Presidente da cimeira ambiental da ONU defende mais multilateralismo ambiental

Fórum das Nações Unidas decorre no Quénia para enfrentar uma “tripla crise global”: alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição. Multilateralismo foi uma das ideias-chave da abertura.

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A presidente da cimeira Leila Benali na cerimónia de abertura da UNEA-6 Daniel Irungu/EPA
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A presidente da VI Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-6) defendeu nesta segunda-feira que o mundo precisa de mais multilateralismo ambiental, perante guerras ou processos eleitorais que desviam recursos que podiam ser para resolver as ameaçadoras crises ecológicas. "Estamos a reunir-nos em 2024, numa altura de várias crises", disse Leila Benali, a ministra da Transição Energética marroquina, durante uma conferência de imprensa no primeiro dia da UNEA-6, o principal órgão de decisão ambiental do mundo, que decorre em Nairobi.

O fórum, que decorre até sexta-feira no complexo das Nações Unidas na capital do Quénia, irá abordar a "tripla crise global" (alterações climáticas, perda de biodiversidade e poluição) numa "encruzilhada" em que vários "pontos de viragem" estão a convergir, afirmou.

"Estamos a assistir a uma série de guerras e conflitos, alguns deles com grandes implicações internacionais. Por vezes, este facto distrai os governos e as principais partes interessadas de dedicarem tempo e recursos às questões ambientais mais prementes", sublinhou.

Este ano, alertou, "50% da população mundial vai eleger os seus líderes", o que "pode dar lugar a alguns movimentos populistas em algumas partes do mundo e também distrair os governos" de se concentrarem na adopção de "uma agenda ambiental bem-sucedida".

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Protestos em Nairobi durante a cerimónia de abertura da VI Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-6) Daniel Irungu/EPA

Neste contexto, a presidente da UNEA-6 apelou ao "restabelecimento da confiança no multilateralismo" para responder aos desafios ambientais globais.

A ministra foi questionada sobre se o possível regresso de Donald Trump — um conhecido céptico em relação às alterações climáticas — à Casa Branca, nas eleições de Novembro nos Estados Unidos poderia prejudicar o apelo à acção multilateral. "Quem quer que seja eleito, esperamos que tenha em conta o facto de estarmos juntos nesta luta", respondeu, sem aludir directamente ao antigo Presidente norte-americano.

Inger Andersen, directora executiva do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUA), sediado em Nairobi, também defendeu a abordagem multilateral para enfrentar os desafios ambientais.

"O multilateralismo ambiental global está vivo. Funciona. E veio para ficar", sublinhou Andersen no seu discurso na sessão plenária de abertura da UNEA-6.

"É muito importante que todos apoiem a acção em prol do ambiente", afirmou a comissária na conferência de imprensa, recordando que "ninguém neste planeta está imune" aos efeitos da "tripla crise global".

A UNEA-6 reunirá em Nairobi mais de 5000 representantes de governos, da sociedade civil e do sector privado, incluindo 150 ministros e vice-ministros, de mais de 180 países inscritos para a ocasião, segundo o PNUA.

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Delegados na abertura da Assembleia das Nações Unidas para o Ambiente (UNEA-6) Daniel Irungu/EPA

Entre os participantes na Assembleia, que inclui todos os 193 Estados-membros da ONU, encontram-se cinco chefes de Estado e de Governo, incluindo o Presidente queniano, William Ruto, que participará no segmento de alto nível, que decorrerá quinta e sexta-feira.

Na sexta sessão desde que a Assembleia foi lançada em 2014, os países vão analisar cerca de 19 resoluções que abrangem desafios como travar a desertificação, combater a poluição atmosférica ou limitar a poluição química.

As resoluções da UNEA não são juridicamente vinculativas, mas são vistas como um primeiro passo importante no caminho para acordos ambientais globais e para a formulação de políticas nacionais.

A 5.ª Assembleia Ambiental da ONU (UNEA-5), que decorreu em 2022, em Nairobi, ficou marcada pela aprovação de uma resolução para iniciar a negociação do primeiro tratado global contra a poluição por plásticos.

Mais acção contra impacto dos plásticos

Sobre esse assunto, a associação ambientalista Greenpeace pediu nesta segunda-feira em Nairobi, na UNEA-6, uma acção mais forte contra a crise dos plásticos, que está a acelerar as alterações climáticas. "A procura de plásticos continua a crescer para satisfazer a necessidade de combustíveis fósseis. E isto aumentou as emissões e acelerou as alterações climáticas", afirmou Hellen Kahaso Dena, responsável pelo Projecto Pan-Africano de Plásticos da Greenpeace África, numa conferência de imprensa na UNEA-6.

Dena sublinhou a "necessidade urgente" de um tratado global sobre os plásticos. De acordo com a Greenpeace, o plástico contribui para 3 a 4% das emissões globais de gases e, se esta tendência se mantiver, este valor continuará a ser o mesmo em 2050.

"Não podemos proteger o nosso clima, a nossa biodiversidade, a nossa saúde e travar a poluição se não reduzirmos a produção de plástico", afirmou Dena, acrescentando: "Para bem do nosso futuro e do futuro dos nossos filhos, não nos podemos dar ao luxo de desperdiçar esta oportunidade única de acabar com esta crise".

Por seu turno, Seble Samuel, responsável pelas campanhas e pela defesa da África na Iniciativa do Tratado de Não Proliferação dos Combustíveis Fósseis, defendeu o respeito das sociedades locais por parte das grandes empresas.

"Nem sequer somos donos da nossa energia. Sessenta por cento das operações de combustíveis fósseis em África estão sediadas no estrangeiro, a maior parte delas na Europa", disse, considerando que se assiste a uma "neocolonização no sector da energia".

Já o activista Gerance Mutwol convidou os presentes a verem o impacto dos plásticos na capital do Quénia, que acolhe a assembleia. "Basta sair daqui, conduzir ou caminhar durante alguns minutos e deparamo-nos com o rio Nairobi e, quando chegamos ao rio, só vemos plásticos", afirmou Mutwol.

"Vimos em muitos casos que, durante a estação das chuvas, as inundações afectam as nossas comunidades e, quando se abre o esgoto, encontramos só plásticos. É assim que os plásticos estão realmente a afectar o nosso modo de vida", sublinhou.