerra” da Rússia

Moscovo teve acesso à gravação de uma reunião de militares de topo alemães que discutiam envio de mísseis de longo alcance para a Ucrânia e a possibilidade de um ataque contra a ponte Kerch.

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Olaf Scholz não quer enviar mísseis de longo alcance Taurus para a Ucrânia Reuters/Matthias Rietschel
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A fuga de informação sobre uma reunião entre oficiais do Exército alemão, cujo teor foi divulgado pela Rússia, é um “ataque” que tem o objectivo de dividir a Europa, segundo o Governo alemão. O Kremlin acusa a Alemanha de estar a planear atacar o território russo.

A divulgação na sexta-feira de uma gravação de uma reunião entre alguns dirigentes das forças armadas alemãs continua a gerar ondas de choque. O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, acusou a Rússia de estar a travar uma “guerra de informação” com a Alemanha por ter interceptado e difundido informações militares confidenciais.

O objectivo de Moscovo, disse Pistorius esta segunda-feira, “é usar esta gravação para nos desestabilizar e enervar”. “Espero que [o Presidente russo, Vladimir] Putin não o consiga”, acrescentou.

Na sexta-feira, a directora do canal RT, Margarita Symonian, muito próxima do Kremlin, divulgou na rede Telegram uma gravação de 30 minutos de uma reunião entre quatro oficiais de topo da Bundeswehr, as forças armadas alemãs, em que era discutida a possibilidade de envio de mísseis Taurus para a Ucrânia.

A fuga de informação surge num momento sensível em que o debate sobre o envio dos Taurus para a Ucrânia domina a actualidade na Alemanha. O chanceler Olaf Scholz já mostrou oposição à ideia por considerar que não é possível fornecer este tipo de mísseis sem o envolvimento de militares alemães, arriscando uma participação directa da Alemanha no conflito.

No entanto, mesmo dentro do Executivo alemão há quem discorde desta posição, como a ministra dos Negócios Estrangeiros, Annalena Baerbock, que ainda esta segunda-feira disse que o Governo deve “ponderar intensivamente” o envio dos mísseis alemães para a Ucrânia.

Na reunião, os oficiais discutiam de que forma é que os sistemas de mísseis de fabrico alemão podiam ser usados para destruir uma ponte “no Leste” que está a ser identificada como a ponte Kerch, que liga a Rússia à Península da Crimeia, anexada por Moscovo há uma década. Segundo os militares alemães, seria possível destruir a infrae-strutura, mas seriam necessários entre dez e 20 mísseis.

Durante a conversa é ainda mencionada a presença de “alguns” militares britânicos no terreno na Ucrânia, destacados para apoiar as forças ucranianas a operar os mísseis de longo alcance Storm Shadow, enviados pelo Reino Unido.

O encontro ocorreu em meados de Janeiro e, segundo a imprensa alemã, serviu para preparar uma reunião entre o comandante da Luftwaffe, Ingo Gerhartz, com o ministro da Defesa. Os oficiais falavam através da plataforma Webex, considerada pouco segura e vulnerável a intercepções.

O Governo alemão vai lançar uma investigação para apurar se houve negligência na forma como a reunião foi conduzida. No sábado, Scholz considerou o incidente “muito grave”.

O objectivo imediato é perceber se houve outras fugas de informação confidencial militar para mãos russas. A União Social Cristã (CSU), partido gémeo da CDU na Baviera, está a ponderar pedir a abertura de uma comissão parlamentar de inquérito sobre o caso.

Esta segunda-feira, o Kremlin acusou a Alemanha de estar a planear atacar o território russo. “As gravações mostram que dentro do Bundeswehr os planos para lançar ataques contra o território russo estão a ser discutidos de forma concreta e substantiva”, afirmou o porta-voz da presidência, Dmitri Peskov.

O responsável disse ainda que o teor das discussões divulgadas “sublinham o envolvimento directo dos países do Ocidente colectivo no conflito da Ucrânia”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros russo disse ter convocado o embaixador alemão em Moscovo, Alexander Graf Lambsdorff, para lhe pedir explicações.

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