Mary Poppins já não é para todos. Linguagem “ofensiva” eleva classificação etária
Termo usado pelo Almirante Boom, uma das personagens, levou comissão britânica a recomendar agora, 60 anos depois da estreia, “supervisão parental” para as crianças que assistirem em sala ao clássico.
Numa investigação sobre racismo e discriminação, o Conselho Britânico de Classificação Cinematográfica (British Board of Film Classification, BBFC) elevou a classificação etária de Mary Poppins (1964), o clássico da Disney protagonizado por Julie Andrews. Em causa estão as referências feitas aos nómadas khoi-khoi, da África Austral, por uma das personagens, o Almirante Boom, um veterano da Marinha.
Passados 60 anos sobre a estreia desta comédia musical de enorme sucesso, baseada nos livros de Pamela Lyndon Travers, a comissão britânica, confrontada com um possível novo lançamento do filme este ano, recomenda agora “supervisão parental” para todas as crianças que quiserem assistir às aventuras desta ama fora do comum, noticiou segunda-feira o diário Daily Mail.
A alteração na classificação, até agora com “U”, o que significa que deverá ser de acesso universal a partir dos quatro anos, deveu-se ao uso da palavra “hotentotes” no filme, um termo considerado depreciativo para com esta comunidade que está entre os primeiros habitantes da África Austral.
“Hotentotes” foi o nome atribuído pelos colonos neerlandeses aos membros deste grupo africano e, de acordo com o Dicionário Oxford de Inglês, citado pela BBC, “é considerado tanto arcaico quanto ofensivo”.
O termo é utilizado pelo Almirante Boom quando se refere, em primeiro lugar, às pessoas que não aparecem no filme e, depois, ao falar das crianças que nele surgem quando os seus rostos ficam escurecidos pela fuligem.
O Conselho Britânico de Classificação Cinematográfica considerou que os pais estavam preocupados com “a possibilidade de expor as crianças a linguagem ou comportamento discriminatório que possam considerar angustiantes ou repetir inadvertidamente”, explicou ao Daily Mail fonte do BBFC.
A nova classificação afecta apenas a versão desta famosa comédia musical para as salas de cinema, já que a de entretenimento doméstico ainda permanece com classificação ‘U’, segundo o mesmo conselho de avaliação.
Mary Poppins, realizado por Robert Stevenson e vencedor de cinco Óscares da Academia em 1965, conta a história de uma ama inglesa que chega do céu num guarda-chuva e que recorre à magia para levar as duas crianças que tem ao seu cuidado, os irmãos Banks, a viverem muitas aventuras, com um limpa-chaminés chamado Bert sempre por perto (interpretado por Dick Van Dyke).
Em 2018 estreou um remake deste clássico com Emily Blunt no papel que pertenceu originalmente a Julie Andrews.
Nos últimos anos, as questões envolvendo linguagem hoje considerada discriminatória levaram já à revisão de vários clássicos da literatura. Roald Dahl está entre os autores mais visados.