Vamos finalmente descobrir Tédio, o álbum perdido de Carlos Maria Trindade
Gravado em 1982, mas nunca editado, aquele que seria o primeiro álbum a solo do co-fundador dos Heróis do Mar e membro dos Madredeus vai ser lançado pela Armoniz no último trimestre deste ano.
Seria o primeiro álbum a solo de Carlos Maria Trindade, com edição prevista para 1982, e chegou até a ser lançado o single de apresentação, Princesa / Em campo aberto. Acontece que a editora que seria responsável pelo lançamento entrou em falência, sendo a edição do álbum cancelada. Quanto aos masters, são dados como desaparecidos e assim se mantendo durante quase quatro décadas. Reencontrados por fim, vamos poder ouvir 42 anos depois, através de uma reedição da Armoniz, o álbum que Carlos Maria Trindade, então nos Heróis do Mar, nos queria oferecer enquanto primeiro passo do seu percurso a solo. Título: Tédio.
Gravado no período que medeia o homónimo álbum de estreia dos Heróis do Mar, editado em 1981, e Mãe, o disco que essa banda charneira da pop portuguesa lançou em 1982, Tédio foi gravado por Carlos Maria Trindade no Angel Studios de José Fortes, engenheiro de som de riquíssimo currículo na música portuguesa. A produção ficou a cargo de Manuel Cardoso, vocalista dos Tantra, banda de rock progressivo e uma das mais marcantes do rock português da década de 1970, que, na altura do trabalho com Carlos Maria Trindade, trabalhava a solo enquanto Frodo.
Composto por oito temas que navegam por caminhos de uma synth-pop onírica, de verve poética, Tédio foi produzido para a Vimúsica, editora de vida breve que em Portugal chegou a representar a mítica Factory Records, casa dos Joy Division, Durruti Column, A Certain Ratio ou Happy Mondays.
A falência da editora no ano previsto para o lançamento de Tédio – o single Princesa fora editado em Março de 1982 – acabou por manter escondida do público a primeira experiência a solo do teclista dos Corpo Diplomático, então nos Heróis do Mar, futuro membro dos Madredeus e que, a solo, assinou depois álbuns como Deep Travel (1996), Oriente (2015) ou o recente Vitral Submerso (2023). Em 1991, juntamente com Nuno Canavarro, editou Mr. Wollogallu.
Quatro décadas depois vamos descobrir Tédio, no último trimestre deste ano, pela mão de uma editora especializada em reedições requintadas, quer na apresentação gráfica, quer no tratamento sonoro, de álbuns do passado da música portuguesa. Fê-lo, anteriormente, com o primeiro álbum a solo de José Cid, homónimo, editado em 1971, e com os históricos Quarteto 1111 (1970) e Blackground, dos Duo Ouro Negro (1972). Paralelamente, a editora foi também responsável pelo lançamento de Viagem a um Reino Maravilhoso, álbum de 2019 dos Lavoisier, dedicado à poesia de Miguel Torga.