“Optimismo cauteloso” em Israel com possível acordo sobre reféns antes do Ramadão
Gabinete de guerra israelita aceita enviar delegação a Doha após receber proposta das equipas negociais dos EUA, Egipto e Qatar reunidas em Paris. Ramadão começa a 10 de Março.
O gabinete de guerra de Israel, presidido pelo primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, aceitou enviar uma delegação ao Qatar na próxima semana para prosseguir com as negociações sobre um possível acordo com o Hamas, que envolva a libertação de reféns e a imposição de uma trégua na Faixa de Gaza, informa a imprensa israelita neste domingo.
A decisão do gabinete de guerra israelita foi tomada no sábado à noite, depois de analisado um “esboço” de uma proposta de compromisso que os seus representantes receberam na véspera, em Paris, onde se encontraram com representantes do Qatar, do Egipto e dos Estados Unidos, incluindo o director da CIA, William Burns.
Segundo um diplomata estrangeiro que falou com o Haaretz, “todas as partes estão a mostrar flexibilidade e pode ser alcançado um acordo antes do Ramadão”, o mês sagrado de jejum e de oração na tradição muçulmana, que começa no dia 10 de Março. “O progresso contínuo [das negociações] está agora nas mãos do Hamas”, acrescentou.
Na mesma linha, no sábado à noite, Tzachi Hanegbi, conselheiro de Segurança Nacional do Governo israelita, disse ao canal 12 que, “pelo tom” daquilo que ouviu “nas últimas horas”, “será possível alcançar progressos” nas negociações.
Em declarações à Reuters, fontes dos serviços de segurança egípcios confirmaram o agendamento de nova ronda de negociações em Doha (Qatar) e uma outra no Cairo (Egipto), e o Jerusalem Post descreveu um ambiente de “optimismo cauteloso” em Israel sobre a possibilidade de um acordo.
Nas redes sociais, dando conta dos esforços do Governo para libertar as 134 pessoas que ainda estão sequestradas pelo movimento islamista palestiniano, Netanyahu informou, ainda assim, que vai reunir os seus ministros “no início da semana” para “aprovar os planos operacionais” para uma ofensiva militar em Rafah, no Sul da Faixa de Gaza.
De acordo com o primeiro-ministro de Israel, “só uma combinação entre pressão militar e negociações firmes irá conduzir à libertação dos nossos reféns, à eliminação do Hamas e ao cumprimento de todos os objectivos da guerra”.
Em declarações à CBS, este domingo, Netanyahu limitou-se a dizer que o Hamas “vive noutro planeta” e que só haverá um acordo sobre reféns se o grupo islamista aceitar uma “situação razoável”.
Tal como em notícias anteriores relacionadas com as negociações para um novo acordo – o primeiro e único acordo de trégua e de troca de reféns por prisioneiros palestinianos detidos em prisões israelitas teve lugar no final do ano passado –, é difícil saber muitos pormenores sobre este “esboço”, tendo em conta as declarações muitas vezes contraditórias das várias fontes que têm falado sob condição de anonimato com a imprensa israelita.
Segundo a emissora pública Kan, a proposta em cima da mesa pressupõe um dia de cessar-fogo e dez prisioneiros palestinianos libertados para cada refém do Hamas que for entregue às autoridades israelitas. Nestes termos, as tréguas nos confrontos em Gaza poderiam chegar a prolongar-se por seis semanas. A Kan diz ainda que o “esboço” inclui a retirada das tropas israelitas do Norte da Faixa de Gaza, para permitir a entrada de ajuda humanitária na região.
É, no entanto, difícil imaginar o Governo israelita a aceitar alguns destes termos, tendo em conta que continua a prometer que não vai abdicar de “concluir” a sua campanha militar contra o Hamas e que se prepara para avançar sobre Rafah, junto à fronteira com o Egipto, onde há, neste momento, 1,5 milhões de pessoas, a grande maioria deslocada de outras partes do enclave.
Citado pelo Jerusalem Post, um responsável palestiniano disse que, “enquanto Israel se está a focar numa tentativa de transformar qualquer compromisso num acordo de troca de prisioneiros”, o Hamas “insiste” em garantias da “ocupação israelita para acabar com a guerra e retirar as suas forças da Faixa de Gaza.”
A ofensiva militar das Forças de Defesa de Israel sobre o enclave já matou quase 30 mil pessoas, a maioria civis, segundo as autoridades médicas palestinianas. A operação israelita foi lançada em resposta ao ataque terrorista de 7 de Outubro de 2023 do Hamas contra Israel, que tirou a vida a cerca de 1200 pessoas e resultou no sequestro de 240 pessoas.
O Governo israelita vai apresentar na segunda-feira ao Tribunal Internacional de Justiça as “medidas provisórias” que a mais alta instância judicial das Nações Unidas lhe exigiu, no âmbito da convenção do genocídio, na sequência de um pedido da África do Sul.