Doentes de esperança

«Somos doentes de esperança» e «lei alguma, coisa alguma, nada nem ninguém irá curar-nos dessa esperança». E ainda: o insulto é tão «reconfortante quanto escrever um belo poema».

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Em 1992, os estudantes revoltavam-se com a política da educação e em particular com o aumento das propinas, manifestando o seu descontentamento nas ruas, em frente ao Parlamento e ao Ministério da Cultura e nas universidades, lutando por um direito constitucional, o acesso à educação, que se queria gratuito ou quase. O povo de outros tempos já não era o povo daqueles tempos e, com maior ou menor surpresa, manifestações de maior denodo, que espelhavam uma consciência política e o inconformismo necessários à cidadania mais elementar, também se prestavam à crítica: sedição e revolta, talvez, mas com candura, urbanidade e etiqueta. É aceitável a ideia de insubmissão e luta, mas com chá, não eram bem-vindas alarvidades ou obscenidades. Essa geração passou a ser rasca e a seguinte passou a estar à rasca. Existem de facto muitas formas de manifestação, algumas danosas para a vida democrática, quando impedem a liberdade de expressão, outras perfeitamente legítimas, mesmo quando a sua concretização não é asseada, outras ainda, em contextos não democráticos, farão uso de variadas formas de luta, como aconteceu com a resistência ao Estado Novo. Marguerite Duras escreveu que «somos doentes de esperança» e «lei alguma, coisa alguma, nada nem ninguém irá curar-nos dessa esperança». E ainda: o insulto é tão «reconfortante quanto escrever um belo poema».

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