Depois de conquistar Avdiivka, Rússia intensifica ataques no Sul e no Leste da Ucrânia
Depois da conquista de Avdiivka, as forças russas tentam aproveitar a exaustão e escassez de munições para conseguir avanços territoriais.
No Verão passado, a recuperação da aldeia de Robotine foi um dos primeiros sucessos da contra-ofensiva ucraniana na região de Zaporijjia, no Sul do país. Viria a ser também um dos avanços mais significativos de uma campanha militar que a generalidade dos analistas ocidentais reconhece que correu mal.
Agora, com as munições a escassear e uma tropa exausta de quase dois anos de combates, as Forças Armadas ucranianas tentam resistir ao renovado ímpeto do assédio inimigo. Nos últimos dias, os militares russos intensificaram os ataques junto a Robotine e conseguiram conquistar algum território, ainda que os ucranianos digam que os avanços russos foram pequenos e tiveram resposta pronta.
O Instituto para o Estudo da Guerra, com sede em Washington, diz no seu relatório diário que até terça-feira “não se confirmam” alterações à linha da frente naquela zona específica, mas atesta que a tropa russa está mais activa nesta e noutras áreas. “Os atrasos na assistência ocidental de segurança à Ucrânia estão provavelmente a ajudar a Rússia a lançar operações ofensivas oportunistas”, escrevia há dias o think-tank, alertando: “Estes esforços russos vão provavelmente impedir que as forças ucranianas preparem pessoal e material para novas operações contra-ofensivas, o que sublinha as desvantagens operacionais que a Ucrânia enfrentará se simplesmente passar à defesa durante o resto de 2024, como defendem alguns Estados e analistas ocidentais.”
Depois de terem conquistado Avdiivka, na região de Donetsk, conseguindo a primeira grande vitória territorial em quase um ano, as Forças Armadas russas estão a lançar novos ataques em pelo menos quatro zonas da frente, nas regiões de Donetsk, Lugansk e Zaporijjia. O principal objectivo, acreditam analistas militares, é descobrir vulnerabilidades nas linhas defensivas ucranianas.
Em Robotine há uma vulnerabilidade de peso: a aldeia fica em terreno mais baixo do que as redondezas, controladas pelos russos, e onde estes estão em grande número – 30 ou 40 mil soldados, segundo as contas de Pasi Paroinen, analista de fontes abertas que falou ao The New York Times.
Mais a Norte, outra zona de grande pressão russa é junto a Bakhmut, conquistada à Ucrânia em Maio do ano passado. Chasiv Yar, uma cidade a poucos quilómetros, tem sido bombardeada ininterruptamente e, conta o El País, a tropa russa parece estar a usar o mesmo método de assédio aplicado nas batalhas por Avdiivka, Bakhmut e Kupiansk (esta na região de Kharkiv, ainda mais a Norte). Protegidos por uma capacidade de artilharia superior e por um renovado contingente de drones, pequenos grupos de soldados russos têm feito incursões localizadas junto a Chasiv Yar.
Faz tudo parte do objectivo de “esgotar as munições e as reservas de pessoal” da Ucrânia, de aproveitar o impasse na ajuda ocidental a Kiev para “começar novas operações ofensivas” e, por fim, de usar eventuais ganhos territoriais “para forçar a capitulação [da Ucrânia] nos termos russos”. A análise é de Jack Watling e Nick Reynolds, do instituto de Defesa britânico RUSI, segundo os quais a liderança político-militar russa acredita que “a vitória é alcançável em 2026”.
Nesta quarta-feira, a BBC noticiou que dezenas de soldados russos morreram num ataque ucraniano a uma base militar na região de Donetsk. Os militares estavam em parada, alegadamente à espera de um comandante, quando dois mísseis disparados a partir de um sistema Himars os atingiram.