David Jack, o cientista que nos deu o Ventilan

A investigação farmacológica de David Jack permite que hoje milhões de pessoas com asma brônquica tenham a doença controlada. Faria 100 anos esta quinta-feira.

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David Jack, e a sua mulher, numa homenagem na Universidade de Glasgow em 2000 DR
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As efemérides são importantes, relembrando o passado e as marcas que nos deixaram a nível pessoal e colectivo. Relembrar Sir David Jack (1924-2011), que faria 100 anos a 22 de Fevereiro, é homenagear um cientista cujo nome não será muito conhecido, mas cuja acção na investigação farmacológica permite a milhões de pessoas com asma brônquica ter uma vida normal com a sua doença controlada.

Se o seu nome não será muito conhecido entre nós, o do Ventilan inalador, é vulgar em todo o mundo.

Nascido numa pequena aldeia escocesa, o sexto filho de um mineiro de carvão e uma trabalhadora têxtil, David Jack faz uma formação para farmacêutico que depois se vai aprofundando na farmacologia. Não seguindo a carreira académica, que lhe foi proposta dadas as suas evidentes capacidades de investigador, entra para a empresa farmacêutica Glaxo em 1951. Dez anos depois muda-se para uma empresa subsidiária, Allen & Hanburys, onde continua os trabalhos de investigação farmacológica, à frente de uma grande equipa. Numa reformulação da empresa volta mais tarde a integrar a Glaxo (actualmente GSK).

Mudou a vida de milhões de pessoas com asma

O seu interesse por doenças comuns na comunidade leva-o para a investigação de uma evolução para o tratamento da asma brônquica, muito limitado na altura, sendo a isoprenalina uma substância para inalação, de efeito rápido, mas fugaz e com graves efeitos secundários cardiovasculares. A evolução do trabalho de síntese farmacológica leva, em 1966, à descoberta do salbutamol, que três anos depois é lançado no mercado com o nome de Ventolin (em Portugal surge em 1975 com o nome de Ventilan). Basta dizer que passados estes anos todos, o salbutamol continua a ser utilizado e que mudou a perspectiva de vida a milhões de pessoas!

Os corticóides, potentes anti-inflamatórios, eram usados também nas crises de asma, mas com efeitos secundários limitativos. No laboratório tinha sido lançado um corticóide de acção tópica para a pele – a beclometasona: é também David Jack a concretizar a utilização desta substância, na forma de inalador, para acção directa na árvore brônquica. Surge o primeiro corticóide inalado (no nosso país com o nome de Beclotaide) e a capacidade de estabilizar a doença, prevenir significativamente as crises, muda completamente para melhor. Alguns anos depois, no seguimento da investigação, é a mesma equipa que sintetiza a fluticasona, um dos mais usados corticóides inalados.

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David Jack no jardim da sua casa DR

E se o salbutamol, muito útil, tinha um início rápido de acção, mas durando três a quatro horas apenas, a investigação leva-o à descoberta do salmeterol (com 12 horas de acção) e um novo e importante passo foi dado para o tratamento e controlo da asma brônquica.

Simultaneamente outras substâncias foram descobertas por outras equipas de importantes laboratórios farmacêuticos e que são parte integrante de todo o armamentário terapêutico de que dispomos. Mas em cada um destes passos, David Jack e a sua equipa deram os primeiros e decisivos passos.

David Jack e James Black

Para além dos trabalhos na área respiratória, por volta de 1970 o tratamento da úlcera duodenal – que era na altura, sem tratamentos eficazes, altamente prevalente e causa sofrimento marcado, hemorragias digestivas, internamentos – teve um ponto de viragem com a descoberta da cimetidina por James Black, que foi prémio Nobel da Medicina em 1988 e curiosamente nasceu no mesmo ano que David Jack, e numa aldeia vizinha. Continuando investigação nesta área, pois a cimetidina tinha limitações significativas, David Jack e a sua equipa sintetiza a ranitidina em 1981, outra substância que teve uma importância enorme a nível mundial.

Já posterior, também sob orientação de David Jack, é o registo da descoberta do sumatriptan – para o tratamento da enxaqueca – e da descoberta do ondansetron – antiemético com uso relevante como complementar na quimioterapia.

Todo o trabalho de investigação farmacológica é importante para a melhoria de vida da comunidade, para encontrar medicamentos que permitam tratar as diversas doenças e reduzir o sofrimento humano e prolongar as vidas com qualidade e consequente felicidade.

A 22 de Fevereiro faz 100 anos que nasceu um homem que pôde contribuir directamente para a melhoria de qualidade de vida de milhões de pessoas.

Pneumologista

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