Netanyahu apresenta ao Governo plano para o pós-guerra em Gaza
Plano, que será ainda discutido pelo Governo israelita, diz que reconstrução só começará depois da desmilitarização total.
O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, apresentou ao seu Governo um plano para o pós-guerra na Faixa de Gaza, que inclui a continuação de potenciais operações militares de Israel e que condiciona a reconstrução à desmilitarização total do território.
Não houve ainda reacções de dentro do Governo ao plano de Netanyahu apresentado na quinta-feira à noite, ou seja, sublinha o Haaretz, “quatro meses e meio depois do início da guerra Israel-Hamas”, apesar da “intensa pressão internacional e interna” para que isso aconteça. O plano tem algumas semelhanças com outro apresentado no início de Janeiro pelo seu ministro da Defesa, Yoav Gallant, e que foi criticado pelos membros extremistas do Governo por não prever uma presença civil, ou seja, um regresso dos colonatos judaicos que foram retirados do território em 2005.
Segundo o Haaretz, o documento mantém os objectivos de curto prazo da guerra, a destruição das capacidades militares e de infra-estrutura governamental do Hamas (e também da Jihad Islâmica), a libertação dos reféns no território e o impedir qualquer ameaça a Israel que venha do território no futuro.
No médio prazo, o plano prevê que Israel mantenha liberdade de operação militar em Gaza, que seja estabelecida uma zona-tampão, e que haja um controlo da fronteira com o Egipto, diz o Haaretz, enquanto a Reuters fala mesmo numa “presença” na fronteira. O Egipto já manifestou, anteriormente, reservas a esta potencial presença militar.
A proposta prevê também que a administração no território e a responsabilidade pela ordem pública seja “baseada em profissionais com experiência de gestão”, de acordo com o Haaretz, num eco da proposta anterior de Gallant.
Estas pessoas deverão ser, diz a proposta actual, “responsáveis locais que não podem estar identificados com Estados ou organizações que apoiem o terrorismo e não podem receber salários destes”.
O plano pede ainda o fim da agência da ONU que dá apoio a refugiados palestinianos, a UNRWA, dizendo que esta deverá ser substituída por outra organização internacional. Israel acusa funcionários da UNRWA de terem tido ligações ao ataque de 7 de Outubro. A ONU nomeou uma comissão independente liderada pela antiga ministra dos Negócios Estrangeiros de França Catherine Colonna, que prometeu um relatório interino até ao fim de Março e conclusões no final de Abril. As acusações levaram vários países essenciais para o funcionamento da agência a suspender o financiamento.
O documento diz ainda que Israel irá manter controlo de segurança em todo o território a ocidente da Jordânia, incluindo a Cisjordânia ocupada e também a Faixa de Gaza, territórios onde os palestinianos querem um futuro Estado.
Entre os objectivos de longo prazo do plano estão também a rejeição do “reconhecimento unilateral de um Estado palestiniano” e de “diktats internacionais”, uma rejeição que o seu Governo já tinha aprovado por unanimidade depois de ser público que haveria, em breve, uma proposta dos EUA nesse sentido. O Governo levou também uma proposta dessa recusa ao Parlamento, que a aprovou.
Do lado palestiniano, o porta-voz da presidência da Autoridade Palestiniana, Nabil Abu Rudeinah, disse que o plano não tinha hipótese de ter sucesso, como não teria nenhum que alterasse a realidade geográfica e demográfica de Gaza, cita a Reuters. “Se o mundo estiver genuinamente interessado em ter segurança e estabilidade na região, tem de terminar com a ocupação israelita do território palestiniano e reconhecer um Estado palestiniano independente com Jerusalém como capital”, declarou.
O ministério dos Negócios Estrangeiros fez um comunicado dizendo que o plano é “uma declaração formal do regresso da ocupação à Faixa de Gaza, e uma tentativa de ganhar mais tempo para concretizar o plano de expulsão”.