Polícias adiam protestos para depois das eleições. Governo ameaça com processos
Ministro da Administração Interna admite avançar com procedimento disciplinar e até criminal. Em causa está manifestação não autorizada junto ao Capitólio, em Lisboa.
A plataforma que junta sindicatos da PSP e associações da GNR elogiou nesta terça-feira a “forma pacífica” como decorreu a concentração junto ao Capitólio, em Lisboa, e anunciou o adiamento do encontro nacional previsto para 2 de Março. Em comunicado, a plataforma explicou que o encontro nacional de polícias foi adiado para o “pós-10 de Março, já num novo quadro político”, garantindo que não irá deixar de “manter acesa a chama da legítima, justa e incontornável reivindicação".
“A plataforma manterá a reivindicação do suplemento de missão, através de acções de luta a outros níveis, sendo ela que marcará a diferença no futuro de todos vós e destas instituições seculares”, pode ler-se na nota divulgada nas redes sociais. No pós-eleições, a plataforma garante que os cidadãos podem “contar com o regresso em força” das reivindicações, alicerçadas “na exigência da reposição de uma das maiores injustiças alguma vez praticada” para com estas forças de segurança.
A plataforma garantiu também que solicitará “uma audiência imediata ao futuro líder do Governo, tendo em vista, como prometido amplamente por todos, a resolução imediata desta desigualdade”. “Que possa constituir o pontapé de saída para a resolução consequente do miserabilismo que se tem instalado em torno das nossas carreiras e que tem afastado as novas gerações de carreiras tão nobres quanto a nossa”, destacam as forças de segurança. No comunicado, divulgado nesta terça-feira à noite, a plataforma congratulou-se com a “elevada adesão” de participantes na iniciativa que decorreu na segunda-feira na Praça do Comércio, em Lisboa.
Este adiamento surge depois de o ministro da Administração Interna, José Luís Carneiro, ter ameaçado avançar com procedimento disciplinar e até "criminal" perante "indícios" de "indisciplina" nas forças de segurança. Esta informação foi avançada na noite desta terça-feira em entrevista à CNN.
Após uma concentração que juntou na Praça do Comércio cerca de 3000 elementos da PSP e da GNR, muitos seguiram para o cineteatro Capitólio, onde decorreu o debate eleitoral entre os líderes do PS e do PSD, numa marcha que não foi autorizada.
O director nacional da PSP determinou nesta terça-feira a realização de um inquérito interno sobre as circunstâncias do protesto de agentes daquela polícia junto ao cineteatro Capitólio, depois de a Direcção Nacional ter anunciado na segunda-feira que enviou uma participação ao Ministério Público (MP) para averiguação sobre aquela acção.
Sobre esta iniciativa, a plataforma sublinhou que, apesar de não ter sido organizada, deve ser enaltecida “a forma pacífica como decorreu a deslocação, sem qualquer registo de episódios que possam manchar a imagem e profissionalismo dos seus participantes, que, mais uma vez, fizeram-se ouvir com sobriedade e elevação”.
Os elementos da PSP e da GNR estão em protesto há mais de um mês para exigir um suplemento idêntico ao atribuído à Polícia Judiciária.
Esta plataforma, constituída a 6 de Dezembro de 2023, salientou também “em jeito de balanço” que os profissionais da GNR e PSP devem ser “reconhecidos pela forma exemplar como têm conseguido reivindicar os seus legítimos direitos, sem lesarem, em nenhuma circunstância, o Estado de direito democrático”.
“Ninguém pode ficar indiferente à correcção e dimensão das grandes manifestações de Lisboa e Porto, que espelham bem a unidade histórica destes profissionais, das nossas pessoas e camaradas”, pode ler-se ainda.