Conservadores suspendem deputado que disse que o mayor de Londres é controlado por “islamistas”

Anderson era até há bem pouco tempo vice-presidente do Partido Conservador. Sadiq Khan, presidente da câmara da capital britânica, acusa-o de acicatar “ódio-antimuçulmano”.

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Lee Anderson foi vice-presidente do Partido Conservador entre Fevereiro de 2023 e Janeiro deste ano Reuters/HANNAH MCKAY
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O Partido Conservador suspendeu este sábado o deputado Lee Anderson, depois de este ter “recusado pedir desculpa” por ter afirmado na sexta-feira que Sadiq Khan, presidente da câmara de Londres, do Partido Trabalhista, era “controlado” por “islamistas”.

A suspensão, anunciada por um porta-voz do Governo de Rishi Sunak, implica que Anderson deixe de fazer parte da bancada parlamentar dos conservadores na Câmara dos Comuns e que passe a estar inscrito como deputado independente.

Representante da facção radical e brexiteer dos tories, o deputado era, até há cerca de um mês, vice-presidente do Partido Conservador. Apresentou a demissão em meados de Janeiro para poder votar contra uma proposta de lei do executivo sobre o plano para enviar migrantes e requerentes de asilo para o Ruanda, exigindo que fosse mais dura e que desobrigasse o Reino Unido dos compromissos assumidos em tratados de direito humanitário e de acolhimento de refugiados.

Numa mensagem publicada nas redes sociais, Anderson disse que “compreendia a posição difícil” em que o primeiro-ministro Sunak tinha sido colocado por causa das suas declarações e que “aceitava totalmente” a decisão de o suspender.

“Continuarei a apoiar os esforços do Governo para denunciar o extremismo em todas as suas formas – seja o anti-semitismo ou a islamofobia”, acrescentou ainda, sem se retratar.

Em causa estão as declarações que fez na sexta-feira à noite na estação televisiva GB News, uma espécie de Fox News (EUA) britânica, onde o próprio Anderson tem um programa.

“Não acredito que os islamistas já controlem o nosso país, mas acredito que controlam Khan e que controlam Londres”, disse o deputado. “Na verdade, ele [Khan] já entregou a nossa capital aos seus amigos.”

Actuais e antigos dirigentes políticos tories, como o ex-ministro das Finanças e das Saúde, Sajid Javid, criticaram Anderson e o Conselho Muçulmano do Reino Unido disse mesmo que “o Partido Conservador tem um problema de islamofobia”.

Este sábado à tarde, Sadiq Khan catalogou as declarações de Anderson como “islamofóbicas, anti-muçulmanos e racistas” e disse que apenas contribuíam para “deitar gasolina na fogueira do ódio anti-muçulmano”.

Citada pelo Guardian, antes de ser anunciada a suspensão, numa referência aos protestos na capital contra a operação militar israelita na Faixa de Gaza, uma fonte do Partido Conservador disse que “Lee estava simplesmente a argumentar que o mayor, na sua capacidade de comissário da polícia e do crime de Londres, falhou abjectamente em controlar as terríveis marchas islamistas que vimos em Londres recentemente”.

Constantemente envolto em polémicas, Lee Anderson chegou a defender o regresso da pena de morte ao Reino Unido; a dizer que a solução para o aumento do número de travessias no canal da Mancha era “mandá-los de volta”; e a apelar ao boicote dos jogos da selecção masculina de futebol de Inglaterra em protesto contra a decisão dos jogadores se ajoelharam, numa manifestação simbólica contra o racismo.

A sua “promoção” a vice-presidente do partido, em Fevereiro do ano passado, foi vista como uma cedência de Sunak à facção radical do partido, considerada fundamental para manter os deputados que Boris Johnson ajudou a eleger nos antigos bastiões operários do Centro e Norte de Inglaterra, que, depois de votarem no Labour durante décadas, apoiaram o “Brexit” no referendo de 2016 e os conservadores nas eleições de 2019.

Há quase 15 anos no poder, o Partido Conservador corre sérios riscos, segundo as sondagens, de ser derrotado pelo Partido Trabalhista nas próximas eleições legislativas, que terão de se realizar até Janeiro de 2025.

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