Organizações divulgam relatório sobre abusos sexuais e pedem uma indústria musical segura

Quatro organizações de defesa de sobreviventes de abusos sexuais pedem que a indústria musical aborde a questão de forma mais profunda, nomeadamente criando um departamento focado na má conduta sexual

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O relatório Sound Off: The Make Music Safe compila sete décadas de alegados abusos sexuais Lucy Nicholson/Reuters
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"Passei anos a ouvir sobreviventes [de abusos sexuais] e anos a registar nomes. Agora trabalho com mulheres de todo o mundo", disse Samantha Maloney, antiga baterista das bandas Mötley Crüe e Hole e fundadora da organização Punk Rock Therapist, na quarta-feira, durante a conferência de imprensa de divulgação do relatório Sound Off: The Make Music Safe Report, que compila sete décadas de alegações de abuso sexual contra executivos e artistas da indústria musical.

A revista norte-americana Rolling Stone, que deu a notícia, revela que a Lift Our Voices, fundada pela ex-apresentadora da Fox News, Gretchen Carlson; o Representation Project, fundado pela realizadora de documentários Jennifeer Newsom; a Female Composers Safety League, fundada pela compositora Nomi Abadi; e o Punk Rock Therapist, fundado por Kristina Sarhadi e Samantha Maloney são as quatro organizações de defesa de sobreviventes de abusos sexuais que divulgaram este relatório.

"Durante décadas, a indústria da música tolerou, perpetuou e, muitas vezes, promoveu uma cultura de abuso sexual de mulheres e raparigas menores de idade. Milhares de artistas, executivos e accionistas obtiveram milhares de milhões de dólares de lucro - enquanto praticavam e/ou encobriam comportamentos sexuais criminosos", afirma o relatório.

A ele, juntaram uma carta, em que pedem que sejam tomadas medidas adicionais em relação às más condutas sexuais praticadas em toda a indústria musical. "Quantas mulheres abandonaram as suas carreiras e sonhos de sucesso porque estavam a ser abusadas por alguns dos homens mais poderosos da indústria musical?", escrevem na carta citada pela Rolling Stone. "Quantas delas poderiam ter sido o rosto da música actual?"

Nesta carta, dirigida aos directores executivos Lucian Grainge, da Universal Music, Rob Stringer, da Sony Music, e a Robert Kyncl, da Warner Music, estas associações pedem que se acabem com “os acordos de não divulgação” nos casos de assédio e abuso sexual; exigem a estes executivos que adoptem nas suas empresas políticas de conduta sexual; pedem que seja publicada uma lista de figuras da indústria musical que tenham, com toda a credibilidade, sido acusadas de má conduta sexual; e que se adopte uma declaração de direitos dos sobreviventes. Entre as propostas para se lidar com estas questões pedem também que a Fundação MusiCares, sem fins lucrativos e integrada na Academia Nacional de Artes e Ciências da Gravação, financie um novo departamento focado nestes problemas de má conduta sexual na indústria musical.

Sete décadas de alegações

O relatório Sound Off: The Make Music Safe Report compila sete décadas de alegações, já antes conhecidas, contra mais de duas dúzias de artistas e executivos da indústria musical. Entre os acusados estão os músicos Sean "Diddy" Combs, que ainda esta semana voltou a ser acusado de abuso e assédio sexual, e Axl Rose; o compositor Danny Elfman; o ex-director da Def Jam, Russell Simmons; o fundador da Atlantic Records, Ahmet Ertegun, e o ex-presidente da Republic Records, Charlie Walk (todos negaram as acusações) e ainda Justin Geever (que não comentou, segundo a Rolling Stone).

Além dos directores executivos dos grandes grupos da indústria musical, estas organizações também contactaram senadores e membros do Congresso norte-americano. Numa declaração que foi lida na conferência de imprensa, Gretchen Carlson, que esteve ausente da sessão, apelou aos políticos do Congresso para que investiguem as práticas laborais na indústria musical. “Imploramos aos líderes da Câmara e do Senado, tanto republicanos como democratas, que usem o vosso poder para tornar a indústria musical mais segura", disse a fundadora da Lift Our Voices.

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