Dívida externa portuguesa cai para valor mais baixo dos últimos 18 anos
Com mais exportações de turismo e menos dívida pública, Portugal regressou aos excedentes e cortou mais 13,2 pontos percentuais do PIB no endividamento que tem face ao exterior.
Com a ajuda da contenção orçamental do Estado e do desempenho muito forte do turismo, Portugal acentuou em 2023 a trajectória descendente dos níveis de endividamento da sua economia face ao estrangeiro que se verifica desde 2014 e que se situa agora já ao nível mais baixo desde 2005.
De acordo com os dados da balança de pagamentos publicados esta terça-feira pelo Banco de Portugal, a economia portuguesa registou, em 2023, um saldo das balanças corrente e de capital positivo de 7243 milhões de euros, um valor equivalente a 2,72% do PIB.
Este excedente nas contas com o exterior segue-se ao défice de 0,2% do PIB registado no ano anterior e faz o país regressar aos excedentes que, antes de 2022, vinha apresentando de forma consecutiva desde 2012. É o resultado mais positivo desde 2013 e o terceiro valor mais alto nas últimas sete décadas, de acordo com os registos apresentados pelo Banco de Portugal.
De igual modo, quando se olha para a dívida externa líquida acumulada pelo país — o valor dos passivos face ao exterior menos os activos —, verifica-se que Portugal acentuou, no ano passado, a tendência de redução de endividamento face ao estrangeiro.
A dívida externa líquida passou de 66,7% do PIB em 2022 para 53,5% em 2023. É uma descida de 13,2 pontos percentuais que supera o recuo de 13 pontos conseguido em 2022 e que passou a ser a maior queda registada neste indicador em toda a série disponibilizada pelo Banco de Portugal e que tem o seu início em 1999.
O actual nível de endividamento externo do país, de 53,5% do PIB, regressou, assim, aos níveis registados há 18 anos e afasta-se de forma clara do máximo de 107,64% que tinha sido atingido em 2014.
Os excedentes externos anuais e a tendência de redução do peso das dívidas de Portugal face ao estrangeiro a que se tem vindo a assistir ao longo da última década são o resultado de uma contracção progressiva, apenas interrompida durante a pandemia, do nível de endividamento suportado tanto pelas famílias, como pelas empresas e pelas administrações públicas.
Inicialmente, na sequência das políticas restritivas impostas pela troika, Portugal passou de défices externos volumosos para excedentes essencialmente por via de uma contracção brusca do consumo das famílias e do investimento, que fez diminuir as importações muito rapidamente.
Mais recentemente, com as importações a crescerem, é mais por via de um crescimento mais forte das exportações — superior aos das importações — que os excedentes externos têm vindo a ser assegurados.
Em 2023, mostram os números publicados esta terça-feira, voltou-se, ao fim de três anos de interrupção devido às limitações ao turismo trazidas pela pandemia, a registar um saldo positivo na balança de bens e serviços, de 1,2% do PIB.
O saldo da balança de bens passou a ser menos negativo (passou de um défice de 10,9% do PIB em 2022 para 9,3% em 2023), ao mesmo tempo que a balança de serviços (onde se incluem as receitas de turismo) se tornou ainda mais excedentária, com um saldo positivo de 10,5%, em vez dos 9% de 2022.
O contributo do turismo foi fulcral para este resultado, já que em 2023 as exportações de viagens e turismo aumentaram 19%, superando o aumento de 14% nas importações e atingindo os valores mais elevados de toda a série. O saldo da balança relativa às viagens e turismo melhorou 3,2 mil milhões de euros face a 2022.
Por sector institucional, foi das administrações públicas que veio o principal contributo para a redução do endividamento face ao exterior. A dívida pública diminuiu (de 112,4% em 2022 para 98,7% em 2023) e isso fez com que a quantidade de Obrigações do Tesouro e Bilhetes do Tesouro detidos por estrangeiros diminuísse de forma muito significativa (foram menos 9,1 mil milhões de euros em 2023 do que em 2022).