Gaza: trégua continua a ser negociada, optimismo de Biden é “prematuro”

Proposta saída das conversações em Paris prevê a libertação de 40 reféns e de 400 palestinianos detidos em prisões israelitas, assim como um aumento da ajuda humanitária que entra na Faixa de Gaza.

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Desde Outubro já foram mortos quase 30 mil palestinianos na Faixa de Gaza MOHAMMED SABER/EPA
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O Hamas está a considerar uma proposta de cessar-fogo temporário na Faixa de Gaza, negociada em Paris, que inclui uma pausa de 40 dias nas operações militares e o aumento da entrada de ajuda humanitária no território. Mas tanto o movimento palestiniano como o Governo israelita parecem ter ficado surpreendidos com o optimismo do Presidente Joe Biden: “A minha esperança é que pela próxima segunda-feira já tenhamos um cessar-fogo”, afirmou o chefe de Estado norte-americano.

O Hamas descreveu os comentários de Biden como “prematuros”, longe de reflectir a realidade no terreno, e “as autoridades israelitas dizem que foram apanhadas de surpresa”, escreve o jornal The Times of Israel​.

“O meu conselheiro de segurança nacional diz-me que estamos perto”, assegurou Biden, entrevistado no talk show Late Night with Seth Meyers, na segunda-feira à noite. Os EUA têm insistido que querem uma trégua em vigor antes do início do Ramadão, o mês sagrado do jejum para os muçulmanos praticantes, que este ano começa a 10 de Março.

A proposta apresentada pelos EUA, Egipto e Qatar a Israel e ao Hamas prevê que Israel interrompa os bombardeamentos e os ataques no enclave palestiniano durante 40 dias, libertando ainda 400 palestinianos, com o grupo palestiniano a libertar 40 reféns. Segundo o diário The New York Times, os israelitas admitem libertar 15 presos “de alto valor”, acusados de “crimes graves”, em troca de cinco mulheres militares.

Israel teria ainda de interromper as operações de reconhecimento aéreo durante oito horas por dia e permitir a entrega de tendas e caravanas para alojar os deslocados internos, a grande maioria de uma população de 2,3 milhões.

Para fazer face à situação de fome que já afecta uma parte significativa dos habitantes de Gaza, as autoridades israelitas passariam a deixar entrar 500 camiões de ajuda humanitária por dia, assim como equipamento e combustível para reabilitar hospitais e padarias, e maquinaria pesada para remover o lixo das ruas – máquinas e equipamentos que o Hamas se comprometeria a não usar contra Israel.

Citando o director da Mossad, David Barnea, a televisão israelita tinha adiantado que o Hamas estava a fazer depender um novo acordo do aumento da distribuição de ajuda, nomeadamente no Norte da Faixa de Gaza, onde a ONU interrompeu as suas operações por razões de segurança.

Regresso ao Norte

​Biden também sugeriu que o Estado judaico já concordou com a retirada de civis palestinianos de Rafah antes de ali lançar uma ofensiva, que Benjamin Netanyahu diz ser essencial para “destruir o Hamas”. O próprio Governo israelita anunciou no domingo que os militares já completaram o plano de evacuação da cidade mais a sul do território, a única onde as forças terrestres de Israel ainda não entraram e onde se concentram perto de 1,5 milhões de palestinianos, incluindo centenas de milhares que fugiram da violência mais a norte.

Segundo a agência Reuters, que teve acesso a um esboço da proposta, Israel teria ainda de retirar tropas das áreas densamente povoadas e permitir o regresso dos civis ao Norte, com excepção de “homens em idade de combate”. Mas o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, garantiu na segunda-feira que esta população não poderá regressar a casa até que “todos os reféns estejam livres”.

Em Gaza estarão mais de 130 reféns, nem todos vivos, depois da libertação de 105 durante a trégua de sete dias do final de Novembro, a somar aos quatro libertados antes pelo Hamas, aos três resgatados pelos militares e aos 11 cujos corpos foram recuperados.

A 7 de Outubro, nos ataques simultâneos que lançou contra comunidades israelitas perto da Faixa de Gaza, o Hamas matou perto de 1200 pessoas e raptou 253, a maioria civis. Segundo os dados do governo de Gaza (controlado pelo Hamas), considerados credíveis por agências internacionais e pela ONU, a guerra de uma violência sem precedentes lançada em seguida por Israel já fez pelo menos 29.900 mortos, estimando-se que haja mais 8000 pessoas debaixo de escombros. com Carolina Amado

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