Homicídio nos festejos do FC Porto: “Vi o Marco em cima do Igor”

Testemunha contradiz declarações de Marco Gonçalves (membro dos Super Dragões conhecido por “Orelhas”), suspeito do homicídio de Igor Silva, colocando-o no local do crime.

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Homicídio ocorreu durante festejos do FC Porto Renato Cruz Santos
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Marco Gonçalves disse em tribunal que não esteve presente nos momentos que antecederam a morte de Igor Silva, mas uma testemunha ouvida na manhã desta terça-feira contradiz a versão do membro dos Super Dragões. De acordo com Maria Elisabete, amiga da vítima e uma das ofendidas neste processo, Marco Gonçalves estava em cima de Igor Silva, com alguém a segurar as pernas da vítima — uma segunda pessoa que não conseguiu identificar.

“Vi o Marco por cima do Igor. O Marco está de costas e o Filipe [amigo da testemunha] a agarrá-lo. Consegui ver alguém a amarrar as pernas ao Igor, mas não consigo dizer quem”, adiantou Maria Elisabete, dizendo que foi impedida de prestar auxílio a Igor pelo grupo de mulheres que a agrediu.

Os nove arguidos foram transportados para outro piso, acompanhando o julgamento numa segunda sala por videoconferência. Visivelmente afectada, Elisabete Silva disse ter medo de falar junto aos homens acusados por homicídio, com a juíza a considerar que este medo podia limitar o testemunho da amiga de Igor Silva.

Antes de Elisabete, foi a vez de Augusta Sousa, mãe de Igor Silva, ser ouvida pelo colectivo de juízes. Tomou conhecimento da pancadaria através de amigos do filho, deslocando-se para o hospital assim que tomou conhecimento. Quando lá chegou, já o óbito tinha sido confirmado.

“Encontrei a minha filha a chorar junto ao hospital, o meu filho já chegou sem vida”, relembrou. Questionada pela juíza, Augusta disse que Igor não lhe tinha comunicado os problemas com Marco Gonçalves no Estádio da Luz horas antes do homicídio. A morte do filho, explica, mudou toda a sua vida.

“Durmo uma hora por noite, trabalhava oito horas por dia e agora não consigo. Sinto-me muito nervosa, não tenho paciência para as pessoas de casa. Perdi completamente a vontade de viver”, diz, visivelmente emocionada.

Igor Silva morreu a 8 de Maio de 2022, poucas horas após o FC Porto ter conquistado o título nacional no Estádio da Luz. Nos meses que antecederam o homicídio, vítima e suspeitos tinham protagonizado mais do que uma vez episódios de violência, com provocações e ameaças constantes.

No banco dos réus estão sete arguidos pelo crime de homicídio, com três actualmente em prisão preventiva no âmbito deste processo: Marco Gonçalves (mais conhecido por "Orelhas" e membro dos Super Dragões), o filho Renato Gonçalves e Paulo Cardoso (cunhado de Marco, tratado por "Chanfras").

Horas antes do homicídio, Marco e Igor protagonizaram cenas de violência nas bancadas do Estádio da Luz. A altercação antes do jogo entre Benfica e FC Porto, partida em que os "dragões" confirmaram a conquista do título da época 2021-22, terá sido a "gota de água" para um alegado plano de vingança que envolveu vários membros da família Gonçalves. De acordo com a acusação do Ministério Público, Renato muniu-se de uma arma branca junto ao Estádio do Dragão e esfaqueou repetidamente Igor Silva, depois de o perseguir com a ajuda dos restantes arguidos. Marco Gonçalves e "Chanfras" são também acusados de ter participado nas agressões à vítima.

No testemunho de Renato Gonçalves prestado na sessão inaugural do julgamento, o jovem confirma apenas ter esfaqueado Igor Silva por uma vez. O arguido disse ainda ao colectivo de juízes que a arma branca usada estaria na posse de Igor Silva, alegando que este o tentou esfaquear primeiro. Já o pai, Marco Gonçalves, disse não ter estado presente no local do crime no momento em que o filho esfaqueou Igor, queixando-se de ter sofrido duas facadas nas costas que o levaram a abandonar a Alameda do Dragão.

A versão de Marco Gonçalves seria contrariada por outro dos arguidos na sessão seguinte. Diogo Meireles, conhecido por “Xió”, diz que Marco foi uma das primeiras pessoas que viu junto ao corpo de Igor Silva, momentos após o esfaqueamento mortal deste.

Os testemunhos de Marco e Renato contrariam a acusação em vários pontos, deixando por explicar 17 ferimentos de faca encontrados no corpo de Igor. De acordo com o relatório da autópsia presente no processo, Igor Silva foi esfaqueado por 18 vezes, sofrendo ferimentos em múltiplas zonas do corpo.

O vazio de respostas relativamente aos ferimentos foi um dos elementos destacados pelo advogado da família, Nélson Sousa, após a primeira sessão de julgamento.

“Há alguém que é morto por 18 facadas, há alguém que assume uma facada. Quero acreditar que ele [Igor] não se esfaqueou a ele próprio 17 vezes até conseguir morrer. Alguém as terá dado”, ironizou o causídico.

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