O argumento económico pela sustentabilidade: um potencial persuasivo inexplorado?

Enquanto sociedade, falhamos ao não conseguir ver que perdemos simplesmente por dizermos “o que deve fazer pela sustentabilidade hoje” em vez de “veja como pode lucrar com a sustentabilidade hoje”.

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Sustentabilidade é um termo que tem vindo a ganhar notoriedade ao longo das últimas décadas. É uma noção complexa, que visa envolver três dimensões fundamentais para o desenvolvimento humano: a dimensão económica, a social e a ambiental. Desde o relatório Brundtland Our Common Future, publicado em 1987, sustentabilidade juntou-se ao que hoje se chama “mainstream”: universidades introduziram mestrados nesta área e até o LinkedIn tem uma funcionalidade para procurar postos de trabalho verdes. De facto, a consciencialização da necessidade da mudança tem vindo a aumentar.

No entanto, fala-se de sustentabilidade ao nível “macro” (e ainda bem que isto acontece), ao nível das grandes cadeias de produção e padrões de consumo, mas a mudança para um sistema sustentável terá também de penetrar e moldar a esfera “micro” e, até agora, parece que a mensagem que se tenta passar sobre este assunto não estará a dar os frutos pretendidos.

Ainda que a mudança de paradigma seja um processo longo, ideia estabelecida já no século XX por Thomas Kuhn, e tendo em conta que, ao contrário dos ditames das teorias económicas – que o ser humano é um ator racional —, sabemos que o ser humano também adere a uma panóplia de comportamentos autodestrutivos. Por mais explícitas que sejam as imagens impressas nos maços de tabaco, os fumadores tomam a decisão consciente de continuar a fumar, sabendo perfeitamente as consequências nocivas que esta ação poderá trazer no futuro e apesar das imagens nos maços.

As campanhas mediáticas urgem à necessidade da mudança comportamental de cada um com base no argumento moral: é necessário que as gerações presentes sejam conscientes, pois estão a privar as futuras de qualidade de vida. No entanto, cientistas alertam para os perigos da crise climática há décadas e, em 2024, ainda não se viu o progresso necessário nesta longa caminhada. E se, em vez de apelarmos ao dever moral do indivíduo, demonstrássemos o que cada um de nós tem a ganhar economicamente com opções mais sustentáveis?

Em vez de castigarmos o pecador, por que não mostrar outro caminho possível para a redenção? A título de exemplo, há cerca de um ano e meio decidi passar a comprar champô e amaciador de cabelo sólidos. Após algumas tentativas, encontrei produtos que se enquadravam com as minhas necessidades: decidi-me por um amaciador sólido artesanal de uma marca portuguesa.

Este amaciador custou-me cerca de 13 euros, o que, considerando o valor médio de um frasco de amaciador no supermercado, é um valor elevado. A diferença é que este amaciador ainda está na minha casa de banho mais de um ano e meio depois, com duas utilizações por semana, em média. Por sua vez, um frasco de amaciador de cabelo líquido durava, em média, dois meses. Fazendo as contas, eu poupei dinheiro e o ambiente, uma troca duplamente vantajosa.

E exemplos como este podem também ser aplicados a empresas e comunidades maiores, não somente a indivíduos. No seu livro Confessions of a Radical Industrialist, Ray Anderson descreve a sua própria escalada à montanha da sustentabilidade. Anderson fundou uma empresa de carpetes e fez mudanças ao longo de décadas sempre à procura da circularidade, do reaproveitamento de materiais e da compensação das emissões da fábrica.

Numa fase posterior, até com as emissões dos trabalhadores na deslocação ao local de trabalho ele se ocupou. Na conclusão desta obra, apercebemo-nos de que a circularidade não foi somente movida por uma consciência moral, mas também por uma grande vantagem económica e competitiva, algo valorizado num sistema capitalista. Ao conseguir reintroduzir “desperdício” na linha de montagem, Ray Anderson não tinha necessidade de comprar tantos produtos como os seus concorrentes. Ao poupar nessa compra, o seu produto teria um preço mais competitivo pela mesma margem de lucro: win win.

Em suma, enquanto sociedade, falhamos ao não conseguir ver que perdemos potencialmente a adesão de mais indivíduos ao movimento, simplesmente por dizermos “o que deve fazer pela sustentabilidade hoje”, em vez de “veja como pode lucrar com a sustentabilidade hoje”.

A autora escreve segundo o novo acordo ortográfico.

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