Foi aprovada a primeira banana geneticamente modificada no mundo

Austrália e Nova Zelândia deram luz verde às primeiras bananas geneticamente modificadas. As bananas são quase imunes ao fungo mal-do-panamá e esperam autorização para poderem ser consumidas.

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Bananas QCAV-4 são a primeira fruta geneticamente modificada no mundo Fabrizio Bensch / Reuters
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Pode parecer uma coisa estranha ou do futuro, mas já existem bananas geneticamente alteradas aptas para consumo e perto de serem comercializadas. Mas com uma ressalva: para já, é preciso aguardar 60 dias para que os ministros da alimentação da Austrália e da Nova Zelândia considerem a aprovação de consumo.

A Food Standards Australia New Zealand (FSANZ) aprovou o pedido feito pela Universidade de Tecnologia de Queensland para permitir alimentos derivados da linha de bananas geneticamente modificadas, de modo a resistir ao mal-do-panamá, que afecta as bananas. As primeiras bananas geneticamente modificadas são denominadas por QCAV-4.

Segundo os investigadores, a nova variedade de banana é o primeiro fruto geneticamente modificado a ser avaliado e aprovado pela FSANZ e a primeira banana (GM) aprovada no mundo.

A FSANZ desenvolve “padrões que regulamentam o uso de ingredientes, auxiliares de processamento, corantes, aditivos, vitaminas e minerais, a composição de alguns alimentos e alimentos desenvolvidos por novas tecnologias”, é explicado na página no departamento de saúde e envelhecimento, no site do Governo australiano.

A entidade australiana notificou os ministros da decisão a 16 de Fevereiro deste ano, e, caso o prazo de aprovação de 60 dias não seja cumprido e não seja solicitada uma revisão, o código de normas alimentares da Austrália e Nova Zelândia vai ser alterado para permitir a venda e utilização de produtos derivados da banana geneticamente modificada.

O mal-do-panamá

O mal-do-panamá (Fusarium oxysporum cubense – TR4, na sigla em inglês) é um fungo que, nos últimos anos, colocou em risco a sobrevivência das bananas Cavendish, que são o tipo de bananas mais consumido, em todo o mundo.

O fungo patogénico é transmitido pelo solo e ataca as raízes das bananeiras, fazendo com que as bananas murchem através da obstrução do sistema vascular, é explicado na ABC News, fonte de informação australiana, e na página da FSANZ. Até ao momento, não existe cura ou tratamento para esta doença fúngica.

“Os cientistas utilizaram um gene de uma banana selvagem que é quase imune à TR4 e colocaram-no numa variedade Cavendish”, esclarece a ABC. Desta forma, foi possível criar as bananas geneticamente modificadas. De acordo com a ABC News, “a banana geneticamente modificada foi desenvolvida como uma reserva para o sector [de bananas] em caso de aparecimento do Panamá TR4, mas não substituirá a variedade Cavendish”, é assegurado.

A Universidade de Queensland explicou que a banana GM será utilizada como uma solução de “rede de segurança”, no caso de a doença afectar de forma agressiva as explorações de bananas australianas.

A espera pela aprovação

Em Maio do ano passado, o The Guardian noticiou o envio do pedido de aprovação da produção de bananas geneticamente modificadas.

Com recurso a seis variedades transgénicas de banana, James Dale, professor universitário na Universidade de Queensland e líder do projecto de biotecnologia sobre as bananas, e a restante equipa de investigadores iniciaram ensaios de campo a sudeste de Darwin em 2012, e relatavam bons resultados.

“Fizemos um teste de campo muito, muito maior, que plantámos em 2018 e que ainda está em andamento”, disse James Dale. “Uma variedade, agora chamada QCAV-4, apresentou uma taxa de infecção de 2%, após quatro anos”, explicou ao diário britânico.

Agora, as bananas QCAV-4 foram aprovadas pela FSANZ e aguardam a decisão dos ministros da alimentação, no sentido de estarem disponíveis para eventual consumo.

As bananas geneticamente modificadas são seguras?

Dale James afirma que “não há nada de assustador”, tendo em conta que o gene transferido da banana Cavendish para a banana GM “já estava presente na Cavendish, só que não funciona”. Deste modo, a solução foi “colocar numa versão em que funciona”.

Apesar de os cientistas afirmarem que é seguro consumir o novo tipo de bananas, para já, vão ser apenas consideradas como “opção de reserva” no combate contra a TR4, uma vez que são quase imunes à enfermidade. Dale James diz que, para já, a doença-do-panamá “está bem controlada”, mas que “isso pode mudar” e, por isso, são uma “rede de segurança”.

De acordo com a avaliação da FSANZ, os alimentos derivados de linha de bananas QCAV-4 são “tão seguros e nutritivos” como os das bananas convencionais. A avaliação teve em conta factores como “a modificação genética, as potenciais alterações não intencionais, o teor de nutrientes em comparação com as bananas convencionais e a potencial alergenicidade ou toxicidade”, lê-se no site.

Além disso, a FSANZ procurou obter uma licença pelo Gene Technology Regulator (GTR) para o cultivo comercial da banana, que foi feita e aprovada pela entidade, lê-se na página do departamento do Governo australiano.

Quando vão ser vendidas para consumo?

Já em Maio, ao The Guardian, James Dale frisou que, se as bananas geneticamente modificadas fossem aprovadas, não iriam ser imediatamente disponibilizadas para consumo ou comércio.

No que diz respeito ao território australiano, se forem cultivados, os alimentos derivados das bananas GM estariam disponíveis para consumo no país principalmente como fruta fresca, diz a autoridade FSANZ. Também poderá ser utilizada em alimentos processados, como banana seca ou congelada, polpa de banana e outras adaptações.

Relativamente à Nova Zelândia, a Autoridade de Protecção Ambiental (EPA) afirmou que as empresas do sector alimentar que pretenderem exportar ou importar as bananas têm de consultar a entidade.

Os próximos passos

O investigador James Dale diz que a equipa vai também dedicar atenção à criação de uma versão geneticamente modificada do QCAV-4 que seja resistente a outras doenças. “A edição de genes é muito menos preocupante, particularmente para os reguladores e consumidores, pelo que essa é a próxima fase, uma versão com edição de genes”, confirma.

O cientista adianta que o objectivo é, igualmente, desenvolver uma versão da banana Cavendish resistente à sigatoka-negra, um fungo que é “a maior doença do mundo, para além da TR4, que infecta as folhas [das bananeiras]”. A sigatoka-negra é considerada a principal doença que afecta e destrói as bananeiras.

Numa perspectiva futura, os cientistas esperam ao mesmo tempo que as bananas sejam capazes de se adaptar “do ponto de vista climático”, relata a ABC. Dale diz que “a edição de genes vai ajudar a preparar alimentos como bananas para o futuro, permitindo aos cientistas criar variedades que possam lidar com diferentes ameaças e condições”.

Texto editado por Andrea Cunha Freitas