Futuro ou ficção? MWC 2024 mostra realidade com menos telemóveis nas mãos

Jóias “lêem” saúde, pins “falam” e projectam mensagens na pele, azulejos põem pessoas a falar, telemóveis dobram-se em braceletes. MWC mostrou um futuro com menos ecrãs (nas mãos).

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O PÚBLICO resume algumas das novidades (com menos ecrãs) do MWC DR
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Um futuro com menos telemóveis nas mãos — esta foi uma das propostas de várias tecnológicas que participaram na edição de 2024 do Mobile World Congress (MWC), a grande feira das comunicações móveis de Barcelona, em Espanha. Além de anunciar produtos e serviços concretos e falar — muito — sobre inteligência artificial (IA), as empresas aproveitam a feira para mostrar projectos em que estão a trabalhar e novas categorias de produtos que podem moldar o futuro. Ou, pelo menos, mostrar o que a tecnologia pode fazer de diferente.

Este ano, viram-se vários aparelhos para um futuro em que as pessoas “largam” o telemóvel da mão. Seja porque este passa a enrolar-se ao pulso, como uma bracelete, ou porque se usam outros dispositivos como anéis, óculos e pins com IA para pesquisar informação online e comunicar com outras pessoas. O PÚBLICO reúne algumas das novidades que passaram pelos pavilhões do MWC.

Pin que filma e projecta mensagens nas mãos

O AI Pin é um pequeno pin – do tamanho de um Tamagotchi dos anos 1990 que se prende ao peito e usa inteligência artificial para perceber as perguntas do seu utilizador e responder em áudio (por agora, apenas em inglês). Além de perguntas genéricas (Vai chover esta tarde em Lisboa?), o sistema vem equipado com uma câmara e visão computacional para questões sobre o ambiente que rodeia o utilizador (“Este iogurte tem proteína suficiente? O que diz o rótulo?” ou “Quem foi que pintou o quadro à minha esquerda?”). Há também um pequeno laser que projecta mensagens e vídeos em superfícies. Nas demonstrações no MWC, a sugestão era colocar a mão na frente do AI Pin, como um ecrã, e deslizar por diferentes menus através do polegar.

O produto é um projecto da Humane, uma empresa de tecnologia que nasceu em 2018 para criar produtos na área do fitness. O objectivo não é substituir por completo o telemóvel, mas permitir um futuro em que não se está sempre a olhar para o ecrã do smartphone. A empresa também vê o sistema como uma forma de ajudar pessoas com problemas de visão.

A primeira versão do dispositivo custa cerca de 699 dólares (650 euros). Apesar de interessante, discreto e leve, o sistema levanta alguns desafios: a bateria actual apenas aguenta cerca de três horas entre carregamentos, e a luz de “segurança” que se liga automaticamente quando o aparelho está a filmar, para avisar outras pessoas, não é óbvia.

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O AI Pin projecta informação que o utilizador pode consultar na palma da mão DR
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O AI Pin cabe na palma da mão DR

Telemóvel que se dobra em bracelete

A Motorola propõe resolver o problema de estar sempre a agarrar no telemóvel ao criar um aparelho dobrável que se pode enrolar no pulso como uma bracelete. O aparelho, que por agora é apenas uma prova de conceito, foi um dos destaques no stand da empresa chinesa Lenovo, que detém a marca Motorola.

Além de se enrolar no pulso, o telemóvel pode dobrar-se ao meio para um jogo entre duas pessoas (cada um fica com uma metade do ecrã). Ao enrolar apenas um dos extremos o smartphone “aguenta-se” de pé – um modo ideal para filmar vídeos para as redes sociais.

Consoante a forma como se dobra o aparelho, a informação que surge no ecrã é diferente. Os representantes da Motorola no MWC explicam que o sistema foi programado para estar “consciente do contexto”. Ou seja, quando se dobra o telemóvel para um jogo a pares, o sistema percebe — automaticamente — que deve duplicar o ecrã dos dois lados.

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O telemóvel pode-se enrolar no pulso, como um relógio ou pulseira DR
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O telemóvel "dobra" o ecrã em dois para jogos DR

No pulso, onde o telemóvel fica “colado” a uma banda para não cair, o telemóvel da Motorola transforma-se acessório de moda. Inclui uma ferramenta que usa inteligência artificial para criar fundos que complementam a roupa de quem o usa.

A Motorola não dá detalhes sobre o sistema que permite dobrar o aparelho, mas os representantes da empresa no MWC dizem que simula a coluna vertebral. Em vez de uma só bateria, o telemóvel tem duas — mais pequenas — que ficam em pontas opostas.

Anel que monitoriza a saúde

A Samsung está a desenvolver um anel inteligente para monitorizar a saúde de quem o usa, de forma confortável e discreta, 24 horas por dia. A empresa espera lançar o Galaxy Ring ("anel" da Galaxy, a linha de smartphones da marca sul-coreana) antes do final de 2024 — deve ser uma alternativa para pessoas que não são fãs de pulseiras ou relógios inteligentes, ou para quem quer um aparelho que dure mais tempo entre carregamentos. A bateria do Galaxy Ring deve durar até nove dias.

Na MWC, a Samsung exibiu três versões do anel, a preto, dourado e prateado. No interior, o anel está repleto de sensores capazes de captar informação sobre o batimento cardíaco, o ritmo respiratório, o número de passos, e o movimento das pessoas durante o sono.

O responsável pela área de saúde digital da Samsung, Hon Pak, defende que o anel pode ser uma forma menos intrusiva de recolher este tipo de informação.

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O anel da Samsung está a ser desenvolvido para recolher informação de forma discreta DR

Óculos para navegar realidade

Nos últimos anos, várias empresas têm apresentado óculos que permitem ouvir música através das hastes e filmar. Os RayBan Stories, da Meta, são exemplo disso.

A incubadora da tecnológica chinesa TCL está a apoiar um projecto que inclui uma componente de realidade aumentada que permite usar os óculos para ver – literalmente – mensagens, traduções ou direcções nas lentes. A capacidade dos RayNeo x2 (cerca de 600 euros) aproxima-os dos Vision Pro da Apple. Só que o visual é muito mais subtil. Apesar de pesados, os RayNeo 2, parecem óculos normais que alguém usa no dia-a-dia sem receber olhares peculiares.

Como óculos “progressivos”, a informação lê-se na parte “inferior” das lentes. Conecta-se ao telemóvel por Bluetooth, permitindo ler mensagens e notificações no aparelho sem o tirar do bolso. A versão que o PÚBLICO testou no MWC, inclui uma assistente digital que responde a perguntas e é capaz de ajudar com traduções em tempo real.

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Os óculos devem ser discretos no dia-a-dia RayNeo x2
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Os óculos também se podem controlar através de um anel DR

Os óculos controlam-se ao tocar na haste: deslizar com o dedo na haste permite ver as diferentes opções no menu; dois toques permitem seleccionar a opção que se quer. Há também a opção de controlar os óculos através de um anel.

Apesar de cumprir o que promete, a versão actual dos óculos é bastante volumosa, tornando-os desconfortáveis para usar prolongadamente. Isto é algo que a equipa da RayNeo quer corrigir. Os óculos estão disponíveis no site de crowdfunding (financiamento colectivo) Indiegogo por cerca de 600 euros.

Azulejos sociais

Os mosaicos do italiano Salvatore Pepe não são um aparelho móvel, mas também usam as comunicações móveis para dar informação às pessoas.“A Mosaico Digitale cria mosaicos que permitem formar ‘paredes digitais’. O processo é como criar um painel de azulejos. Só que também oferecem wi-fi. Isto atrai as pessoas para sítios com arte e, talvez, as motive a falar umas com as outras. São mosaicos sociais”, explica o presidente executivo da Mosaico Digitale ao PÚBLICO.

Além de oferecer Wi-Fi, quem está perto dos mosaicos pode “ligar-se” à parede digital com uma aplicação para receber mais informação sobre a arte ou o local onde se está.

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Os mosaicos de Salvatore Pepe DR

Cada azulejo é do tamanho da tampa de uma garrafa. O preço ronda os 100 euros por metro quadrado.

​O PÚBLICO viajou ao Mobile World Congress a convite da Xiaomi Portugal

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