O arco-íris também sai à noite em Portugal
No Norte de Portugal, foi possível ver, no domingo, um arco-íris que coloriu o céu durante a noite. Mas como acontece este fenómeno?
No último fim-de-semana, ficámos em casa: a chuva e o granizo que se fizeram sentir em grande parte do país levaram muitos portugueses a recolher-se nos espaços mais quentes. O frio não abrandou, mas no domingo à noite o Norte do país recebeu um visitante inesperado, que não se incomodou com as condições meteorológicas: em distritos como Vila Real – onde se viu de forma mais clara – ou Bragança, alguns habitantes conseguiram fotografar um grande arco-íris que se mostrou à noite.
Como explica João Lima, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, o fenómeno “não é muito comum”, já que precisa de reunir um conjunto de factores “raros”. Em Dezembro do ano passado, tinha já sido possível ver, em Portalegre, um arco-íris semelhante, mas não com tanta nitidez.
Em primeiro lugar, é necessário que a Lua esteja cheia, para que “seja suficientemente brilhante”, o que só acontece “cerca de uma vez por mês”. Ainda assim, é difícil que o arco-íris lunar aconteça. Desta forma, o fenómeno de domingo à noite em Portugal deve ter sido pouco visível a olho nu, já que “a luz do Sol é cerca de 400 mil vezes mais forte que a da Lua”. Assim, enquanto, durante o dia, podemos ver com frequência arcos-íris nítidos, com cores facilmente identificáveis, durante a noite “é difícil distinguir as cores e o fenómeno é mais ténue”.
Provavelmente, quem viu o arco-íris nocturno no Norte de Portugal teve mesmo de tirar uma fotografia com alto nível de exposição para conseguir distinguir a paleta: “É necessária uma fotografia de exposição longa, que adicione fotões à imagem”, explica João Lima, porque “os cones [fotorreceptores nos olhos] com que percepcionamos as cores não conseguem distingui-las se estiver pouca luz”.
O fenómeno do arco-íris
Um arco-íris é sempre provocado pela refracção que as gotas da chuva fazem nos raios da luz solar ou, neste caso, lunar, e vê-se apenas quando essa luz está atrás de quem observa. É sempre necessário que o tempo esteja chuvoso, tendo, por norma, “acabado de cair uma chuvada”, conta o investigador, para que existe essa refracção. De acordo com o site do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), o arco íris pode ser primário, quando há “uma única reflexão na face interna das gotas” – tem o roxo no interior e o vermelho no exterior do raio de luz – ou secundária, quando há “dupla reflexão” – com o vermelho no interior e o roxo no exterior.
No entanto, existem outro factores que contribuem para a raridade do fenómeno à noite: a Lua tem de estar, evidentemente, do lado oposto do Sol e, para que aconteça de noite, o satélite natural da Terra tem de estar acima da linha do horizonte – caso contrário, seria de dia. No entanto, a Lua também não pode ficar demasiado acima do horizonte, “por uma questão de geometria do próprio arco-íris”, explica João Lima.
Então, se só há arco-íris quando os astros (tanto o Sol como a Lua) estão próximos da linha do horizonte – no máximo, cerca de 20 a 30 graus, clarifica o investigador –, há “uma janela pequena de tempo” em que o fenómeno pode acontecer de noite. Ou duas a três horas antes do nascer do Sol, quando poucas pessoas estão acordadas, ou então duas a três horas depois do pôr do Sol, logo a seguir ao crepúsculo.
Texto editado por Teresa Firmino