No centro de Londres, há cientistas a “criar” insectos ricos em proteínas para alimentar galinhas e porcos
Uma startup londrina transforma insectos em alimentos mais ricos em proteínas. No centro do esforço está a minúscula mosca-soldado-negro, conhecida pelo seu papel no combate às alterações climáticas.
Debaixo de um conjunto de arcos ferroviários no centro de Londres, zumbem centenas de milhares de pequenas moscas, apresentando uma tecnologia de criação de insectos que poderá ajudar a combater as alterações climáticas. No seu centro de investigação, a startup Entocycle, com oito anos de existência, pretende mostrar como o processo de transformar insectos ricos em proteínas em alimentos para galinhas e porcos pode ser adoptado em grande escala.
As próprias moscas alimentam-se de quase todos os resíduos alimentares e são melhores para o planeta do que os alimentos tradicionais para animais, como a soja, que têm uma pegada de carbono muito maior, explica o fundador e director executivo Keiran Whitaker.
"Derrubamos as florestas tropicais para produzir soja, pescamos em excesso nos oceanos para capturar farinha de peixe e depois transformamo-la em ração proteica que é novamente enviada para todo o mundo para alimentar os animais", afirma. "É incrivelmente insustentável."
Nos últimos anos, a proteína de insecto tornou-se uma alternativa popular na agricultura e na aquacultura, à medida que a procura de alimentos para animais aumenta, com empresas como a gigante alimentar americana Cargill a adoptarem a utilização de alimentos para insectos.
A Entocycle, que Whitaker espera que se torne rentável ainda este ano, tem como objectivo trazer uma eficiência de nível industrial à criação de insectos, concebendo hardware que inclui dispositivos de medição precisos, braços robóticos e uma instalação com temperatura controlada para a criação de insectos.
Com o ruído dos comboios a passar e o cheiro acre das fezes das moscas a pairar no escritório, engenheiros e biólogos de bata branca preparam-se para uma expansão significativa do centro de investigação da Entocycle nas próximas semanas.
Negócio de insectos
No centro do esforço está a humilde e minúscula mosca-soldado-negro (Hermetia illucens), amplamente reconhecida pelo seu potencial para ajudar a combater as alterações climáticas ao ser uma fonte de proteínas mais amiga do ambiente.
"É o insecto mais rápido, mais barato e mais sustentável de cultivar e é uma espécie que não causa doenças nem pragas e que se encontra em todo o mundo", diz Whitaker sobre o insecto, que é transformado em proteína durante a sua fase de larva em forma de verme. A maior parte das moscas-soldado criadas no seu centro em Londres transforma-se em proteína de insecto.
Mas uma pequena parte é criada num insectário húmido, onde mastiga durante dias resíduos alimentares – matéria orgânica derivada de sanduíches fora de prazo ou cevada descartada por fábricas de cerveja locais –, antes de pôr centenas de ovos, permitindo que o ciclo continue.
O entomologista britânico George McGavin, que chama à mosca-soldado-negro a superestrela da indústria dos insectos comestíveis, diz que a criação de insectos pode ajudar a produzir "grandes quantidades de proteínas" num espaço pequeno e em muito pouco tempo.
"A criação de insectos é, de facto, uma alternativa muito viável, eficiente, relativamente fácil de fazer e sem quaisquer riscos ecológicos", diz McGavin.