O senhor dos Passos (e os jornalistas em campanha)

De cada vez que Passos Coelho aparece, vemo-lo a carregar essa cruz, mesmo que ele (ou outros por ele) finja que já não a carrega ou que nunca a carregou. Mas ela está lá, maciça, nos seus ombros.

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A família da minha mãe é herdeira de uma capelinha só com um santo: Nosso Senhor dos Passos. Na verdade, não é bem uma capelinha, é mais um nicho de pedra entalado entre dois caminhos com uma estátua gigante lá dentro — um Cristo a carregar uma cruz. Nunca entrei lá. Espreitava por um postigo na única porta daquela guarida e tudo o que via era uma imensa túnica roxa com debruados dourados, um grande crucifixo na diagonal e um corpo curvado pelo peso, com um rosto de dor meio escondido na penumbra. A estatuária religiosa foi criada sobretudo com o propósito de gerar temor e devoção. Por causa do primeiro e por falta da segunda, quando era mais novo nunca entrei lá, mesmo quando a minha mãe me incentivava, na altura de mudar as flores e de ver se o cadeado da porta continuava firme, não fossem pessoas vindas de outros lugares roubar aquele Jesus e desta maneira aumentar na aldeia o “nosso” sentimento de insegurança ou até de quebrar a “nossa” percepção de segurança, tão pacífica que ela era, a aldeia. Depois, continuei a não entrar lá, já nem sei bem porquê.

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