Aliados de Navalny acusam Putin de o ter matado para sabotar troca de prisioneiros

Assessora do opositor de Putin garante que estava a ser finalizado acordo entre a Fundação Navalny e o Kremlin para troca de prisioneiros. Não há data para funeral, mas vai haver despedida pública.

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Ainda não se conhece a data do funeral do opositor de Putin EPA/SHAWN THEW
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Aliados de Alexei Navalny admitem que o Presidente russo, Vladimir Putin, mandou matar o opositor na prisão de forma a sabotar uma troca de prisioneiros entre o Ocidente e a Rússia, envolvendo mais dois cidadãos norte-americanos e um russo, condenado a pena de prisão na Alemanha.

Na véspera da morte de Alexei Navalny, a 15 de Fevereiro, Maria Pevchikh, aliada do opositor russo, terá recebido a "confirmação de que as negociações [para a libertação de Navalny] estavam na fase final". O prisioneiro "trocado" seria Vadim Krasikov, um russo apelidado por Putin de "patriota", condenado a prisão perpétua em Berlim pelo assassínio de Zelimkhan Khangoshvili, um ex-comandante separatista tchetcheno, em 2019. De acordo com os tribunais alemães, a morte de Khangoshvili terá sido encomendada pelo Kremlin, que negou sempre o envolvimento no caso.

"Navalny deveria ter sido libertado nos próximos dias, porque tivemos uma decisão sobre a sua troca. No início de Fevereiro, foi proposta a Putin a troca do assassino, o oficial do FSB Vadim Krasikov, que cumpre pena por um homicídio em Berlim, por dois cidadãos americanos e Alexei Navalny", explica num vídeo no YouTube a antiga assessora de Navalny.

Pevchikh não nomeou os dois cidadãos norte-americanos que estariam na troca de prisioneiros juntamente com Navalny. Mas os Estados Unidos já disseram que estão a tentar retirar da Rússia Evan Gershkovich, jornalista do Wall Street Journal, e Paul Whelan, ex-fuzileiro naval dos EUA. "Alexei Navalny poderia estar sentado neste lugar agora mesmo, hoje mesmo. Isto não é uma figura de linguagem, poderia e deveria ter acontecido", lamentou Pevchikh, que adianta ter tentado encontrar intermediários para o processo, chegando mesmo a contactar Henry Kissinger, mas que os "governos ocidentais não mostraram a vontade política necessária".

"Os responsáveis americanos e alemães acenaram com a cabeça em sinal de compreensão. Disseram que era importante ajudar Navalny e os presos políticos, apertaram as mãos, fizeram promessas mas não fizeram nada". Fonte de Governo alemão disse à Reuters ter conhecimento das notícias que dão conta de uma eventual troca de prisioneiros, mas recusou-se a tecer qualquer comentário.

Funeral de Navalny

O corpo de Navalny foi, no sábado, entregue à mãe, mas ainda são desconhecidos os moldes em que será realizado o funeral. Lyudmila Navalnaya também usou o canal de YouTube do filho para acusar o Governo russo de ter feito "chantagem": "Se eu não aceitar um funeral privado [em segredo], fazem alguma coisa com o corpo", garantiu. Na próxima quinta-feira, Putin vai discursar sobre o Estado da Nação no Parlamento russo, e há especulações nas redes sociais de que o funeral de Navalny possa realizar-se nesse dia. Segundo a SkyNews, que cita Kira Yarmysh, porta-voz de Navalny, "o evento [de despedida pública] será separado do funeral e espera-se realizá-lo até final da semana de trabalho".

Enquanto, no YouTube, se procura explicar "porque é que Navalny foi morto agora", o Parlamento Europeu quer prestar-lhe homenagem. Nesta quarta-feira, a viúva do político, Yulia Navalnaya, estará presente na sessão plenária em Estrasburgo, onde vai discursar pelas 11h30 locais – 10h30 em Portugal continental. À intervenção segue-se um debate sobre a morte do opositor russo, cujos contornos são ainda desconhecidos, ainda que a certidão de óbito a registe como provocada por "causas naturais".

O chefe dos serviços secretos militares da Ucrânia, Kyrylo Budanov, afirmou no domingo que "está mais ou menos confirmado" que o opositor político morreu de causas naturais. "Talvez vos frustre, mas o que sabemos é que morreu mesmo devido a [rompimento de] um coágulo sanguíneo", citou a SkyNews. Ainda assim, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse no mesmo dia numa conferência de imprensa que Navalny foi "assassinado".

Texto editado por Ivo Neto

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