São jovens, estreiam-se a votar: “Finalmente tenho voz”

Como é que jovens olham para estas eleições? O que os define? Desencanto com as formas de lutar e crescimento com o modelo de empreendorismo são duas características sublinhadas por quem os estuda.

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António Capela e António Nobre são amigos de infância, trabalham, e acham que as escolhas políticas os afectam mais directamente nesta fase da vida Nuno Ferreira Santos
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São jovens, quase todos se estreiam a votar nestas eleições de 10 de Março. Viveram a sua adolescência durante a governação PS. Uns têm visto alguns debates eleitorais, outros nem a um único assistiram. Há quem saiba exactamente o que quer de um governo e há quem ande à procura das ideias.

Isabel e Bárbara têm 19 anos, estudam Ciência Política e Relações Internacionais. Estão, assim, à vontade a falar de questões políticas. António Capela e António Nobre são amigos de infância, trabalham, e acham que as escolhas políticas os afectam mais directamente nesta fase da vida, mas não acompanham a actualidade política. Mariana Araújo vive em Braga, estuda Contabilidade e, desta vez, quando acompanhar os pais na ida às urnas, também vai fazer a sua escolha.

Como olham estes jovens para a sua participação política? O que os move no voto?

António Capela, 19 anos, e António Nobre, 21, encontram-se diariamente na rua do bairro onde cresceram e vivem, o Vale de Chelas, em Lisboa. Têm um grupo no WhatsApp com mais três amigos, todos de longa data.

Capela não tem seguido os debates; tinha visto uns sketches de Ricardo Araújo Pereira e, de resto, é através do humor que se vai informando da actualidade política — cita Diogo Batáguas ou Guilherme Geirinhas. Também recorre a podcasts, ao YouTube ou à Netflix. “Sei que devia-me interessar muito mais, até porque já me estou a tornar um adulto e [a política] também já começa a afectar a minha própria vida. Não é que não afectasse antes. Mas agora trabalho e tudo afecta mais directamente.”

A sua percepção geral é que “na fase de eleições todos sabem falar”. “Depois para cumprir o que dizem é que já é mais complicado.”

Na outra ponta da cidade encontramos Isabel Behrens, estudante de Ciência Política e Relações Internacionais na Universidade Nova de Lisboa. Aos 19 anos é uma excepção na sua geração: vive sozinha num apartamento pequeno na zona da Madragoa. A casa é dos pais, por isso não tem no seu orçamento o peso das rendas que em Lisboa dispararam, especialmente nesta zona. No dia anterior à nossa entrevista tinha regressado da Escócia onde foi trabalhar no campo a tratar de animais; dias depois ia tomar conta de crianças (é ela quem paga as suas despesas).

Sabe que está numa situação privilegiada, são raros os que têm a possibilidade de fazer o que fez. De facto, Portugal é o quarto país da UE em que mais jovens vivem com os pais e, de acordo com dados de 2022 do Eurostat, a idade média de saída é aos 30 anos (mais três anos do que a média europeia). É também​ o sétimo país da UE com maior taxa de desemprego jovem — afecta um em cada cinco jovens no mercado de trabalho — e tem percentagens altas de precariedade — seis em cada dez empregados têm vínculos de trabalho precários (estes dados que usamos neste texto foram compilados pela Pordata).

Isabel desabafa que não estava à espera de ir votar tão cedo: “Não estou muito contente por votar nesta situação, mas, em geral, pelo acto de votar em si, sim, estou feliz.” Prossegue: “Considero-me uma pessoa que tem bastantes princípios e valores que gostava de ver reflectidos. Usufruo de muitos serviços públicos — andei numa escola pública, numa faculdade pública. Quero melhorar aquilo que eu e outras pessoas experienciamos, que a minha opinião se reflicta naquilo que acontece.”

Dias depois, a sua colega de faculdade e de liceu Bárbara Baião, também 19 anos, confessa que desde os 16 anos se sente preparada para votar. “Finalmente tenho voz”, refere. “Também me sinto preocupada, não sei que impacto é que os jovens vão ter nestas eleições, se será de esquerda ou direita.” Bárbara ainda vive em casa dos pais e por enquanto não trabalha.

Por chamada vídeo a partir de Braga, Mariana Araújo fala com entusiasmo sobre o acto de votar: [É] superinteressante toda a dinâmica e podermos ter algo a dizer relativamente a quem queremos a governar o país.” Declara: “Sinto-me pronta!”

Nas redes sociais

Isabel e Bárbara estiveram envolvidas, enquanto estudantes do Liceu Camões, em Lisboa, em acções pelo clima. Foram a manifestações, Bárbara participou em ocupações pelo clima. O tema vem naturalmente à conversa.

Se em relação às alterações climáticas Isabel acha importante que cada pessoa faça a sua parte, isso não é suficiente: “O Governo tenta muito passar a responsabilidade para os indivíduos. Mas gostaria de senti-lo a tomar mais responsabilidade para regular as empresas [que contribuem para as alterações climáticas.]

Embora tenha participado em algumas das greves pelo clima — “São movimentos grandes que fazem realmente as diferenças” —, critica acções como “atirar tinta”. “Chamam a atenção para as coisas erradas.”

Operador de loja no aeroporto, António Capela estudou até ao 11.º ano e pretende um dia ir acabar o secundário (tirou um curso técnico-profissional de desporto). “Também queria ajudar a minha mãe em casa e portanto fui trabalhar”, explica.

Não faz parte de nenhum grupo activista e a única manifestação em que participou até agora foi pelo clima, em 2019. “Fizemos uma marcha grande. Foi mais uma ideia de amigos, um namorava com uma miúda bastante activista e convenceu-nos.”

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Bárbara Baião, 19 anos, confessa que desde os 16 anos se sente preparada para votar. “Finalmente tenho voz”, refere. “Também me sinto preocupada, não sei que impacto é que os jovens vão ter nestas eleições, se será de esquerda ou direita.” Bárbara ainda vive em casa dos pais e por enquanto não trabalha. Nuno Ferreira Santos

Admite que não está muito informado. Está mais à esquerda ou mais à direita? Não sabe. Mas é importante “ter mais responsabilidade” e saber mais sobre política até para perceber o que pode afectar na sua vida, diz.

Capela não responsabiliza os partidos pela sua fraca participação política, responsabiliza-se a si próprio em primeiro lugar. As redes sociais são a sua fonte de informação principal e acha que os partidos deveriam ter ali uma participação mais activa para chegarem aos jovens.

Nas eleições passadas participou numa sessão sobre política numa associação do bairro, a Casa da Juventude. Entre eles estava o amigo António Nobre, operador de caixa num supermercado (o único dos cinco que votou nas eleições passadas). Em geral, ele e o grupo de amigos falam pouco de política. Mas o líder da extrema-direita André Ventura vem à baila de vez em quando no bairro, onde vivem várias pessoas da comunidade cigana, por causa do seu ataque xenófobo. [Fala-se dele] por causa das críticas que faz à minha etnia, a dizer que não trabalha”, refere António Nobre. Isso ofende-o. “Porque é que ele fala dessa maneira? O que é que ele ganha em discriminar a gente?”, questiona.

Do que sabe, na comunidade cigana houve pessoas que não votavam e que começaram a votar em protesto contra André Ventura. “Acredito que aconteça o mesmo noutros bairros, ficam ofendidos e querem votar contra isso.”

Habituada a discutir política em casa, Bárbara tem assistido aos debates. Não se revê no formato. “Sinto sempre que há um candidato que fica com muito mais tempo, devia ser mais controlado.”

Gostava que se tivesse debatido ciência, investigação, cultura. Interessa-lhe a igualdade de género, a educação ou a habitação; os amigos também falam de emigração. “Não vemos aqui tantas possibilidades para nós, enquanto estudantes, mesmo com a licenciatura”, observa. Também Mariana Araújo refere o tema da emigração como algo presente nos projectos de amigos, sobretudo pela falta de oportunidades em Portugal e dos preços da habitação.

Comenta Bárbara: “O que é importante perceber é que este é um caso de direita e esquerda, não vai haver de novo uma maioria absoluta.” Ela situa-se mais à esquerda, mas não acredita no voto útil. “O que importa é que a esquerda tenha poder para ser maioria e é isso que me interessa, no fundo.”

Politicamente, Isabel situa-se mais à esquerda, mas não consegue escolher um partido. Tem reflectido na forma como vai usar o seu voto: “Votar num partido muito mais pequeno, por exemplo, será que vai fazer uma diferença tão grande? Ou devo talvez votar num com que eu não concorde tanto, mas que vai equilibrar a extrema-direita em termos de lugares no Parlamento, por exemplo? Ainda estou um bocado a pensar”, admite.

Do que percebe das conversas, Bárbara faz notar que há vários amigos que aderem às ideias do Iniciativa Liberal, partido que “chama muito os jovens”. “Tem muito que ver com a forma como eles se publicitam, tentam chegar aos jovens por causas insignificantes — por exemplo, legalização de cannabis —, tentam imenso falar sobre isso no Instagram, no Twitter. Não percebo bem qual é o encanto, mas têm algum,” comenta.

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Paulo Pimenta

Mariana Araújo, que planeia tirar dois mestrados para completar a sua licenciatura em Contabilidade, é das que se sentem mais próximas da Iniciativa Liberal. Entende que é um partido que “protege mais os jovens”. “É uma questão de terem uma mentalidade mais jovem. Eles conseguem perceber o que é que nós precisamos e o que é que nós realmente queremos e tentam implementar isso.” Com o programa da IL impresso nas mãos, fala de várias medidas como a baixa de impostos. “Têm frases simples e coisas concretas, por pontos”, refere em elogio ao documento.

São os jovens que mais se abstêm de votar, dizem as várias sondagens. Perguntamos se há algo que os políticos possam fazer para o combater. Isabel hesita, comenta que as questões abordadas pelos políticos dizem respeito a coisas como Segurança Social, questões laborais. [São problemas que] não nos falam directamente”, diz. “Não sei se os políticos podem fazer algo para mudar isso, ou se é só uma questão de nós termos mais consciência no sentido de uma responsabilidade maior.”

Bárbara tem dito aos amigos que “mesmo que não votem em ninguém, se se mobilizam para ir votar, já tiveram uma posição”. Para ela é claro que, se querem “que as coisas mudem”, têm “de votar”. Conselho para mobilizar os jovens? Os partidos deveriam “fazer o que está a fazer a extrema-direita”, ir mais aos sítios onde os jovens se encontram, ter mais presença nas redes sociais.

Bárbara, que tem conta no Instagram, preocupa-se com o facto de haver muito mais presença da direita — e da extrema-direita — nas redes sociais do “que qualquer tipo de esquerda”. “E os comentários são todos da direita. A esquerda não se mobiliza e acho que os algoritmos dão muito mais influência à direita, talvez por serem polémicos.” Isto ajuda um pouco a explicar o sucesso da direita entre os jovens, considera.

Isabel descreve a sua geração com aspirações “muito divididas, tal como a sociedade em geral”, e “nada uniforme”. Participante nas greves pelo clima e do Okupa Camões e do núcleo feminista do liceu, desde miúda que Bárbara vai às manifestações do 25 de Abril ou à marcha do Orgulho LGBTQI+ e acrescenta: “Temos muito mais sensibilidade para o impacto do clima. Eu sinto que é isso que nos move, que é isso que a minha geração traz, mover-nos e sensibilizar-nos para estes novos problemas que enfrentamos hoje em dia.” Na igualdade de género, à “superfície parece que as coisas já estão melhores, mas há muito a fazer”, sublinha. “Por exemplo, na minha faculdade não leio nenhum texto escrito por uma mulher.” Também ainda há um longo caminho a percorrer na violência de género, sublinha. “Todos os meses vemos notícias sobre femicídios."

Mariana Araújo considera que a sua geração “aceita muito mais facilmente as coisas”, por exemplo, em termos de “sexualidade”, e aceita também “muito facilmente os imigrantes”. “Tenho consciência que a maior parte da minha geração não vai querer fazer trabalhos como, por exemplo, construção civil. E as pessoas que vêm de fora, muitas delas estão dispostas a fazer esse trabalho.” Não descarta a existência de preconceitos entre os pares. “[Porém,] comparada com as outras [gerações] a nossa aceita melhor”, comenta.

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A olhar para o campo verde nas traseiras do prédio onde nos encontramos na antiga Curraleira, António Capela e António Nobre lamentam que esteja vazio: no seu “tempo” havia sempre alguém a jogar à bola. O convívio de rua ficou-lhes até agora que já têm idade para votar. “Somos um bocado assim, à moda antiga”, diz Capela, filho de uma mulher ucraniana e de um homem são-tomense. “Uma coisa bastante importante que pode estar a falhar em gerações que estão a crescer agora” é este encontro pessoal quotidiano. “Cada vez os mais miúdos ficam em casa e não saem tanto.”

Bárbara teme que os valores do 25 de Abril e conquistas como o casamento gay sejam postas em causa. “Sinto que é muito importante manter essas ideias presentes, porque tão facilmente como vieram também podem ir.”

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miguel manso

Uma geração à procura de novas formas de lutar

Quem vai votar agora pela primeira vez pertence a uma geração “muito desiludida com os processos democráticos”. Esta é a análise que faz ao PÚBLICO Margarida Gaspar de Matos, psicóloga especialista em jovens.

Num estudo que fez há dois anos com jovens até ao 12.º ano, e que hoje irão votar pela primeira vez, diz que encontrou jovens “bastante perturbados com várias vicissitudes externas”, entre o “deprimido, ansioso, fustigado”. Como escreve no capítulo de um livro que está para sair este ano, “a chamada ‘Geração Z’, e, mais recentemente, a Geração Alfa, vive há tempo de mais numa situação de incerteza, a nível da precariedade económica, a nível das ameaças à saúde pública (pandemia) e a nível da convivência com conflitos armados”.

Ao PÚBLICO explica: “São miúdos muito centrados neles e com pouca vontade de fazer coisas em conjunto com os pais e uns com os outros. É uma geração muito individual, não direi individualista — agarrados à comunicação pela tecnologia, que é uma fonte de ocupação de tempo inesgotável.”

“[No fundo] estão preocupados com o futuro, mas não estão a fazer planos para alterar as coisas, não transformam essa preocupação em acção. Em relação a temas como as alterações climáticas, vêem que são aproveitados pelos partidos e pelos adultos para as suas pequenas disputas. E que não estamos a dar nenhum modelo interessante.”

À procura de causas novas em que valha a pena investir, querem modalidades novas para o fazer, “porque tanto as causas que a geração anterior lhes dá, como a maneira de lutar, não lhes diz nada”.

Em termos políticos, ganham vantagem “os candidatos que conseguirem ir a questões concretas do dia-a-dia, a soluções realistas que lhes pareçam possíveis”. “Não serve o discurso de escola para todos — é preciso passos concretos para chegar a objectivos futuros.”

Embora tenham uma descrença nos políticos, têm uma “grande vontade de mudança e sentido de urgência no que diz respeito ao voto”. “Sabem que, se quiserem ter um futuro melhor, é urgente que vão votar”, refere no livro. “A transparência, a clareza e a autenticidade são muito valorizadas. As questões ambientais, com os animais e com as pessoas mais frágeis também estão muito presentes como principais preocupações.”

E faz notar: “Alguns querem arranjar uma crença — como uma miúda que entrevistei que diz que é preciso votar num extremo para abalar a estrutura central, o que é uma coisa relativamente perigosa. Basicamente, não vejo ninguém muito empenhado, nem crente de que este modelo da democracia como a temos funciona.”

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Manuel Roberto

Têm mostrado várias sondagens que os jovens estão mais inclinados para votar à direita. E é mais provável que tenham intenção de votar na AD ou no Chega do que no PS, mostra uma análise recente baseada em quatro sondagens feitas pelo ICS/ISCTE em Março, Maio, Setembro e Novembro, segundo o politólogo Pedro Magalhães.

Analisando à lupa, conclui-se ainda que a probabilidade de ter intenção de votar no Chega diminui com a idade. Igualmente, a probabilidade de querer votar no Bloco de Esquerda e “(especialmente) Iniciativa Liberal é, como já se sabia, maior entre os mais jovens do que entre os mais velhos”.

Ao PÚBLICO o investigador clarifica: “A relação entre idade e votar Chega existe, mas também existe entre a idade e votar PAN, Livre, BE e IL. Isso diz uma coisa muito simples e óbvia: os jovens têm maior propensão de votar em partidos novos. Por uma razão simples, as pessoas mais velhas foram socializadas num menu de partidos que já não existe. Os mais jovens estão a ser socializados numa escolha maior.” Magalhães sublinha que “a ideia de que há qualquer coisa de especial no Chega que atrai os mais jovens tem de ser um bocado mitigada”. “Então também temos de responder à pergunta: ‘Qual é a coisa especial que faz com que IL, Livre, e etc. atraiam jovens?’: é simples, porque são partidos novos.”

Para o sociólogo Vítor Sérgio Ferreira, vice-coordenador do Observatório Permanente da Juventude, a predilecção por pequenos partidos e novas propostas acaba por reflectir algumas das causas e problemas que interessam aos jovens.

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“Os grandes partidos, quando falam de jovens, normalmente falam dos que emigram, um fracasso atribuído ao governo anterior (tanto no caso do PSD como do PS, que fez o mesmo durante o Governo Passos Coelho), mas pouco mais do que isso. Outro tipo de agendas que tenham que ver com formas de encarar o mercado de trabalho, de exercer o trabalho, de representatividade de determinadas identidades, que passam pela questão do racismo, da transfobia, ou a causa dos animais e alterações climáticas encontram-se mais em partidos como o PAN e Livre e até o BE.”

Lembra que vários estudos internacionais se focaram na construção de novas subjectividades neoliberais entre os mais jovens. “O neoliberalismo é muito subtil, no sentido de ter muita adesão na nossa vida quotidiana em determinados modos de pensar e de valores — a questão do individualismo, da meritocracia. Não há ideia mais neoliberal do que a do sonho. Toda a gente consegue ter sonhos, conseguir realizá-los é muito menos democrático — mas temos vários programas de televisão a dizer que se consegue realizar o sonho, desde que se queira.”

Este tipo de afirmação está em linha com o que defendem partidos como a IL, e encontra-se nas novas gerações, que são socializadas neste tipo de matriz. “A ideia do empreendedorismo é inculcada desde cedo, com brinquedos que remetem para as startups. Através dos brinquedos estamos a assistir uma ‘startupização’ das novas gerações.”

Igualmente nesta linha está a presença do empreendedorismo nas políticas de juventude, como o combate ao desemprego, “a ideia de empregado por conta própria mais valorizada”.

Traços que caracterizam esta geração são alguma disponibilidade para a mobilidade geográfica em termos migratórios e de viajar e ter experiência, o acesso a informação e comunicação que os “faz estar em contacto com o mundo”. “Hoje temos mais adesão a valores que podem ser vistos como contraditórios — por exemplo, há trabalhos feitos sobre jovens gay de extrema-direita no Brasil ou nos Estados Unidos”. Há também um prolongamento da condição juvenil até muito mais tarde.

O sociólogo realça ainda que “as formas de contestação jovens e adolescentes aparecem muito desqualificadas, menorizadas” — no sentido de os colocar como menores.

Se olharmos para os dados, verificamos que em 2022 os jovens entre os 15 e os 24 anos, que correspondiam a 10% do total da população, são muito mais qualificados — nove em cada dez entre os 20 e os 24 anos têm, no mínimo, o ensino secundário, e Portugal é o sétimo país da União Europeia com maior proporção de jovens com ensino superior.

“Muito provavelmente estas pessoas que estão a entrar na faculdade sabem que o canudo não lhes vai dar acesso a um salário que permita ter independência financeira. Este bloqueio, com outras coisas, pode explicar algum distanciamento que os jovens têm perante a oferta eleitoral”, afirma. “A entrada e prolongamento na vida activa aproxima mais as pessoas do espectro partidário.”

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