País de Gales: Llandudno, no país da Alice

Eis “a terra que inspirou a história da menina que caiu numa toca do coelho e foi parar a uma terra fantástica”, escreve a leitora Antónia de Matos Serôdio.

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Llandudno ANTÓNIA DE MATOS SERÔDIO
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Visitar o País de Gales é como entrar na máquina do tempo. Perde-se a conta a castelos e fortalezas, aos quilómetros de asfalto por entre paisagens verdejantes povoadas de ovelhinhas, às aldeias pitorescas onde não faltam pubs e pontes de pedra, às estradas estreitas e indicações em galês, essa estranha língua de nomes intermináveis.

Procurando lugares imperdíveis do País de Gales, Llandudno ia surgindo nos guias turísticos como local de paragem obrigatória. Ainda de olhos marejados com a beleza de Conwy, lá seguimos sem grandes expectativas. Para grande surpresa, não tardou que nos conquistasse.

Localizada na península de Creuddyn, Llandudno é uma jóia vitoriana, um local saído literalmente de um livro de contos. A terra que inspirou a história da menina que caiu numa toca do coelho e foi parar a uma terra fantástica, essa mesma que estamos a palmilhar,
surpreende-nos a cada esquina, é de uma beleza inesperada. Ou não fosse ela o país da Alice.

Quem não leu já, ou ao menos não ouviu falar, do mais famoso livro de Lewis Caroll que conta a história de Alice, uma menina curiosa que segue um Coelho Branco de colete e relógio, mergulhando sem pensar na sua toca? Pois Llandudno, e a sua paisagem envolvente, serviram de inspiração ao autor de Alice no País das Maravilhas. Conta-se que, em menina, a verdadeira Alice (Alice Pleasance Liddell), e a sua família, de quem Lewis Caroll era amigo, passavam férias nesta estância balnear, outrora lugar de veraneio de famílias abastadas. O livro terá surgido após visitas do autor aos amigos.

A receber-nos, à entrada da cidade, nem mais que a Rainha de Copas, a personagem mais temerosa e temperamental da história.
Sem intimidações, com um misto de espanto e felicidade, logo somos agraciados com a companhia da Alice. Será ela a nossa anfitriã.

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Percorridos apenas meia dúzia de metros, surge uma cidade cinematográfica. Imponente, mas acolhedora. Paisagens inesperadas, de uma beleza singular, quase irreal, remetem-nos para um mundo imaginário, do faz-de-conta. Não apenas pelo que o olhar capta, mas também pela atmosfera envolvente.

Com uma aura de requinte e glamour, algures entre a decadência e o desejo de prolongar tempos áureos, Llandudno impõe uma delicada e ao mesmo tempo vigorosa elegância vitoriana. Ruas amplas, compostas de majestosas construções que denotam, todavia, alguma decadência, um brilho esmorecido fruto dos tempos e da procura turística de outras paragens.

Palmilhámos encantados a cidade, demorámos o olhar nas personagens míticas que a povoam e terminámos junto ao mar. O dia, radioso, convidava a desfrutar do sol e da brisa marinha. Tal como nós, muitos percorriam o passeio marítimo.

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Depois de nos despedirmos do coelho e do chapeleiro louco subimos ao Great Orme, um penhasco mais de 200 metros acima do mar acessível por percurso pedestre, de carro ou de teleférico. O teleférico funciona de Março a Outubro. Lá em cima pode visitar-se a mina de cobre Great Orme Copper Mine. Com mais de 3500 anos, a mina foi descoberta em 1987 e é a maior mina pré-histórica encontrada no mundo.

É um passeio muito agradável, pode subir-se por um dos lados e descer-se pelo outro. Bem no topo, há que apreciar as vistas. E que vistas! A paisagem, numa rotação de quase 360º, é incrivelmente bonita.

Depois do passeio, no centro, há muitos lugares aconchegantes para confortar o estômago com chá, scones e outras iguarias britânicas. Sempre acompanhados da Alice. O tema é de facto o grande ex-líbris da cidade. Ainda que o museu criado em tempos já não exista e a casa de habitação (Penmorfa) da família também tenha desaparecido, Alice está ali
bem presente, quer através de esculturas dos vários personagens do livro ou até de muitos estabelecimentos comerciais que lhe prestam homenagem.

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Voltada para o mar da Irlanda, Llandudno goza de um enquadramento paisagístico privilegiado, mas a sua beleza deve-se também a algumas regras arquitectónicas: os hotéis obedecem a determinados padrões de cores e não há comércio ao longo da orla marítima.
Para além da temática “Alice”, tem como principais atracões o penhasco The Great Orme, a extensa orla costeira e o pier vitoriano, construído em 1876, em arquitectura tradicional galesa. É o pier mais longo do País de Gales. Situa-se no final do passeio marítimo e é precedido de barraquinhas de fantoches, doces, jogos, gelados ou comida típica. De lá, a majestosa linha de hotéis forma uma bela imagem.

Descobrir personagens literárias, fazer passeios de barco, percorrer as encantadoras ruas, onde não faltam restaurantes, geladarias ou casas de chá, passear à beira mar ou subir The Great Orme são motivos suficientes para não perder Lllandudno e o maravilhoso mundo da Alice.

Antónia de Matos Serôdio

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