Boeing demite responsável pelo programa dos aviões 737 MAX

Ed Clarke trabalhava na Boeing há 18 anos, liderava o programa 737 MAX há três e foi demitido na sequência da queda de uma porta em voo. Substituta será o sexto director em sete anos.

Foto
A Boeing tem-se esforçado por explicar e reforçar os procedimentos de segurança depois de um painel de uma porta se ter soltado durante um voo da Alaska Airlines Reuters/JASON REDMOND
Ouça este artigo
00:00
03:54

Exclusivo Gostaria de Ouvir? Assine já

A Boeing anunciou esta quarta-feira, 21 de Fevereiro, que vai substituir o director do problemático programa 737 MAX com efeitos imediatos. É a primeira grande saída de executivos desde a explosão de um painel de uma porta num voo da Alaska Airlines com um avião deste modelo, a 5 de Janeiro.

Ed Clark, que trabalhava neste fabricante de aviões há quase 18 anos, sai da empresa num momento em que a Boeing está a gerir a sua mais recente crise e tem prometido reforçar os esforços de qualidade. Vai ser substituído por Katie Ringgold nos cargos de vice-presidente e directora-geral do programa 737. O anúncio consta num memorando, avançado pelo The Seattle Times e consultado pela Reuters, enviado aos funcionários pelo director-geral da Boeing Commercial Airplanes, Stan Deal.

O memorando também listava outras mudanças de gestão, incluindo a criação de um cargo de vice-presidente sénior para a qualidade e segurança: Elizabeth Lund foi nomeada para o novo cargo de vice-presidente sénior da Boeing Commercial Airlines Quality, liderando os esforços de controlo de qualidade e garantia de qualidade. Mike Fleming suceder-lhe-á como vice-presidente sénior e director-geral, programas de aviões. Continuará também a dirigir a equipa de apoio ao cliente da Boeing.

A produção deste construtor de aviões tem sido restringida pelas entidades reguladoras e analisada de perto por legisladores e clientes. O memorando de Deal que anuncia a mudança adianta que a Boeing estava a trabalhar para garantir “que cada avião que entrega cumpra ou exceda todos os requisitos de qualidade e segurança”.

A Boeing tem-se esforçado por explicar e reforçar os procedimentos de segurança depois de um painel de uma porta se ter soltado durante o voo da Alaska Airlines com um novo 37 MAX 9, obrigando os pilotos a fazer uma aterragem de emergência, enquanto os passageiros ficavam expostos a um buraco aberto a 16 mil pés acima do solo.

O conselho de administração da Boeing reuniu-se esta semana e aprovou as mudanças de direcção, segundo fontes familiarizadas com o assunto. Clark supervisionou a unidade de produção em Renton, Washington, onde o avião envolvido no acidente foi concluído. Anteriormente um mecânico-chefe e engenheiro do 737, Clark foi nomeado chefe do programa em 2021, a quinta pessoa em quatro anos a executá-lo.

“Despedir o chefe do programa MAX era provavelmente uma questão de tempo, mas não creio que signifique muito”, disse Richard Aboulafia, director-geral da consultora aeroespacial AeroDynamic Advisory e um crítico da Boeing. “Os problemas da empresa são uma questão de cultura interna, com o tom a ser definido a partir do topo”, observou.

David Nolletti, chefe da prática aeroespacial da empresa de consultoria de serviços Riveron, com sede em Nova Iorque, disse que a mudança afectaria a forma como o programa é gerido e poderia sinalizar mais mudanças. “Não se trata apenas de uma figura de proa”, disse Nolletti. “Acho que veremos mais mudanças na Boeing à medida que avaliarem a sua posição e o desempenho dos seus programas”, declarou.

O último acidente é a segunda grande crise da Boeing nos últimos anos, depois de acidentes em 2018 e 2019 com aviões MAX que mataram 346 pessoas. Isso levou a uma paralisação do 737 MAX por 20 meses e obrigou a Boeing a trabalhar para reconstruir sua reputação.

Executivos do sector de companhias aéreas expressaram dúvidas quanto ao controlo de qualidade da Boeing. A francesa Airbus, o outro grande fabricante de aviões comerciais, relatou no mês passado um recorde de pedidos anuais de aviões e confirmou um aumento de 11% nas entregas de 2023, mantendo o primeiro lugar de fabricação contra a Boeing pelo quinto ano.

O CEO da Boeing, Dave Calhoun, planeia reunir-se com o chefe da Administração Federal da Aviação (FAA), Mike Whitaker, na próxima semana, depois de o regulador da aviação dos EUA ter viajado para Renton para visitar a fábrica do Boeing 737. A FAA afirmou que Whitaker “irá falar sobre o que observou durante a sua visita à Boeing com os executivos da empresa, quando estes se deslocarem a Washington para abordar” o controlo de qualidade e outras questões.