Oppenheimer cimenta favoritismo ao vencer Prémios do Sindicato dos Actores
Filme de Christopher Nolan recebeu o prémio para o Melhor Elenco e para Cillian Murphy e Robert Downey Jr.. Succession, A Rixa e The Bear conquistaram quase tudo em TV.
O épico de Christopher Nolan Oppenheimer triunfou esta madrugada (noite de sábado nos Estados Unidos) nos Prémios do Sindicato dos Actores (Screen Actors Guild), em Los Angeles, cimentando o favoritismo na corrida aos Óscares depois de ganhar quase tudo esta temporada.
A produção milionária da Universal Pictures recebeu a estatueta de Melhor Elenco em Filme – o prémio mais cobiçado – na 30.ª edição dos SAG Awards, que pela primeira vez foram transmitidos ao vivo na plataforma Netflix.
“Este é um momento de círculo completo para nós”, declarou o actor Kenneth Branagh, que falou em nome dos colegas de Oppenheimer, lembrando que a última vez que estiveram todos juntos foi na estreia do filme, a 14 de Julho, pouco antes do início da greve que paralisou Hollywood em 2023.
“Não vimos o filme e saímos da passadeira vermelha em direcção à solidariedade convosco”, disse Branagh. “Receber este reconhecimento num ano de conquistas espectaculares por parte de toda a gente nesta sala, os nossos amigos e heróis actores, significa tudo para nós”, acrescentou.
Oppenheimer chegará aos Óscares, a 10 de Março, com 13 nomeações e um rol extenso de vitórias.
Antes da consagração final nos prémios SAG, o protagonista Cillian Murphy já tinha vencido a estatueta de Melhor Actor Principal pela interpretação de J. Robert Oppenheimer.
“Isto é extremamente especial para mim porque vem de vocês”, disse Murphy, ecoando o sentimento que os vencedores foram expressando ao longo da noite por serem reconhecidos por pares.
“Este foi o melhor grupo de actores com que alguma vez tive o prazer de trabalhar”, afirmou, lembrando que há 28 anos, quando começou a tentar seguir a carreira de actor, era um “músico falhado”.
Também Robert Downey Jr. ganhou a estatueta de Melhor Actor Secundário pelo seu papel em Oppenheimer, no qual interpretou Lewis Strauss.
“Porquê eu, porquê agora? Porque é que as coisas estão a correr-me de feição?” questionou Downey Jr., que tem vencido repetidamente na temporada e apostado no humor nos discursos. “Ao contrário dos meus colegas nomeados, nunca me vou fartar de ouvir o som da minha própria voz”, gracejou.
Na categoria de Melhor Actriz Principal, foi Lily Gladstone quem arrebatou a estatueta que noutras cerimónias foi entregue a Emma Stone por Pobres Criaturas.
Num triunfo que pode sinalizar a direcção da Academia, Gladstone foi distinguida pelo papel de Mollie Burkhart em Assassinos da Lua das Flores, o épico de Martin Scorsese.
A actriz de origem indígena iniciou e encerrou o seu discurso de aceitação com palavras na língua Blackfeet, da tribo com o mesmo nome a que a pertence.
“Meus caros actores, sinto o bom naquilo que vocês fizeram, naquilo que fazem”, afirmou Gladstone. “Este foi um ano difícil para todos nós”, lembrou, numa menção à greve de quase quatro meses.
“É verdadeiramente uma dádiva podermos viver disto, essa é a vitória”, considerou. “Trazemos empatia a um mundo que precisa muito dela”, sublinhou. “Nós continuamos a sentir, de forma corajosa, e isso humaniza as pessoas, tira-as das sombras e dá-lhes visibilidade."
A actriz urgiu os contadores de histórias a “continuarem a dizer as suas verdades e a falarem uns pelos outros”.
A Melhor Actriz Secundária voltou a ser Da’vine Joy Randolph, por Os Excluídos, continuando a tendência de outras cerimónias – Critics Choice Awards, Globos de Ouro e BAFTA.
A actriz fez um discurso de aceitação apaixonado em defesa da profissão e dos sonhos daqueles que ainda não conseguiram chegar onde desejam.
“Em que outra profissão poderíamos viver tantas vidas”, questionou. “Acordo todos os dias cheia de gratidão por ser uma atriz com trabalho”, disse.
Randolph foi distinguida pela interpretação de Mary Lamb no filme de Alexander Payne. “Para todos os actores que ainda estão por aí à espera, a vossa vida pode mudar num só dia. Continuem”, exortou.
Barbra Streisand recebeu ainda o Prémio Carreira e foram entregues várias estatuetas em televisão.
A última temporada de Succession obteve a consagração final ao vencer Melhor Elenco em Série Dramática. É a estatueta que equivale a prémio de melhor série do ano numa cerimónia onde são os actores que premeiam outros actores.
“Um último viva”, disse Alan Ruck, que deu corpo a Connor Roy durante quatro temporadas e fez o discurso de vitória em nome de todo o elenco. “Vocês estão a olhar para algumas das pessoas mais sortudas do planeta e algumas das mais gratas”, afirmou o actor, considerando que Succession foi uma das melhores séries de sempre da televisão.
“A magia de Succession é que a escrita era tão fabulosa que nos inspirou todos a trazermos as melhores prestações desde o início", continuou. “Conseguimos apanhar um relâmpago dentro de uma garrafa."
Nas categorias de interpretação em televisão, os prémios em drama foram divididos: Elizabeth Debicki levou a estatueta de Melhor Atriz em Série Dramática por The Crown e Pedro Pascal venceu Melhor Actor em Série Dramática por The Last of Us.
Ao aceitar, Pascal protagonizou um dos discursos mais inusitados da noite. Disse que estava bêbedo e usou um palavrão para expressar o seu contentamento, aproveitando que a Netflix não tem as mesmas regras de linguagem que os canais generalistas.
Em comédia, tudo como esperado tendo em conta as tendências da temporada de prémios: The Bear venceu Melhor Elenco, Melhor Actor (Jeremy Allen White) e Melhor Actriz (Ayo Edebiri).
“Sinto-me tão honrado por fazer parte desta comunidade”, disse Allen White. “Quis fazer parte desta comunidade toda a minha vida. Não tinha plano B”. White assumiu sentir-se “incrivelmente emocionado” por estar em palco a receber o reconhecimento dos seus pares.
Ayo Edebiri ecoou o sentimento de gratidão ao afirmar que estar ali a ser premiada era “de loucos”.
Na categoria de Filme para Televisão ou Minissérie, A Rixa voltou a ganhar, tal como nas outras entregas de prémios da temporada. Ali Wong, que foi Melhor Actriz, agradeceu à mãe de 83 anos a paciência que teve com ela quando lhe disse que queria fazer comédia stand-up.
Steven Yeun, Melhor Actor na mesma categoria e pela mesma série, recordou como o primeiro emprego como actor, o que lhe permitiu entrar no Sindicato dos Actores, foi um anúncio para uma marca de chocolates. “Senti-me tão entusiasmado por receber aquele cartão quanto por receber agora este prémio”, gracejou.
Numa cerimónia com apresentação de Idris Elba que durou pouco mais de três horas, Barbra Streisand recebeu o Prémio Carreira e mostrou-se emocionada com a distinção.
“Lembro-me de sonhar em ser actriz quando era adolescente, sentada no meu quarto em Brooklyn a comer gelado de sabor a café e a ler uma revista de cinema”, contou. “De alguma forma, tudo se realizou.”
Membro do Sindicato dos Atores há mais de 60 anos, Streisand frisou que é “um privilégio” fazer parte desta profissão e lembrou que muitos dos criadores da indústria chegaram a Hollywood fugidos da perseguição aos judeus na Europa, uma alusão enquadrada pela actual guerra no Médio Oriente.
“Sonho com um mundo onde tais preconceitos são coisas do passado”, afirmou Streisand. “Sempre acreditei no poder da verdade.”