Os europeus não se estão a sentir heróicos e é pena

Na falta desse sentimento de heroísmo, há um grupo maioritário de inquiridos que deseja que o conflito acabe com um acordo, o que, dois anos depois, mais do que pessimista, é derrotista.

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Doze países europeus, incluindo Portugal, participaram num novo estudo de opinião sobre o conflito entre a Ucrânia e a Rússia organizado pelo European Council on Foreign Relations e divulgado nesta terça-feira. Principal conclusão: reina o pessimismo quanto a uma solução pacífica e quanto a uma vitória de Kiev.

Dois em cada dez inquiridos acreditam que será a Rússia a vencer a guerra por si iniciada quando invadiu a Ucrânia há quase dois anos (na realidade, a invasão tinha começado muito antes, em 2014, na Península da Crimeia), e só 10% acham que o país gerido por Volodymyr Zelensky ainda pode ganhar. A maior fatia (37%) é a dos que só vêem como saída um acordo entre as partes.

Portugal está no grupo dos optimistas crónicos (mas não muito), com a Suécia e a Polónia. Nestes três países, a ideia de que os ucranianos podem vencer o conflito convence 17% dos inquiridos (uma percentagem superior à média) e também é este trio que se mostra mais disponível para aumentar o nível de ajuda a Kiev em caso de um recuo por parte dos EUA​. Novamente, são estes países, aos quais se junta a França, que mais desejam a manutenção do apoio à Ucrânia, sem grandes pressões para negociar. Na Grécia e na Hungria, pelo contrário, mais de 30% dos inquiridos apontam para uma vitória de Vladimir Putin.

A Europa mostra ter perfeita consciência de que esta é a guerra que pode ter maiores implicações na sua autonomia e na sua segurança, contudo, quase um ano depois de um inquérito idêntico, pioraram as percepções quanto a um desfecho favorável a Kiev, ainda que a guerra fosse longa.

Talvez o receio de uma reeleição de Donald Trump tenha contribuído para esse clima de desesperança, mas os autores do estudo têm uma convicção mais forte: “Os públicos europeus não se sentem heróicos”, escrevem. Na falta desse sentimento de heroísmo, há um grupo maioritário de inquiridos que deseja que o conflito acabe com um acordo, o que, dois anos depois, mais do que pessimista, é derrotista.

Como disse nesta terça-feira João Gomes Cravinho, o ministro dos Negócios Estrangeiros português, “Putin não quer apenas um pedaço de território ucraniano, quer destruir o projecto europeu". E acrescentou: "Aquilo que temos de fazer é dizer [que] não vamos aceitar que esse ditador venha a importunar a Europa.”

É outra forma de dizer que um acordo de paz não será só mau para a Ucrânia. Será mau para todos aqueles que, aos olhos de Vladimir Putin, desafiarem a Rússia.

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