Não é novidade que os microplásticos, partículas plásticas de pequena dimensão, estão praticamente por todo o lado. Alguns estudos já detectaram a presença de microplásticos na placenta, no leite materno, no sangue, na água e no ar. Numa nova investigação, levada a cabo pela Universidade do Novo México, foram analisadas 62 amostras de placenta e foram detectados microplásticos em todas elas. O estudo foi publicado a 17 de Fevereiro na revista científica Toxicological Sciences.
Num segundo estudo, verificou-se também a contaminação das artérias nas 17 amostras analisadas. Problemas como a obstrução de vasos sanguíneos pode ser uma das consequências directas. Do total de nano e microplásticos encontrados, 54% eram de polietileno, um dos tipos de plástico mais utilizado na produção de garrafas e sacos, lê-se no estudo. O PVC e o nylon foram outros dos resultados mais obtidos, com uma presença de 26%.
Estas descobertas têm alarmado os cientistas. A presença de microplásticos nas placentas pode interferir com o desenvolvimento saudável do feto. “Se existem microplásticos nas placentas, todos os mamíferos do planeta podem vir a ser afectados. Isto não é nada bom”, refere o investigador Matthew Campen (que é um dos autores do estudo), da Universidade do México, citado pelo jornal britânico The Guardian.
Em 2022, quando foi detectada a presença de microplásticos no leite materno, os especialistas apelaram para o aumento dos "esforços na investigação científica para aprofundar o conhecimento do potencial comprometimento da saúde causado pela internalização e acumulação de microplásticos, especialmente em bebés".
Neste novo estudo, a concentração de microplásticos nas placentas era de 6,5 a 790 microgramas por grama de tecido. As amostras de tecido de placenta foram analisadas através do uso de "microscopia de fluorescência e contagem automática de partículas", que apresentaram resultados positivos para a presença de microplásticos. No entanto, não foram detectados nanoplásticos, que são partículas ainda mais pequenas e que "podem ter dimensões 70 vezes inferiores ao diâmetro de um cabelo".
A presença de microplásticos em placentas foi detectada pela primeira vez em 2020, na análise do tecido materno de quatro de seis mulheres, que tiveram gravidezes normais e saudáveis, em Itália. Os cientistas afirmam que os microplásticos carregam substâncias que, a longo termo, podem afectar o funcionamento do corpo humano. Ainda assim, não conseguiram apurar se os microplásticos teriam sido absorvidos pelos embriões. Na altura, Antonio Ragusa, director da obstetrícia e ginecologia do hospital que realizou o estudo, contou ao The Guardian que as mães "ficaram chocadas". "É como se dessem à luz um bebé cyborg: não é apenas composto por células humanas mas uma mistura de entidades biológicas e também inorgânicas", afirmava.
Ainda não se sabe com certeza quais as consequências que os microplásticos podem ter na saúde dos humanos. Contudo, as partículas podem alojar-se nos tecidos e causar inflamações ou outras complicações. O investigador Matthew Campen refere ainda que a crescente concentração de microplásticos no corpo humano pode explicar o crescimento de problemas de saúde como cancro do cólon, a doença inflamatória do intestino e a redução na concentração de espermatozóides.
Além dos problemas na saúde humana, os especialistas estão preocupados com a contaminação do meio ambiente por microplásticos, que o autor refere que está a “ficar cada vez pior”. Todos os anos, grandes quantidades de plástico transformam-se em lixo e não são devidamente descartados, acabando por poluir os oceanos e o ambiente. Existem vestígios por todo o planeta, podendo fragmentar-se e ser posteriormente ingeridos ou respirados pelo ser humano.
Num estudo lançado em Junho do ano passado, foi apurado que a simples acção de cortar alimentos em tábuas de corte de plástico pode libertar até 50,7 gramas de microplástico nos alimentos. Apesar de existirem alternativas, estas podem ser ainda piores no que toca à produção de gases com efeitos de estufa.