Putin ameaça com “armas nucleares” os territórios da NATO
Presidente da Rússia ameaçou atacar a NATO, caso envie tropas para a Ucrânia. Putin admite um conflito nuclear com o Ocidente. Rússia vai reforçar tropas na fronteira com Finlândia.
Vladimir Putin ameaçou atacar os países da NATO (Organização do Tratado do Atlântico Norte), caso algum dos aliados envie tropas para a Ucrânia. O Presidente russo fez o discurso à nação, esta quinta-feira, em que admite um conflito nuclear, se as tropas dos países da Aliança entrarem na Ucrânia, poucos dias depois de o Presidente francês, Emmanuel Macron, não ter excluído a possibilidade de militares ocidentais serem enviados para a guerra no Leste da Europa.
“Eles [os países da NATO] estão a preparar-se para atacar o nosso território e usar as melhores forças possíveis e mais eficazes para o fazer”, acusou Putin. Deixou depois um aviso: “Recordamos o destino daqueles que tentaram invadir o nosso território e, evidentemente, o seu destino será muito mais trágico do que qualquer coisa que possamos enfrentar.”
“Eles têm de compreender que nós também temos armas. Armas que os podem derrotar no seu próprio território e, claro, tudo isto é muito perigoso, porque pode efectivamente desencadear a utilização de armas nucleares. Será que eles não compreendem isso?”, questionou Vladimir Putin no discurso à nação.
As ameaças de Vladimir Putin surgem depois de Emmanuel Macron, Presidente de França (um membro da NATO), ter dito, na segunda-feira, que “nada deve ser excluído” quanto à possibilidade de enviar tropas do Ocidente para a Ucrânia. Mas estas declarações não foram acompanhadas por outros líderes europeus.
“Não há consenso para apoiar oficialmente tropas no terreno. Dito isto, em termos dinâmicos, nada deve ser excluído. Faremos tudo o que pudermos para garantirmos que a Rússia não prevalece”, declarou Macron durante uma reunião com líderes europeus em Paris convocada pelo próprio.
Rússia vai reforçar tropas na fronteira ocidental
A reacção de Vladimir Putin surge a pouco mais de duas semanas das eleições na Rússia — a que Putin também se candidatou e que ganhará sem qualquer surpresa— perante uma plateia de membros do Parlamento russo, oficiais do país, militares e soldados. “Os cidadãos da Rússia defenderão a nossa liberdade e independência. Só depende de vós a determinação do nosso caminho para o futuro”, advogou.
No discurso anual, o Presidente russo disse que o “chamado Ocidente” tinha “tendências colonialistas” e que “se esforça não só por conter” o desenvolvimento da Rússia, como para “destruir e utilizar o espaço [russo] para quaisquer fins, incluindo a Ucrânia”. “Estão absolutamente determinados em introduzir a divisão entre nós e a enfraquecer-nos”, denunciou.
Classificando de “um disparate” as acusações de que o Kremlin tem planos para atacar a Europa, e afirmando que é o Ocidente que tenciona atacar a Rússia, Vladimir Putin admitiu que vai reforçar a presença militar na fronteira terrestre do distrito militar ocidental, que faz fronteira com a Ucrânia, Bielorrússia, Letónia, Estónia e Finlândia.
Em causa, adianta o Presidente russo, está não só a alegada ameaça de um ataque ocidental à Rússia — que países como os EUA já negaram, clarificando as declarações de Macron —, como o facto de a Finlândia (que partilha uma extensa fronteira terrestre com a Rússia, com mais de 1300 quilómetros) e a Suécia terem aderido à NATO.
Rússia entra em Robotyne, aldeia em Zaporijjia
Quanto à guerra na Ucrânia, Vladimir Putin afirmou que “não foi a Rússia que começou a guerra no Donbass”, mas vai terminá-la ao “erradicar o nazismo e ao cumprir os objectivos da operação militar especial”: “As nossas unidades estão a manter firmemente a iniciativa. Estão a avançar com segurança em várias zonas e a libertar cada vez mais território.”
Um desses territórios, adiantou o chefe de Estado russo, será Robotyne, uma aldeia na região de Zaporijjia, no Sul da Ucrânia. Putin afirmou que as forças russas entraram no território, sob controlo dos ucranianos, nas últimas horas. Robotyne, recorde-se, já esteve sob controlo dos russos, mas foi recuperada por Kiev no Verão do ano passado.
“As capacidades militares das forças armadas [russas] multiplicaram-se” e as tropas têm agora dois anos de experiência no terreno, apontou Vladimir Putin, o que se traduz num “avanço de forma constante em várias áreas” das trincheiras. “Quando a pátria defende a sua soberania e segurança, protege a vida dos seus compatriotas. O papel decisivo nesta luta justa pertence aos cidadãos russos, à sua unidade, devoção à sua pátria e responsabilidade pelo seu destino”, defendeu.
Putin pondera aumentar impostos aos mais ricos
O Presidente russo apelou ainda aos empresários nacionais a que invistam no país, mas admitiu a possibilidade de aumentar os impostos para as pessoas e empresas mais ricas, num ajuste à distribuição da carga fiscal. “Proponho que se pense em abordagens para modernizar o nosso sistema fiscal, para uma distribuição mais justa da carga fiscal para aqueles que têm rendimentos pessoais e empresariais mais elevados”, disse Putin.
Pedindo ao Governo e aos parlamentares que apresentem propostas para ir ao encontro desses objectivos, Vladimir Putin considerou que “é necessário reduzir a carga fiscal” sobre as famílias e as pequenas e médias empresas — mas também “estimular as empresas que investem fundos no desenvolvimento, na concretização de infra-estruturas e projectos sociais”.