BCP renegociou 22 mil créditos e garante que não há “um problema generalizado”

A maioria das renegociações diz respeito à bonificação de uma parte dos juros do crédito, uma medida financiada pelo Estado.

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Miguel Maya, presidente executivo do BCP LUSA/RODRIGO ANTUNES
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Ao longo do ano passado, o BCP renegociou cerca de 22 mil contratos de crédito à habitação, incluindo todas as medidas disponíveis, como a fixação da prestação do crédito ou a bonificação de uma parte dos juros. O banco não esclarece qual o peso destas renegociações na carteira total de crédito, mas assegura que não há um problema generalizado e que foram apenas encontrados "pequenos problemas".

Os números foram avançados pelo presidente executivo do banco, Miguel Maya, durante a apresentação de resultados do BCP no exercício de 2023, ano em que o banco reportou um resultado líquido de 856 milhões de euros, valor mais de quatro vezes superior aos lucros do ano anterior.

Questionado sobre a renegociação de créditos, o responsável adiantou que foram renegociados 22.073 contratos de crédito. Destes, "menos de 2500 contratos foram reestruturados por dificuldades financeiras", acrescentou, sem especificar quais os créditos incluídos nessa categoria.

Miguel Maya detalhou ainda que, do total de renegociações, 1170 dizem respeito ao decreto-lei n.º 80-A, ou seja, foram feitas no âmbito do plano de acção para o risco de incumprimento (PARI). Outras 4656 operações foram renegociadas no âmbito da bonificação de uma parte dos juros do crédito e 1582 no âmbito do decreto-lei que veio permitir a fixação da prestação do crédito à habitação num valor mais baixo do que o que resultaria da aplicação normal das taxas Euribor.

Miguel Maya não esclareceu o montante total associado a estes créditos renegociados, nem o peso das renegociações na carteira total de crédito, mas salientou que estes números ficam em linha com aquelas que eram as expectativas do banco.

"Está perfeitamente alinhado com as nossas expectativas, não há qualquer situação dramática, até porque o emprego teve uma evolução bastante positiva em Portugal", começou por dizer, ressalvando: "Há situações difíceis e, nessas, procuramos encontrar soluções e, sempre que é possível, chegamos a acordo com o cliente para que supere essa dificuldade. Mas não podemos generalizar. Genericamente, não há um problema, há pequenos problemas e fazemos a nossa obrigação, que é renegociar quando podemos."

Dividendos de 256,8 milhões

Durante a conferência de imprensa que decorreu esta segunda-feira, Miguel Maya adiantou, ainda, que o BCP vai regressar ao pagamento de dividendos aos accionistas, depois de uma interrupção no ano passado.

"A comissão executiva irá submeter ao conselho de administração uma proposta de aplicação de resultados a apresentar à assembleia geral de accionistas que inclua a distribuição de dividendos correspondentes a um payout ratio de 30%, calculado sobre o resultado líquido do exercício de 2023", pode ler-se no comunicado divulgado esta tarde. Na prática, isto significa que o BCP irá distribuir aos accionistas 30% dos lucros alcançados em 2023, ou seja, se a proposta for aprovada, fará um pagamento de 256,8 milhões de euros.

Este, apontou Miguel Maya, é um montante "adequado" e "dentro do equilíbrio dos diferentes interesses" do BCP.

O banco, recorde-se, voltou a distribuir dividendos em 2019, depois de uma década em que não o fez. Em 2020 e 2021, contudo, não distribuiu dividendos, decisão justificada com a incerteza trazida pela pandemia. Agora, por outro lado, o objectivo passa por voltar a remunerar os accionistas "de uma forma consistente".

Sobre o crescimento acentuado dos resultados. Miguel Maya alinhou-se com os argumentos que têm sido defendidos pelos presidentes dos seus concorrentes e sublinhou que não considera que estes são lucros excessivos. "Parece que há vergonha em apresentar bons resultados. Pois nós temos muito orgulho em apresentar estes resultados. O que estamos a fazer é em proveito de Portugal, é bom para o BCP, para os accionistas, para os trabalhadores, para as famílias e para as empresas ter um banco sólido", afirmou.

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