Cuidar de três cães quando se vive numa tenda numa praia em Gaza complica uma situação que já é difícil, mas o sorriso no rosto de Hassan Abu Saman quando acaricia os animais mostra que vale a pena.
Apaixonado por cães desde criança, tinha 16 animais antes de a guerra entre Israel e o Hamas, que devastou a Faixa de Gaza, eclodir. Quando foi obrigado a fugir da casa onde vivia no campo de refugiados de Al-Nuseirat, no centro de Gaza, só conseguiu levar três: Mofaz, Lucy e Dahab.
"Quando as coisas se acalmaram, consegui arranjar um carro para ir buscar os outros, mas quando regressei, não encontrei nenhum. Perderam-se. Voltei uma segunda vez para os procurar e encontrei a casa bombardeada", recorda o jovem de 17 anos.
É um de cerca de 1,5 milhões de palestinianos que se amontoam em Rafah, no Sul de Gaza, perto da fronteira com o Egipto, para escapar à ofensiva militar israelita — apesar de o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu ter dito que planeava uma ofensiva terrestre nessa mesma zona.
Agora vive num acampamento de tendas instalado numa praia nos arredores da cidade com a família e os três cães, que o seguem para onde quer que vá. Os animais são adorados pelas crianças que se revezam para lhes fazerem festas.
Hassan diz que são "amigos de outra espécie" e fala deles como se falasse de pessoas. "O Mofaz tem-se sentido muito em baixo por causa da guerra", afirma referindo-se ao cão maior.
E como ter comida suficiente é um problema tanto para os cães como para os humanos, Hassan diz que Lucy e Dahab perderam peso. Segundo o jovem, os animais estavam habituados a um tipo especial de ração que já não encontra à venda.
Com os combates, reconhece que o seu futuro, o da família e o dos seus queridos animais de companhia é incerto. "Se voltássemos, encontrávamos a casa destruída. Ele [Mofaz] já não tem casa nem nada", explica enquanto dá mimos ao cão.
O conflito entre Israel e Palestina eclodiu no dia 7 de Outubro quando os militantes do Hamas atacaram o Sul de Israel. Segundo o Governo israelita, morreram 1200 pessoas e 253 foram feitas reféns.
Desde então, Israel tem respondido com sucessivos ataques aéreos e terrestres a Gaza que, segundo as autoridades palestinianas, já mataram mais de 29 mil pessoas e reduziram grande parte do território a escombros.
A par disto, 2,3 milhões de habitantes ficaram sem casa e não têm acesso a comida, água potável ou electricidade.