Conservadores suspendem deputado que disse que o mayor de Londres é controlado por “islamistas”
Anderson era até há bem pouco tempo vice-presidente do Partido Conservador. Sadiq Khan, presidente da câmara da capital britânica, acusa-o de acicatar “ódio-antimuçulmano”.
O Partido Conservador suspendeu este sábado o deputado Lee Anderson, depois de este ter “recusado pedir desculpa” por ter afirmado na sexta-feira que Sadiq Khan, presidente da câmara de Londres, do Partido Trabalhista, era “controlado” por “islamistas”.
A suspensão, anunciada por um porta-voz do Governo de Rishi Sunak, implica que Anderson deixe de fazer parte da bancada parlamentar dos conservadores na Câmara dos Comuns e que passe a estar inscrito como deputado independente.
Representante da facção radical e brexiteer dos tories, o deputado era, até há cerca de um mês, vice-presidente do Partido Conservador. Apresentou a demissão em meados de Janeiro para poder votar contra uma proposta de lei do executivo sobre o plano para enviar migrantes e requerentes de asilo para o Ruanda, exigindo que fosse mais dura e que desobrigasse o Reino Unido dos compromissos assumidos em tratados de direito humanitário e de acolhimento de refugiados.
Numa mensagem publicada nas redes sociais, Anderson disse que “compreendia a posição difícil” em que o primeiro-ministro Sunak tinha sido colocado por causa das suas declarações e que “aceitava totalmente” a decisão de o suspender.
“Continuarei a apoiar os esforços do Governo para denunciar o extremismo em todas as suas formas – seja o anti-semitismo ou a islamofobia”, acrescentou ainda, sem se retratar.
Em causa estão as declarações que fez na sexta-feira à noite na estação televisiva GB News, uma espécie de Fox News (EUA) britânica, onde o próprio Anderson tem um programa.
Lee Anderson MP said:
— Lee Anderson MP (@LeeAndersonMP_) February 24, 2024
"Following a call with the Chief Whip, I understand the difficult position that I have put both he and the Prime Minister in with regard to my comments.
"I fully accept that they had no option but to suspend the whip in these circumstances.
"However, I…
“Não acredito que os islamistas já controlem o nosso país, mas acredito que controlam Khan e que controlam Londres”, disse o deputado. “Na verdade, ele [Khan] já entregou a nossa capital aos seus amigos.”
Actuais e antigos dirigentes políticos tories, como o ex-ministro das Finanças e das Saúde, Sajid Javid, criticaram Anderson e o Conselho Muçulmano do Reino Unido disse mesmo que “o Partido Conservador tem um problema de islamofobia”.
Este sábado à tarde, Sadiq Khan catalogou as declarações de Anderson como “islamofóbicas, anti-muçulmanos e racistas” e disse que apenas contribuíam para “deitar gasolina na fogueira do ódio anti-muçulmano”.
Citada pelo Guardian, antes de ser anunciada a suspensão, numa referência aos protestos na capital contra a operação militar israelita na Faixa de Gaza, uma fonte do Partido Conservador disse que “Lee estava simplesmente a argumentar que o mayor, na sua capacidade de comissário da polícia e do crime de Londres, falhou abjectamente em controlar as terríveis marchas islamistas que vimos em Londres recentemente”.
Constantemente envolto em polémicas, Lee Anderson chegou a defender o regresso da pena de morte ao Reino Unido; a dizer que a solução para o aumento do número de travessias no canal da Mancha era “mandá-los de volta”; e a apelar ao boicote dos jogos da selecção masculina de futebol de Inglaterra em protesto contra a decisão dos jogadores se ajoelharam, numa manifestação simbólica contra o racismo.
A sua “promoção” a vice-presidente do partido, em Fevereiro do ano passado, foi vista como uma cedência de Sunak à facção radical do partido, considerada fundamental para manter os deputados que Boris Johnson ajudou a eleger nos antigos bastiões operários do Centro e Norte de Inglaterra, que, depois de votarem no Labour durante décadas, apoiaram o “Brexit” no referendo de 2016 e os conservadores nas eleições de 2019.
Há quase 15 anos no poder, o Partido Conservador corre sérios riscos, segundo as sondagens, de ser derrotado pelo Partido Trabalhista nas próximas eleições legislativas, que terão de se realizar até Janeiro de 2025.