— A democracia — disse o falecido professor Espinosa — não deve ser absolutamente meiga, deve ter um certo grau de dureza para que subsista. Uma ideia levada ao extremo torna-se absurda, uma caricatura, e sucumbe. Como disse Paracelso, a diferença entre remédio e veneno é a dose, e na vida devemos saber dosear tudo, até as virtudes, uma pessoa não pode ser absolutamente generosa sem cometer excessos perigosos, não podemos ser plenamente condescendentes ou permissivos, não somos máquinas de dizer que sim, sim, senhor, infinitamente gentis e meigos, porque podemos estar a ser complacentes com o torcionário que se aproveita da bondade alheia. Uma democracia demasiado terna é uma democracia que abre as portas à canalha oportunista, ao sujeito escuso capaz da operação alquímica de transformar a ingenuidade popular em ouro para os ricos mais ricos.