Seca, chuva e geada: mais azeitona, mas menos azeite é o resultado da última campanha olivícola

Temperaturas elevadas e excesso de chuvas e geadas nas fases de floração e crescimento do fruto acabaram por se traduzir em mais um ano de produção inferior à que era esperada.

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O resultado da campanha de 2023/2024, apesar dos contratempos climáticos é considerado “positivo” Dusan Zidar
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Apesar da produção de azeitona ter sido maior na campanha de 2023/2024 (as estimativas apontam para cerca de 150 mil toneladas), verificou-se um “menor rendimento em termos de produção de azeite, que este ano apresenta uma acidez um pouco mais elevada do que na campanha anterior”, assinalou, em comunicado, a Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal (Olivum).

Um maior nível de humidade concentrado na azeitona, para além de reduzir a produção final, veio dificultar a extracção de azeite. Estes constrangimentos estão associados ao “aumento da temperatura do ar e da precipitação atmosférica, que registou níveis superiores ao que é habitual no mês de Outubro, e ainda aos períodos de geada ocorridos em Janeiro e Fevereiro”, explica a Olivum.

“Ainda que tenha sido uma campanha com várias adversidades, conseguimos superar obstáculos e manter os padrões de excelência que distinguem os nossos azeites no mercado”, salientou Susana Sassetti, directora executiva da associação de olivicultores.

O resultado da campanha de 2023/2024, apesar dos contratempos climáticos é considerado “positivo” pela Olivum, aliando-o à entrada de novos olivais em sebe na produção que vai continuar a crescer nos próximos anos. Continua a assistir-se ao constante crescimento de áreas agrícolas com novos olivais e à reconversão com o derrube de centenas de milhares de oliveiras plantadas em regime intensivo (em copa) por superintensivo (em sebe).

A associação de olivicultores que diz representar 130 grupos associados, mais de 300 explorações que somam quase 50 mil hectares de olival e cuja produção é transformada em 18 lagares, é responsável por garantir “70% do azeite produzido em Portugal”.

O Gabinete de Planeamento, Políticas e Administração Central (GPP), na informação que publicou no dia 25 de Fevereiro, adianta que prosseguiu a campanha de comercialização de azeite da campanha 2023/24 nas áreas de mercado de Alentejo Central, Alentejo Norte, Ribatejo e Beira Litoral e Trás-os-Montes. Neste último mercado, o volume de transacções “aumentou em relação à semana anterior” e no Alentejo, prossegue o GPP, “os mercados caracterizaram-se por uma oferta de média a alta para uma procura de alta a muito alta”.

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O reflexo no preço

A diminuição da produção mundial de azeite registada nos dois últimos anos, devido principalmente ao decréscimo em Espanha, o maior produtor mundial, acabou por se reflectir “no preço do azeite a granel em Portugal”, que chegou a 9,43 euros o litro no azeite virgem extra embalado em garrafão de cinco litros.

As estimativas apontam para uma produção de 150 a 160 mil toneladas de azeite esperadas na campanha de 2023/2024, confirmando um segundo ano em contra-safra (de diminuição da produção), longe das 209 mil toneladas registadas em 2021, a maior produção de sempre em Portugal.

No sector do azeite, a Espanha é o principal produtor mundial, representando entre 30% e 40% do volume total da produção de azeite e entre 50 e 70%, do volume na União Europeia, com uma média de produção de 1,45 milhões de toneladas entre 2018/19 e 2021/22.

Impacto da seca

A seca que fustigou as últimas duas campanhas alterou esta situação. Em 2022/23 a produção de azeite atingiu apenas 666.000 toneladas e, na actual, 2023/24, a previsão é de cerca de 750.000 a 760.000 toneladas, ou seja, mais 15% do que na anterior, mas metade do seu potencial médio de produção.

Em volume, a campanha 2022/23 representou apenas 26% da produção mundial de azeite e 48% da produção europeia e, de acordo com a previsão para a campanha de 2023/24, será pouco mais de 32% da produção mundial e 54% da produção europeia.

A Espanha é o país que mais se ressente das baixas produções registadas nas duas últimas campanhas. Tenta compensar as brutais quedas que sofreu com as importações de outros países da União Europeia, com Portugal a destacar-se, mas apenas contribuíram para atenuar uma pequena parte do défice de abastecimento que o país vizinho necessita para assegurar a procura interna e o mercado de exportação. A quebra de produção acabou por se reflectir no aumento dos preços de venda do azeite na origem e no destino e os seus efeitos já se observam na redução do consumo.

A Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) advertiu na última quarta-feira, em declarações à Lusa, que o preço do azeite “deverá manter-se ou até mesmo subir até que a oferta seja reposta”.