“Ponte Salazar”? Google trocou nome da 25 de Abril. O que aconteceu?

A Ponte 25 de Abril aparecia esta quarta-feira no Google Maps como Ponte Salazar. A mudança não se deveu a uma falha técnica, mas sim por acção humana. Perceba como.

Foto
A designação "Pte. Salazar" era visível a meio da tarde desta quinta-feira no Google Maps DR
Ouça este artigo
00:00
04:09

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

Nos últimos dias, quem procurava pela Ponte 25 de Abril na ferramenta de mapas da Google, o Maps, recebia como sugestão "Ponte Salazar, Lisboa". Ao fazer zoom no mapa, era mesmo a designação "Pte. Salazar" que aparecia por cima da estrutura. A mudança foi noticiada esta quarta-feira, depois de ter sido divulgada e comentada nas redes sociais por utilizadores da ferramenta da Google, ainda que não se saiba exactamente quando é que o nome foi alterado. Mas às 17h35 (hora de Lisboa), a empresa tecnológica já tinha corrigido a "edição incorrecta" no mapa.

Em causa está o facto de a empresa norte-americana permitir aos seus utilizadores sugerir mudanças aos mapas que apresenta. Em resposta às perguntas do PÚBLICO, a Google explica que "permitir que os utilizadores sugiram edições ao mapa permite ter detalhes mais abrangentes e actualizados". A empresa reconhece que podem "ocasionalmente, [surgir] imprecisões ou edições incorrectas sugeridas pelos utilizadores".

Não se sabe ao certo quem terá feito o pedido (a Google não acrescenta informações sobre os autores ou a data da alteração), sabe-se sim que a empresa o aceitou. Pelo menos, temporariamente. Em comunicado, a Google escreveu que os seus "sistemas automáticos e os operadores qualificados trabalham ininterruptamente para monitorizar o Maps na procura de comportamentos suspeitos, incluindo as edições incorrectas em locais" e, por isso, já alteraram o nome da ponte para a sua designação oficial. A empresa esclarece que não tem como costume "partilhar detalhes" dos seus processos para não alertar outras pessoas com más intenções.

Uma "brincadeira" política?

Nas redes sociais, houve já quem se "acusasse" do feito. Na rede social X, o antigo Twitter, por exemplo, alguns utilizadores partilharam imagens da aplicação Maps onde se lê "Obrigado pela contribuição / a edição feita a Ponte Salazar foi aceite". A alteração aprovada datava de 21 de Fevereiro, um dia depois do debate entre os partidos sem assento parlamentar que concorrem às eleições legislativas de 10 de Março, durante o qual o antigo nome da ponte foi mencionado por José Pinto Coelho, líder do partido de extrema-direita Ergue-te (o antigo PNR).

A designação original da ponte construída durante o regime do Estado Novo, e inaugurada em 1966, homenageava o então presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, tendo sido rebaptizada logo após a revolução dos cravos, em 1974, como Ponte 25 de Abril.

Como é que se muda o nome das ruas no Google Maps?

O processo começa com um pedido à empresa: para tal, basta ter uma conta Google e a sessão iniciada. Para quem usa a aplicação Maps no telemóvel ou tablet, escolhe-se a opção "contribuir" que aparece no fundo da página. No caso de estar a utilizar um computador, basta clicar com o botão direito em cima do lugar a alterar no mapa, e as mesmas opções surgem. Aí, vão ser mostradas seis opções: "adicionar locar", "actualizar local", "adicionar crítica", "adicionar foto", "actualizar estrada" ou "actualizar morada".

A Google trata do resto, e aprova ou rejeita a mudança proposta. É igualmente fácil reportar um erro nos nomes ou descrições dos lugares, ou mesmo acrescentar um novo lugar, tanto na secção de Ajuda como em "adicionar ou corrigir uma estrada". O processo é o mesmo: a aplicação aprova ou descarta a alteração.

Partilhar sugestões com a Google permite ganhar pontos e elevar o "nível" do perfil. Por exemplo, acrescentar um novo lugar ou estrada vale 15 pontos. Quanto mais alto o nível do perfil, mais provável é ser-se elegível para recompensas e ter acesso antecipado a novos recursos.

No caso agora noticiado, terá havido não um mas vários pedidos de alteração do mapa, já que quantas mais solicitações de alteração existirem, mais provável é a empresa reparar e responder à sugestão enviada. É um exemplo clássico de um "ataque de força bruta", fenómeno em que um conjunto de utilizadores, ou o mesmo utilizador, através de várias contas diferentes, insiste numa determinada questão – o mecanismo básico é o mesmo utilizado em ataques informáticos para roubar palavras-passe ou bloquear o acesso a determinados sites.

Foto
É fácil propôr alterações aos mapas da Google na app e no site DR

Texto editado por Karla Pequenino

Sugerir correcção
Ler 6 comentários