Na Amazónia de Benki Piyãko, uma prece pela esperança

Canal Odisseia estreia Guardiães das Florestas. No capítulo da Amazónia, o foco é Benki Piyãko, que reflorestou 200 hectares. Benki “abre a porta” à esperança, diz o realizador ao PÚBLICO.

Screenshot Brésil, Replanter l'Amazonie
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Benki Piyãk à janela da casa que é sede da fundação Yorenka Tasorentsi, que o líder indígena criou Miguel Bermehjo/Lato Sensu Productions
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Incêndio perto dos terrenos de Benki Piyãk perto da cidade de Marechal Thaumaturgo Miguel Bermehjo/Lato Sensu Productions
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Uma criança trepa uma árvore na floresta Miguel Bermehjo/Lato Sensu Productions
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Benki Piyãk durante uma conferência indígena Miguel Bermehjo/Lato Sensu Productions
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Uma vista aérea da floresta da Amazónia Miguel Bermehjo/Lato Sensu Productions
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A cena começa com Benki Piyãko a falar sobre a produção de gado que, hectare a hectare, está a destruir a floresta da Amazónia, e termina com o indígena calado a juntar as duas mãos à frente da boca e a lançá-las para o céu, numa prece que parece querer espantar toda a raiva, toda a tristeza, todo o medo, todo o mal que a sua fala convocou. É um momento forte, que marca o episódio sobre a Amazónia da nova série de cinco capítulos do canal Odisseia Guardiães das Florestas, a estrear-se nesta quinta-feira, às 16 horas.

Benki Piyãko é a personagem central do quarto episódio, que vai para o ar uma semana depois, a 14 de Março, à mesma hora. O indígena vive no estado do Acre, no Brasil, e tem um grande projecto de reflorestação junto à cidade Marechal Thaumaturgo, onde já plantou 200 hectares. No monólogo de quase dois minutos, o guardião conta sobre o poder dos fazendeiros, a corrupção política, a falta de lei, o tráfico de droga, o envenenamento das nascentes dos rios, as ameaças que os defensores da floresta sofrem, o receio que tem em relação ao futuro do seu filho.

Que vida é esta, perante tanta barbárie? Ou, citando o cacique: “Como é que vamos ser felizes?” E com esta pergunta, que surge no meio de uma conversa que não foi programada, torna-se impossível desviar a atenção das suas palavras, do redemoinho complexo que assombra e ameaça um dos locais com maior biodiversidade do mundo, que corre o risco de desaparecer.

Amazónia: aqui mora gente

“Quando estou a filmar documentários, encontro sempre formas de retirar a personagem do seu aparato formal e tento apanhar as suas emoções, porque sei que, se as emoções vierem ao de cima, elas irão tocar muito melhor a audiência e isso pode atiçar uma mudança de comportamento”, diz ao PÚBLICO Luc Marescot, documentarista francês com uma larga experiência em documentários sobre natureza, autor do episódio.

O realizador anda quase sempre com a câmara aos ombros, pronta para gravar, porque sabe que uma cena daquelas pode surgir a qualquer momento. “Tento perceber o que se está a passar usando mais os meus ouvidos do que os meus olhos”, refere Marescot, numa conversa por Zoom. Foi o que aconteceu com Benki Piyãko. “Quando vi que [o que estava a acontecer] estava a levar para [um lugar de] emoção pura, então pensei que este era um momento verdadeiro. Pus de lado o que quer que estivesse no guião e que o canal tivesse acordado e coloquei ali o meu pedaço de emoção.”

Vastidão verde

Guardiães das Florestas e a série de seis episódios O Mundo Invisível das Florestas são a aposta do Odisseia para marcar o Dia Internacional das Florestas, a 21 de Março. O Mundo Invisível das Florestas, que tem estreia marcada para o dia da efeméride, concentra-se em apresentar uma espécie de árvore em cada episódio, como o baobá, em Madagáscar, o carvalho, na França, e o eucalipto, na Austrália.

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Benki Piyãko caminha pela floresta Miguel Bermejo/Lato Sensu Productions

Guardiães das Florestas mostra defensores destes ecossistemas em vários pontos do mundo. Além de Benki Piyako, os espectadores poderão testemunhar as lutas de Twyla, uma indígena dene, no Canadá, contra a mineração ilegal; de Hilarion Kassa Moussavou, xamã do Gabão que defende a ligação espiritual com a floresta; de Tumursukh Jal, um tsaatan da Mongólia que quer proteger os bosques da taiga; e Mundiya Kepanga, chefe indígena da Papuásia-Nova Guiné, que fala sobre soluções que protejam a floresta.

Luc Marescot já esteve em 13 florestas tropicais do mundo. “Visito a Amazónia há muitos anos. Antes, podia ver uma vastidão de verde. Mas agora, quando voo daqui para ali por causa dos documentários, já não vejo essa vastidão, vejo sempre bolsas de árvores cortadas”, diz, acrescentando que o que está a acontecer à floresta é “bastante sombrio”.

Por isso, o realizador defende a necessidade de haver um foco positivo no seu documentário, capaz de incitar a uma mudança. Em Benki Piyãko e no seu esforço de reflorestação, o autor encontrou essa via. “Benki era a pessoa certa para falar sobre o que se está a passar, sobre os incêndios e toda a destruição que vem de diferentes lugares, mas ele também abre a porta: ‘Pode haver uma solução, eu faço isto, se formos milhares a fazê-lo, talvez, no final, haja esperança.'”

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