Uma baleia encalhada permite ver bem de perto um dos gigantes do mar

Uma baleia-comum deu à costa sem vida numa praia em Oregon, nos Estados Unidos da América. A espécie vai decompor-se naturalmente na praia e tem atraído muitos visitantes curiosos.

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A baleia-comum deu à costa sem vida, no Oregon Tiffany Boothe / Seaside Aquarium
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Uma baleia-comum-macho adolescente deu à costa em Sunset Beach, em Warrenton, Oregon (EUA), na semana passada, enredada numa corda e já sem vida. Tornou-se rapidamente uma atracção local, que levou pessoas à praia para um raro e educativo avistamento de um dos gigantes da Terra.

“Quase se sente que temos uma interacção humana com elas quando olhamos para os seus olhos”, disse Boothe, que fazia parte de um grupo que respondeu ao encalhe da baleia. “Parecem-se tanto com os olhos humanos. De certa forma, sentimos essa presença por trás deles”, confessou.

A forma como a baleia emaciada morreu está a ser investigada. As equipas locais da Rede de Encalhes de Mamíferos Marinhos da Costa Oeste da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica efectuaram uma necropsia e aguardam os resultados. Nem as feridas causadas pela corda, nem algumas mordeduras recentes de orca pareciam suficientemente graves para causar a sua morte, explicou Boothe ao The Washington Post, levando os cientistas a acreditar que a baleia tinha uma condição subjacente antes de ficar enredada.

A baleia vai ser deixada na praia para se decompor naturalmente, um processo que pode demorar até um ano. No entanto, os seus ossos devem ser provavelmente enterrados pela areia antes disso, disse Boothe, director adjunto do Seaside Aquarium, no Noroeste do estado do Oregon, que faz parte da rede de arrojamentos.

Por enquanto, os responsáveis pelo encalhe estão a encorajar as pessoas a irem “dar uma vista de olhos”. “É uma óptima oportunidade para nos aproximarmos desta grande baleia. É difícil colocar em perspectiva o tamanho real destes animais”, disse Boothe. “Para muitas pessoas, é uma experiência única na vida”.

As baleias-comuns

As baleias-comuns são a segunda maior espécie de baleia, apenas mais pequena do que as baleias-azuis. Nadadoras rápidas que podem comer duas toneladas de comida por dia, crescem até cerca de 26 metros de comprimento, pesam 40 a 80 toneladas e vivem 80 a 90 anos, de acordo com a National Oceanic Atmospheric Administration (NOAA) dos EUA. Relativamente elegantes e magras, o nome que lhes foi dado deve-se à sua barbatana dorsal.

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Baleia ainda não era adulta e media mais de 14 metros de comprimento Tiffany Boothe/Seaside Aquarium

Esta espécie migratória está em perigo de extinção, tendo a sua população sido reduzida pela caça à baleia na década de 1900, embora tenha registado uma recuperação. Cerca de 8000 baleias-comuns vivem ao largo da costa, em águas mais profundas, e a sua população é mais pequena do que a de outras baleias de grande porte, o que faz com que não seja comum avistá-las na costa Oeste dos EUA. Os avistamentos de baleias-comuns são mais raros do que os de baleias-cinzentas e jubartes.

Os encalhes são também mais raros — a constituição corporal das baleias-comuns significa que têm menos probabilidades de flutuar do que as outras baleias e, por isso, tendem a afundar-se em vez de dar à costa quando morrem, esclareceu Boothe. Esta foi a segunda baleia-comum encalhada no Oregon em cerca de 30 anos, afirmou. A baleia deu à costa a meio de um troço de 27 quilómetros de costa, numa zona em que é permitido conduzir veículos na praia.

A espécie tem estado a “criar uma grande agitação aqui”, revelou Boothe, com pessoas “muito, muito interessadas” em ver a baleia. Os visitantes devem manter uma distância de precaução, uma vez que a baleia pode ser portadora de doenças transmissíveis a humanos e animais de estimação. Além disso, também se devem preparar para o cheiro. “Se nunca cheirou uma baleia morta, é difícil de explicar. O cheiro é muito mau”, disse Boothe.

O olho da baleia encalhada Tiffany Boothe/Seaside Aquarium)
Tiffany Boothe/Seaside Aquarium)
Tiffany Boothe/Seaside Aquarium)
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O olho da baleia encalhada Tiffany Boothe/Seaside Aquarium)

Seria uma tarefa difícil isolar a grande área da praia, pelo que a rede de arrojamentos está a contar com o público para deixar a baleia intacta, explicou Boothe. De acordo com a Lei das Espécies Ameaçadas de Extinção, é ilegal recolher qualquer parte de um exemplar de uma dessas espécies. Os responsáveis pelo encalhe esperam que os ossos da baleia sejam levados para o mar ou fiquem cobertos de areia, mas poderão intervir mais tarde para impedir o roubo, garantiu.

Boothe explicou que deixar a baleia intacta é o melhor a fazer para o ecossistema. Desta forma, a baleia vai fornecer um “enorme impulso de nutrientes” aos animais que dela se alimentam, tais como águias-carecas e abutres ou pequenos invertebrados.

As baleias encalhadas também podem ser rebocadas para o mar ou enterradas, dependendo da situação, disse Michael Milstein, o porta-voz da NOAA. Deixar a carcaça decompor-se significa que “essencialmente volta de novo ao ecossistema ao longo do tempo”. “O ecossistema está a funcionar como deveria”, assegurou Michael.

O varadouro improvisado representa igualmente uma oportunidade científica. Embora seja mais comum as baleias-cinzentas ou as baleias-corcundas aparecerem nas praias, apenas duas ou três baleias-comuns são normalmente vistas na costa ocidental todos os anos, disse Milstein. Em Dezembro, uma baleia-comum deu à costa em San Diego, provavelmente vítima de um ataque de orca.

As próximas etapas

Com a morte recente da baleia do Oregon, os biólogos que responderam ao encalhe na semana passada puderam recolher boas amostras do tecido, músculo, barbatana, coração, pulmão, estômago e gânglios linfáticos do animal, que podem ser usados para estudos científicos. A baleia não estava totalmente crescida, tendo atingido apenas 14 metros de comprimento.

Além de determinar o que matou a baleia, os cientistas vão examinar o conteúdo do estômago, os padrões genéticos e outros atributos que podem indicar como a população está a mudar, esclareceu Milstein. Actualmente, tal como outras baleias, as baleias-comuns correm o risco de serem atingidas por navios, apanhadas por artes de pesca ou afectadas pela alteração das condições do oceano.

“Ao ver qualquer tipo de [baleia] de perto, percebe-se realmente por que razão é importante manter o nosso ambiente oceânico saudável e seguro”, defendeu Boothe. “Seria bom se as pessoas vissem esta baleia e tivessem uma ideia melhor do lixo que vai para o ambiente marinho. E talvez, enquanto estão a olhar para a baleia, pudessem apanhar algum lixo da praia.”

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