Trump vence primárias na Carolina do Sul, o estado da sua adversária
Haley esperava inverter o favoritismo do ex-Presidente dos EUA no estado que governou durante seis anos, mas não foi além dos 40%. Ainda assim, promete manter-se na corrida até à “superterça-feira”.
Não houve margem para muitas surpresas nas primárias do Partido Republicano na Carolina do Sul disputadas no sábado. Donald Trump recolheu 59,8% dos votos frente a Nikki Haley, que se ficou pelos 39,5% e viu derrubada aquela que seria a sua melhor hipótese de poder frustrar o favoritismo do ex-Presidente norte-americano.
A vitória de Trump no estado natal de Haley, do qual foi governadora entre 2011 e 2017, parece não deixar muitas dúvidas quanto ao seu caminho rumo à nomeação republicana para as presidenciais de Novembro. Trump venceu todos os caucus e primárias disputadas até agora – Iowa, New Hampshire, Nevada e ilhas Virgens Britânicas – e já só pensa no duelo com Joe Biden.
“Só quero dizer que nunca vi o Partido Republicano tão unido como neste momento”, declarou Trump, num discurso em que nem sequer nomeou a sua única adversária pela nomeação presidencial.
O New York Times decretava, após o triunfo de Trump na Carolina do Sul, que as primárias republicanas já não são umas eleições, mas sim uma “coroação”. Em menos de dois meses, Trump foi averbando vitória atrás de vitória, ao mesmo tempo que foi vendo os seus adversários internos abandonarem a corrida, incluindo nomes fortes como o do ex-governador da Florida Ron DeSantis, que muitos viam como o principal candidato a derrotar o ex-Presidente.
“Este é o processo de primárias mais rápido de que me recordo”, disse ao NYT o estratega republicano veterano Ron Kaufman, que acompanha primárias desde os anos 1970. “Não há ninguém que não olhe para Trump como o nomeado, incluindo Nikki Haley”, sublinhou.
Alguns republicanos que se opõem a Trump esperavam que, numa corrida a dois, Haley pudesse ganhar vantagem, concentrando em si os votos anti-MAGA (movimento Make America Great Again). Mas esses cálculos mostraram-se amplamente errados. Mesmo nas eleições primárias do Nevada, em que Trump não participou, Haley recebeu menos votos do que a opção “Nenhum destes candidatos” (Trump acabou por vencer o caucus, concorrendo sozinho, ficando com os delegados do estado).
E, agora, com uma derrota substancial no estado em que, à partida, partia com a vantagem de ser conhecida e popular junto do eleitorado, terá dado o golpe decisivo na sua candidatura.
“Eleição soviética”
Haley poderá procurar consolo em ter perdido por uma diferença menor do que era esperado. Às vésperas das primárias, as sondagens apontavam para uma diferença ainda mais acentuada, em torno dos 30 pontos.
Apesar dos insucessos, a ex-embaixadora dos EUA nas Nações Unidas prometeu continuar em campanha pelo menos até à “superterça-feira”, a 5 de Março, quando 15 estados e um território administrado pelos Estados Unidos vão a votos.
“O que vi hoje foi a frustração da Carolina do Sul com o rumo do nosso país”, afirmou Haley aos seus apoiantes em Charleston. “Disse no início da semana que, independentemente do que acontecesse na Carolina do Sul, eu iria continuar na corrida presidencial. Sou uma mulher de palavra”, declarou.
Contrariando o conselho de alguns especialistas que defendem o seu abandono da campanha, Haley parece empenhada em não conceder a Trump uma vitória imediata, criticando os que antecipam uma “eleição ao estilo soviético com um só candidato”.
A sua campanha anunciou que vai fazer um forte investimento em anúncios televisivos até à “superterça-feira”, na ordem dos “sete algarismos”, para tentar captar o máximo de descontentes com Trump.
Os aliados do ex-Presidente teriam preferido que Haley concedesse já a derrota e acusam-na de estar a dividir o partido. “O facto é que a campanha de Haley se tornou uma operação Never Trump em que ela é a maior representante do Desonesto Joe Biden”, afirmou o porta-voz da campanha de Trump, Steven Cheung. “As primárias terminam esta noite e é tempo de nos virarmos para as eleições gerais”, acrescentou.
Passou-se um mês desde que Trump e Haley se enfrentaram directamente em primárias e, apesar de os problemas legais do ex-Presidente só terem aumentado, a verdade é que, para a maioria dos eleitores republicanos, isso parece em nada alterar a sua preferência.
Nas últimas semanas, duas decisões judiciais condenaram o empresário a pagar indemnizações que totalizam mais de 500 milhões de dólares – de que Trump pretende recorrer – por ter mentido nas declarações de património e no caso de agressão sexual e difamação interposto pela escritora E. Jean Carroll.
Além disso, neste período, Trump fez uma das declarações mais chocantes desde que entrou na política, ao ter sugerido que poderia incentivar a Rússia a invadir países-membros da NATO que não gastassem pelo menos 2% do seu PIB em defesa.