Diplomacia da UE responsabiliza Israel pela morte de civis que recebiam ajuda em Gaza

Josep Borrell considerou os disparos de soldados israelitas contra civis “injustificáveis”.

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Alguns dos palestinianos feridos enquanto esperavam por ajuda humanitária em Gaza Reuters/Kosay Al Nemer
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Apelando a uma investigação internacional, o serviço diplomático da União Europeia atribuiu este sábado a Israel a responsabilidade pela morte de dezenas de palestinianos, quando tentavam obter sacos de farinha de uma caravana de ajuda humanitária.

"Na passada quinta-feira, mais de uma centena de civis foram mortos e muitos ficaram feridos quando tentavam desesperadamente obter alimentos de uma caravana, muitos deles vítimas de disparos israelitas", lê-se no comunicado do Serviço Europeu para a Acção Externa, assinado por Josep Borrell. "Os disparos de soldados israelitas contra civis são injustificáveis."

"Pedimos uma investigação internacional independente sobre este trágico acontecimento, que permita apurar factos e responsabilidades. De qualquer modo, é responsabilidade de Israel respeitar as regras do direito internacional e proteger a distribuição de ajuda humanitária a civis", insistiu o alto representante para a Política Externa e de Segurança da UE.

Com esta acusação explícita ao exército israelita, Borrell distancia-se da posição expressa na sexta-feira pela presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e pelo presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, que evitaram mencionar Israel como autor dos ataques e apelaram a uma investigação para esclarecer os factos.

Josep Borrell ainda foi mais longe, ao declarar que "a responsabilidade por este incidente é das restrições impostas pelo exército israelita" à entrada e distribuição de ajuda em Gaza. O dirigente europeu também considerou "as obstruções de extremistas violentos à entrega de ajuda humanitária" são responsáveis pela tragédia, sem mencionar explicitamente quem são.

"Este gravíssimo incidente revela que as restrições à entrada de ajuda humanitária contribuem para situações de escassez, fome e doença, mas também para um grau de desespero que gera violência", denunciou.

Os habitantes do Norte de Gaza relatam que começaram a procurar nos montes de entulho e de lixo qualquer coisa para alimentar os filhos e muitas famílias começaram a misturar alimentos para animais e aves com cereais para fazer pão. "Estamos a morrer de fome", disse Soad Abu Hussein, viúva e mãe de cinco filhos abrigada numa escola do campo de refugiados de Jabalia, em declarações à agência Associated Press.

No enclave palestiniano, uma em cada seis crianças com menos de dois anos sofre de desnutrição aguda, "o pior nível de desnutrição infantil em todo o mundo", afirmou esta semana o director executivo adjunto do Programa Alimentar Mundial (PAM), Carl Skau.

O desespero é tão grande que as pessoas invadiram os camiões que transportavam ajuda alimentar para a região e agarraram o que puderam, disse Skau, o que levou o PAM a suspender as entregas de ajuda no Norte do território. "A ruptura da ordem civil, motivada por puro desespero, está a impedir a distribuição segura da ajuda e nós temos o dever de proteger o nosso pessoal", justificou.

Josep Borrell previu ainda "um caos total que tornará impossível a distribuição de ajuda humanitária" se os combates entre Israel e o Hamas não cessarem e se persistir o "desrespeito pelo direito humanitário internacional".

Nesse sentido, apelou a Israel para que elimine as restrições à entrada de ajuda em Gaza e permita o acesso humanitário "livre, desimpedido e seguro" através de todos os pontos de fronteira com o território palestiniano.